"E tu ó Salário, porque é que não cresces!? todos os teus amigos, o Combustivel, o Pão e o Bife já estão bem crescidos agora"
"Marx n’O Capital, coloca nos seguintes termos o discurso do trabalhador que «subitamente» toma a palavra «quando estava emudecido no turbilhão do processo produtivo»: «tu e eu só conhecemos, no mercado, uma lei, a da troca de mercadorias. E o consumo da mercadoria não pertence ao vendedor que a aliena, mas ao comprador que a adquire. Pertence-te, assim, a utilização da minha força diária de trabalho. Mas, por meio do seu preço diário de venda, tenho de reproduzi-la para poder vendê-la de novo (…) preciso ter amanhã, para trabalhar, a força, a saúde, a disposição normal que possuo hoje. Estás continuamente a pregar-me o evangelho da parcimónia e da abstinência. Muito bem: quero gerir o meu único património, a força de trabalho, como um administrador racional, parcimonioso, abstendo-me de qualquer gasto desarrazoado (…) sem fazer apelo ao teu coração, que quando se trata de dinheiro não há lugar para bondade».
O humor de Marx é conhecido, mas esta passagem é, por inteiro, para levar a sério: este é o ponto de partida de todo o trajecto de luta que levará à revolução e ao socialismo, mas ele começa aqui, neste ponto e desta forma. O primeiro utensílio teórico de que o trabalhador dispõe para se bater com o patrão é, nada menos, a própria moral de classe do patrão. Coloca-se a si mesmo num ponto análogo (e não diferente, e muito menos antagónico) ao de quem o explora, reconhecendo abertamente com quem aprendeu («estás continuamente a pregar-me», note-se!), e manejando, a seu favor, a moral de classe da burguesia. Marx não podia ser mais claro quando, linhas abaixo, põe na boca do operário a sua primeira reivindicação: «exijo uma jornada de trabalho normal [sic], porque exijo o valor da minha mercadoria, como qualquer vendedor». É escusado repetir o que acima vai dito: a primeira reivindicação dos trabalhadores é, claramente, uma reivindicação «comercial», decalcada dos códigos de conduta e das regras que normalizam o capitalismo. Os homens são em essência, é bem verdade, a soma das suas condições sociais"
(in 5Dias, João Vilela: A Sagração da Desigualdade – II: Pobrezinhos mas Honestos)
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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