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quinta-feira, julho 16, 2015

a lição da Grécia, o efeito Syriza (III)

Especuladores divididos: Bruxelas quer garantir o 'financiamento-ponte' através do Mecanismo de Estabilização Financeira (MME) - em vez de 19 serão 28 os países obrigados a contribuir. O FMI quer corte na dívida grega. Já há quem lhe chame o início da guerra entre FMI e Berlim, com a dívida grega como cenário. Num relatório confidencial e divulgado após a cimeira europeia de domingo, o Fundo dirigido por Christine Lagarde arrasa as palavras vagas sobre a restruturação e um maior corte da dívida da Grécia na declaração dos líderes da Eurozona. “A deterioração dramática da sustentabilidade da dívida torna necessário o alívio da dívida a uma escala que teria de ir bem para além do que foi pensado até agora – e do que foi proposto pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu”, diz o relatório do FMI.

a Política imposta pela Alemanha é um crime contra a Humanidade” - afirma a presidente do Parlamento grego voltando a apelar ao Governo para que não aceite a chantagem dos credores para um acordo em que já nem o FMI acredita. Revelar a origem da dívida grega provocaria uma revolução financeira mundial, afirma um membro da Comissão de Auditoria à Dívida Pública grega: “é rídiculo culpar Atenas pela crise europeiaconcluiu Maria Lucia Fattorelli.
De facto é assim que funciona: Todos os governos que usam o Euro podem usar o BCE (no qual os Bancos-Centrais de cada país são sócios em partes proporcionais) para financiar os seus défices. Neste contexto, os Bancos-Centrais dos Estados-membros só cumprem as ordens regulamentadas pelo BCE, uma entidade supranacional não eleita, que decide à revelia da independência económico-financeira dos povos. Quando os governos da União Monetária Europeia (UME) têm défices emitem obrigações do Tesouro que são compradas pela banca privada. Que por sua vez, ao apresentar esses títulos/obrigações de pagamento como garantia os bancos recebem esses valores em dinheiro novo emitidos pelo BCE como crédito. Se para o BCE o valor emprestado é um papel, para quem o recebe e deposita é uma conta bancária consolidada em dinheiro pronto a levantar. É deste modo que funciona o esquema da dívida soberana. Mas os valores criados como dívida aos Estados não terminam no BCE. Entram na rede de especulação financeira global. O BCE revende essas obrigações no “mercado”: a fundos-abutre, a seguradoras multinacionais, a fundos financeiros de governos com superavit (p/e a Alemanha) e no geral a bancos de investimento comerciais estrangeiros. Estima-se que o BCE não tenha mais que 20% da dívida que emite. Não se sabe, porque o BCE não divulga esses dados nos relatórios que publica. Ao menor sinal de dificuldade de pagamento as “Instituições” que supervisionam os “ratings” do esquema exigem contrapartidas concretas, normalmente privatizações de sectores do Estado lucrativos para a tutela dos “credores”, oferta de “recursos humanos” a baixo custo, etc.
É um esquema mafioso levado a cabo por altas individualidades, aparentemente não intervenientes, que devem ser objecto de investigação e acusação criminal. Foi neste contexto que Alexis Tsipras, num dos últimos momentos dramáticos das negociações gritou para Merkel: "Também querem Creta? O Partenon? Talvez toda a Acrópole, não?". Valeu a intervenção do polaco-americanófico Donald Tusk, em representação não oficial de Obama e da NATO, de onde se subentende a existência de vertentes ocultas do “acordo”.  Por via do FMI.

quarta-feira, julho 15, 2015

a lição grega (II)

Propostas do Eurogrupo são consideradas pelos gregos como "humilhantes e desastrosas". O nosso caniche Coelho diz que não são e que foi ele o autor da ideia para que não fossem humilhantes. É a fábula da râ que queria ser boi, tanto inchou tanto inchou que rebentou


"... ou seja, o que o desfecho das negociações entre o governo grego e os restantes governos do euro inequivocamente prova é que a dissidência face à austeridade não pode ser um caso nacional. E isto independentemente dessa mesma dissidência ser feita no interior do euro e da UE, como pretendeu até agora o Syriza, ou contra o euro e a UE" (Zé Neves)

Qual a causa da aparição destes partidos de fachada esquerdista "na nomenklatura reacionária) mas apenas sociais-democratas? são eleitos pela classe média em sociedades terceirizadas. Em países desindustrializados como a Espanha, Grécia e Portugal não existe uma classe operária capaz de liderar um processo revolucionário consistente, com amplo apoio popular. É esta a ilação a tirar da queda do Syriza face às poderossimas foças concentradas no drectório do Euro. Só a Itália, França e Chipre apoiaram a Grécia, os restantes "crucificaram Tsipras lá dentro" na maratona negocial, levando-o a aceitar um acordo que sabe não poderá ser cumprido. O Syriza fez o que poderia ter sido feito; Sobre a saido do Euro, maís uma vez, a palavra irá ser dada ao povo grego.

terça-feira, julho 14, 2015

Serão os gregos os novos Judeus presas de guerra da Alemanha de Merkel?


O ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, deu ontem a conhecer no seu blogue pessoal uma síntese alargada do artigo que publicará amanhã no jornal alemão Die Zeit

Varoufakis detalha o que chama de "plano sinistro" do Ministro "alemão" das Finanças da Finlândia para a Europa. Mantendo sua promessa de 11 de Julho, o ex-ministro das Finanças da Grécia intervem para ajudar a concluir o debate que tinha iniciado, levantando-se ao romper da aurora para divulgar ao público a informação que só será publicada nos Media dois dias depois.. Desta vez Varoufakis sente-se vingado, do mesmo modo que no fim de semana do "Não", alegando que a Alemanha provou que ele tinha sido criticado por dizer o tempo todo que "o Dr. Schaeuble tem um plano para a Europa que é tão sinistro e escuro como os do Terceiro Reich".

O Plano do Dr. Schauble para a Europa: Irão os europeus aprová-lo?

Pré-publicação (sumário). Em cinco meses de intensas negociações entre a Grécia e o Eurogrupo (com o FMI excluido) nunca houve qualquer chance de sucesso. Os 18 participantes do Eurogrupo foram condenados a liderar o impasse, sendo os seus propósitos preparar o terreno para aquilo que o Dr. Schauble viesse a decidir como "óptimo", uma decisão elaborada mesmo antes do nosso governo do Syriza ter sido eleito. À Grécia deveria ser facilitada a saída da zona Euro, tendo em vista disciplinar outros Estados-membros que viessem a resistir a um plano especifico para reestruturar a Eurozona.
1) isto não é uma teoria.
2) Como poderia eu saber que o Grexit era uma parte importante do Pllano do Dr. Schauble para a Europa?
3) Soube disso porque eles me disseram.
Escrevo este artigo não como um político grego crítico da denegação na imprensa alemã das nossas propostas concretas; da séria recusa de Berlim em considerar a re-esstruturação da dívida e as nossa propostas moderadas relançando o plano de pagamentos; da altamente politica decisão de asfixiar o nosso governo; da perigosa decisão do Eurogrupo ao dar luz verde para encerrar os nossos bancos. É neste contexto que deixo estas perguntas concretas aos informados leitores do Die Zelt:
2) Consideram um tal Plano bom para a Europa?

segunda-feira, julho 13, 2015

uma lição grega

Para disponibilizar a quota financeira do MEE para a Grécia o Eurogrupo exige o depósito de 50 mil milhões de euros como garantia num banco privado no Luxemburgo de cuja direcção administrativa fazem parte o ministro Schauble e o vice-ministro de Merkel Sigmar Gabriel. Tal exigência nunca tinha sido feita a nenhum outro país membro. Esse dinheiro servirá para pagar ao BCE no dia 20.
 
Quais as consequências para o povo da adesão e entrada da “União” Europeia em Portugal? (como na Grécia). Quando foi criada, a UE tinha na sua génese três pressupostos fundamentais: 1) uma união sem barreiras alfandegárias nem fronteiras para pessoas e bens 2) ser uma associação de países como iguais 3) cada país mantinha a sua moeda própria como meio de tomada de decisões autónomas. Com as sucessivas revisões dos tratados e a adopção do Euro como moeda única as decisões politicas nacionais no quadro da UEM (União Económica e Monetária) as escolhas em economia-politica foram postas fora da equação. O que aconteceu de facto foi que a adopção do Euro trouxe a perda de soberania dos povos europeus. Portugal está hoje numa situação mais adversa que em 1580, quando perdeu a independência mas não a capacidade de emitir moeda soberana. 

Na década de 80 a indústria em Portugal representava 40% do produto interno bruto; em 2015 é de 13%. A agricultura, que representava 30% caiu para 2%. O sector de serviços que era de 30% passou hoje para 85%!. Da opção de terceirização da economia portuguesa aquando da adesão da classe dominante lacaia do capital à “União” europeia (1) resulta que um país que não produz praticamente nada é um país exponencialmente endividado. Daqui resulta igualmente que, como agente transformador da sociedade, a classe operária é hoje uma classe bastante minoritária. Possibilidades de revolução só em aliança com a pequena-burguesia gerada pelo sector terciário e com os trabalhadores do sector produtivo, reduzindo objectivos temporariamente. A luta imediata é por um Governo de Unidade Democrática e Patriótica! que integre no seu programa o desenvolvimento industrial e a subsequente reorganização do proletariado na defesa dos seus interesses de classe. 

(1) a ler: "Desinflação competitiva, o jogo perigoso do capital alemão"

domingo, julho 12, 2015

Grécia: Voltou a lenga-lenga do horror ao "perdão de dívida".

Eurogrupo terminou ontem sem acordo, negociações são retomadas hoje domingo. Berlim quer saída da Grécia do euro, França não. FMI pede alívio à dívida que Berlim não aceita e Itália pede aos alemães que deixem de humilhar os gregos. Direita nacionalista e anti-UE da Finlândia ameaça deitar abaixo governo se aceitar resgate. Posição alemã está a levar alguns países a perderem a compustura. Atenas já se comprometeu com um pacote de austeridade na linha dos desejos dos credores pedindo apenas a inclusão de medidas para o alívio da sua dívida - já que a maioria das instituições já confirmou que sem uma redução da dívida jamais a Grécia conseguirá sair do buraco, independentemente da dimensão dos pacotes de austeridade. Mas Berlim não cede. Seis países do Eurogrupo carecem de votação parlamentar para aprovar empréstimo do MME à Grécia. Em Portugal bastou uma maioria simples do governo para Passos Coelho já ter recusado qualquer perdão da dívida grega, alertando além disso que o tempo para o povo grego está a escassear. (fonte)

Em que ponto estamos?  Voltou a lenga-lenga do horror ao "perdão de dívida". Ora, não se conhecem propostas concretas recentes do governo grego sobre a dívida de longo prazo (que está nas mãos sobretudo do FEEF e dos estados do Eurogrupo que fizeram empréstimos bilaterais em 2010). A proposta que Varoufakis foi defendendo em vários Eurogrupo e agora materializada já pelo seu sucessor Tsakalotos foi a de pedir um empréstimo ao MEE sobretudo para limpar a dívida ao FMI e recomprar as obrigações nas carteiras do BCE e do Eurosistema. Deixar a zeros a dívida a estes dois credores oficiais -- transferindo a dívida para um empréstimo de muito longo prazo junto do MEE. A única proposta de "perdão de dívida" que se conhece recentemente foi colocada ... pelo FMI. FMI, que na já célebre página 16 do documento preliminar de análise da dívida (DSA) divulgado a 2 de julho, defendia o seguinte: a) objetivo provável de um alívio de dívida equivalente a mais de 30% do PIB grego (o que ronda uns 50 e picos mil milhões); b) o alívio pode ser obtido, às tantas, de duas formas, ou pelo write-off dos empréstimos bilaterais (mais de 50 mil milhões), sim leram bem, write-off, sem contemplações dos 52,9 mil milhões metidos por 12 países do Eurogrupo (incluindo Portugal que meteu 1,1 mil milhões); ou "por medidas equivalentes" (ou seja aplicar as tesouradas no FEEF, onde Portugal não meteu em garantias); c) fazer um reprofiling das dívidas "oficiais" de longo prazo duplicando (sim, estão a ler bem) as maturidades (não começarem a ser pagas antes de 2055) e a moratória de pagamento de juros (não começar o serviço antes de 2035). (Jorge Nascimento Rodrigues)

sábado, julho 11, 2015

o Estado da Nação

Quais as consequências para o povo da adesão e entrada da “União” Europeia em Portugal?
quando foi criada, a UE tinha na sua génese três pressupostos fundamentais: 1) uma união sem barreiras alfandegárias nem fronteiras para pessoas e bens 2) ser uma associação de países como iguais 3) cada país mantinha a sua moeda própria como meio de tomada de decisões autónomas. Com as sucessivas revisões dos tratados e a adopção do Euro como moeda única as decisões politicas nacionais no quadro da UEM (União Económica e Monetária) as escolhas em economia-politica foram postas fora da equação. O que aconteceu de facto foi que a adopção do Euro trouxe a perda de soberania dos povos europeus. Portugal está hoje numa situação mais adversa que em 1580, quando perdeu a independência mas não a capacidade de emitir moeda soberana.

Desde a aceitação conjugada do memorando da troika pelos governos de bloco central Cavaco/Sócrates/Coelho mais de meio milhão de empresas faliram e foram encerradas. O programa de austeridade imposto significa de facto a nacionalização da dívida da banca e assumpção da descapitalização da economia. Na falência do BES o “Banco Bom” já custou ao erário público 4,3 mil milhões de euros, e os prejuízos do “Banco Mau” só serão conhecidos na sua totalidade daqui por muitos anos. O esquema fraudulento de endividamento do Estado custou ao país este ano cerca de 7,5 mil milhões de euros só em juros da dívida. Em 2016 serão 9 mil milhões, em 2020 esses juros (sem incluir o valor em dividanem que se peça mais dinheiro emprestado) atingirão o valor insustentável de 17 mil milhões de euros/ano.

Analisando o “estado da nação” visto pelo lado dos trabalhadores, existem neste momento 1 milhão e 400 mil desempregados, constando apenas 700 mil nas estatísticas oficiais manipuladas pelo governo. Da metade que não é ocultada, apenas 300 mil recebem subsidio de desemprego. Uma grande percentagem foi escondida em falsos programas de emprego, precários, em que pessoas trabalham gratuitamente para não serem expulsas da segurança social. Nestes últimos 4 anos 430 mil portugueses foram forçados a emigrar, juntando-se aos 5 milhões que já vivem no estrangeiro expulsos pelo salazarismo. Em 2014 devido aos cortes orçamentais o Serviço Nacional de Saúde registou menos 220 mil atendimentos. Na Educação, a essência da qualificação do tecido produtivo, para além de ser transformada num negócio privado, centenas de professores foram descartados e escolas encerradas, gerando uma situação calamitosa. Na justiça dezenas e tribunais foram encerrados. Nos transportes públicos o serviço regrediu e os custos de deslocação para os trabalhadores aumentaram para preços incomportáveis, quando num país desenvolvido o custo dos bilhetes e passes mensais não deve ser superior a 5% do salário mínimo nacional. Em resumo, o nível de vida dos portugueses em 2013 já tinha regredido para níveis de 1990.

sexta-feira, julho 10, 2015

a Troica, Poderosa e Descontrolada (Canal Arte)

Documentário do canal franco-alemão sobre as intervenções da Troika. Contém cenas eventualmente chocantes,não sendo recomendado a quem acredita na propaganda do governo

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Francisco Louçã sobre o devir da situação grega: 1ª questão, se há um novo resgate, é um recuo da Grécia. O governo tinha sido categórico desde o início, não aceitando o formato jurídico de um novo resgate, com o que ele implica de intromissão, de protectorado e de submissão. A diferença seria o investimento viável e portanto a solução para a recessão. Mas Tsipras não conseguiu esse acordo de reestruturação, ele nem foi considerado pelas autoridades europeias, e portanto perderam-se cinco meses.

2ª questão, se são propostas novas medidas de austeridade, a recessão vai agravar-se e a desconfiança também. O referendo convocou os gregos para rejeitarem o ultimato europeu e as suas propostas. Retomar o essencial dessas propostas seria sempre uma derrota política para a Grécia. 3ª questão; qualquer política fiscal ou orçamental tem que responder à divisão social da Grécia. Os pobres votaram Não porque nada têm a esperar das políticas europeias de austeridade. 4ª questão, se, apesar de novas medidas de austeridade, for aplicada alguma forma concreta de reestruturação da dívida, o balanço entre os ganhos e as perdas decidirá o resultado político final desse acordo. Nesse caso, a Grécia ganharia no que deixaria de pagar em dívida (através de um período de carência, de extensão dos pagamentos com juros adequados ao seu crescimento do PIB, ou simplesmente por redução do stock da dívida com os credores institucionais) e perderia do outro lado, no efeito recessivo da austeridade agravada. Seria sempre preciso um efeito equivalente ou superior em redução do saldo da balança de rendimentos para compensar a Grécia. Isso não seria então uma derrota e poderia mesmo transformar-se numa recuperação. (artigo completo em TudoMenosEconomia)

quarta-feira, julho 08, 2015

bate-papo entre liberais em busca da reciclagem do capitalismo

porque o Verão não tem de ser tempo de literatura light, um livro recomendado pelo professor Carlos Fiolhais: onde se aprende sobretudo pelo que fica omisso em relação à disciplina de Economia Politica

respigado da sinopse do livro: 
"Pensando no que aconteceu em 2007 e 2008 —, o certo é que muitos economistas não foram capazes de prever esse momento crítico, tanto à escala dos Estados Unidos como global.

Paul Krugman: não, não previ propriamente… Pensei que alguma coisa iria correr mal, mas a uma escala que nada tinha que ver com a daquilo que realmente se passou. Pensei que a bolha do imobiliário seria feia, mas a escala do desastre foi um choque para mim (…) Não previ a crise, mas fomos muitos a dizer depois: Ouçam, não acreditem naqueles que passam o tempo a dizer‑nos que a emissão de dinheiro pelos bancos centrais vai causar uma inflação galopante, que os défices orçamentais vão repercutir‑se desastrosamente sobre as taxas de juro… Não é assim que as coisas se passam...

não há inflação? e juros sobre a dívida? há?
Joseph Stiglitz: parece‑me, entre outras coisas, que a recuperação económica não tem corrido especialmente bem, e também claro que a política monetária não é uma resposta suficiente. Pouco pode fazer. Penso que o Paul tem razão quando diz que os medos — todo esse discurso que pretendia que a impressão de papel‑moeda, ou como se lhe queira chamar, seria inflacionista eram absurdos, e que isso ficou demonstrado. Mas também é verdade que houve economistas que pensaram que a política monetária resolveria os problemas. Bem, vocês sabem como costumo descrever o raciocínio deles, quer dizer, a ideia de que pôr os bancos e os hospitais durante um ano e meio a darem‑lhes não uma transfusão de sangue, mas uns quantos milhares de milhões de dólares melhoraria as coisas e poria a economia de novo a funcionar. É evidente que não tinham razão e que havia necessidade de uma política orçamental efectiva, de estímulos efectivos, e a verdade é que, em termos fundamentais, a economia estava já em quebra antes da crise, servindo‑se da bolha para continuar a funcionar.

Thomas Piketty: penso que a ideologia faz sentir muito o seu peso entre os economistas e que muitos deles têm uma visão do mercado que não só é idealista e ingénua, como tenta sobretudo demonstrar que os mercados funcionam eficazmente, funcionam perfeitamente bem. Julgo que é igualmente por razões ideológicas que os economistas perdem por vezes muito tempo a construir modelos matemáticos complicados, tentando provar a eficiência dos mercados de um modo que impressione as outras disciplinas por meio dessas construções que dão uma aparência mais científica às suas ideias

Paul Krugman: Pode parecer uma brincadeira, mas é isso mesmo que se passa.

Thomas Piketty: A nossa única vantagem por comparação com as outras pessoas é que somos pagos para recolher dados e tentar compreender os mecanismos ou modelos sociais e económicos que possam explicá‑los, e teremos de ser modestos, de nos contentar com progressos limitados, se quisermos ser úteis, embora nem sempre seja evidente que os economistas produzam um trabalho muito útil".

"nacionalizar os bancos e pôr a tropa a guardá-los"

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depois do "Não" no referendo de domingo a "União" Europeia endureceu a sua posição: que se lixe o povo! a Grécia recebeu um novo Ultimato: "têm 48 horas para aceitar do "programa de ajuda" neoliberal ou enfrentar o colapso dos bancos (como a UE já tinha avisado antes) e a saída do euro. O "Grexit" já começou..." (The Guardian)

"Não contem com qualquer reestruturação da dívida porque isso não passa nos Parlamentos do centro e norte da zona euro. Ponto final e é pegar ou largar" (Democracia Solidária)
recordar: 
Auditoria Parlamentar diz que a Grécia nada recebeu, que se trata de uma burla dos mercados financeiros internacionais sobre e com a conivência dos anteriores governos (ver: A espiral da Dívida que fabrica a "Crise")

terça-feira, julho 07, 2015

Povos europeus alvo de Terrorismo Financeiro

ao segundo dia após o "não", por telegrama da Reuters, chegou mais um ultimato ao governo de salvação nacional de Atenas: "ou actuam rapidamente no sentido de um acordo ou saltam fora do euro" (fonte). E o cerco: "juros do Estado grego no "financiamento dos mercados" dispararam acima dos 50% a curto prazo e a 10 anos atingem máximos de 2012" (fonte) 
Em paralelo, segundo "The Independent" Tsipras arrasta Putin para a batalha com a Europa. (fonte)
É esta a razão porque é Washington apoia o Syriza?: "... poder-se-á concluir que, sem relutância, longe de ser simplesmente o herói do povo grego, Varoufakisfaz faz parte de um jogo muito mais amplo... e sujo"  (ler mais) 

"Como Governo progressista, sempre prometemos pagar pensões e salários antes de pagar aos credores", "Não estamos a pedir um tratamento especial, estamos a pedir um tratamento igual numa Europa de iguais" (Euclides Tsakalotos, novo ministro das Finanças da Grécia)

segunda-feira, julho 06, 2015

“Exibirei com orgulho o desgosto que inspirei nos credores”

(do blogue de Yanis Varoufakis, o homem que está por detrás de um plano mais amplo do que o noticiado pelos media). Entretanto, segundo Tsipras o “Não' torna mais difícil uma solução"

A transcrição da mensagem de demissão de Varoufakis segue abaixo, dedicado aos lambe-botas José Manuel Fernandes, Camilo Lourenço, José Gomes Ferreira, José Rodrigues dos Santos, A.Costa de Bruxelas, Luis Delgado e à cáfila de politicos mentirosos que enxameia o comentarismo canalha lusitano.

“O referendo de 5 de Julho ficará na história como um momento único em que uma pequena nação europeia se levantou contra a servidão da dívida. Como todas as lutas pelos direitos democráticos, a rejeição histórica ao ultimato feito em 25 de junho à Grécia pelo Eurogrupo, tem seu custo. É, portanto, essencial que a grande confiança depositada em nosso governo pelo esplêndido voto NÃO seja investido imediatamente por um SIM a uma resolução apropriada - a um acordo que implique uma reestruturação da dívida, menos austeridade, a redistribuição em favor dos mais modestos, e reais reformas. Pouco depois do anúncio dos resultados do referendo, tomei conhecimento de uma certa preferência de alguns participantes do Eurogrupo, e de “parceiros” pela ... minha “ausência” das suas reuniões; uma ideia que o primeiro-ministro julgou potencialmente útil para chegar a um acordo. Por esta razão, deixo hoje o ministério das Finanças. Considero que é meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como ele entende, o capital que o povo grego nos deu no referendo do dia de ontem. E levarei com orgulho o desgosto que inspirei nos credores. Nós, na esquerda, sabemos como agir coletivamente, sem apego aos privilégios do cargo. Vou apoiar plenamente o primeiro-ministro, o novo ministro das Finanças e nosso governo. O esforço sobre-humano para honrar o bravo povo da Grécia e o célebre OXI (NÃO) ouvido pelos democratas de todo o mundo apenas começou”. (traduzido do l`Humanité pelo Vermelho.org) 

Os credores da Grécia não vão ganhar nada com a saída de Varoufakis (The Telegraph)
epilogo provável: 
J. Nascimento Rodrigues: “Interrogam-se os deuses do Olimpo -- para onde irá Varoufakis, que ele quieto no Parlamento não consegue ficar. Uma maldade suprema era, depois do acordo, se houver, correr com o Stournaras e meter Varoufakis a governador do Banco central da Grécia, para poder passar a ir às reuniões de Frankfurt”; nem mais... mas ainda que fosse às do BCE não é de crer que fosse convidado para as reuniões do Banco dos Bancos Centrais em Basileia, onde a tramóia original é tramada.

domingo, julho 05, 2015

NÃO à Austeridade

 "Há Vida para lá da Ruptura" - Joseph Stiglitz sustenta: vale a pena rechaçar chantagem da aristocracia financeira. Será penoso e complicado — mas as politicas de “austeridade”, além de humilhantes, são tacanhas"

Não é o salário, a luta por mais uns trocos, que define uma classe social. As classes formam-se na luta. Por acção das massas populares, os operários marginalizados, os pobres, os desempregados, os que têm emprego mas não ganham para viver uma vida decente. É a resposta à sucção do capitalismo que tem vindo a sangrar o povo grego que forma uma classe capaz de liderar um processo revolucionário que transforme a sociedade. Contra a bastarda Merkel, a vaca sem coração do FMI, contra todos os parasitas para quem o que mais importa é o dinheiro, aliás hoje em dia um material de contrafacção, não o sofrimento do povo da Grécia - os Oligarcas da “união europeia” unem-se para derrubar o governo democraticamente eleito da Grécia, a coligação Syriza e o seu primeiro-ministro Alexis Tsipras. Hoje é o dia em que o Povo da Grécia vai votar “NÃO” contra a austeridade, vai mergulhar a “união” e a sua moeda em crise. É o dia que se espera seja o inicio de uma luta que venha trazer esperança, a vontade e o poder a todos os espoliados pela “união”, que espalhe a revolução pela multidiversidade da esquerda de todos os pontos da Europa. É preciso derrubar, destruir esta “União europeia” para construir de raiz uma União dos Povos da Europa.

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sábado, julho 04, 2015

a espiral da Dívida que fabrica a "Crise"

o FMI fez a resenha das necessidades financeiras que o Estado grego vai precisar para "sobreviver" (aqui). Se vencer o "sim" não será dificil imaginar para onde irá parar mais dinheiro emprestado como dívida. Do destino das "ajudas" anteriores o FMI demite-se:
Em Portugal, com uma dívida 1,3 vezes superior ao PIB, os "financiamentos nos mercados" são para pagar empréstimos, num vórtice de dívida. É aquilo a que oficialmente o IGCP diz representar "trocas de dívida pública" ou "amortizações de dívida pública" - enviar o endividamento para as gerações futuras (veja como)
"a vergonhosa politica dos dois paus e duas medidas do FMI e BCE: um governo eleito pode ser impedido de fazer aquilo para que foi eleito? (The Independent)

As dividas públicas são um mega esquema de corrupção institucionalizada. O Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) foi criado por imposição do FMI (Comissão Europeia)

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sexta-feira, julho 03, 2015

a proposta que se pode recusar (II)

O dia de ontem começou com o anúncio de que Tsipras teria alegadamente cedido à pressão dos credores, mas à noite tudo tinha voltado à estaca zero. (do DN) 

A Europa pode realmente disparar o gatilho sobre a Grécia? Na realidade o golpe genial aqui é que a estratégia que vem sendo seguida deixa as decisões difíceis para a Europa. Se a votação dos gregos for “sim” levará o governo de Tsipras a demitir-se. (Varoufakis já disse que se isso acontecer na segunda-feira já não será ministro das Finanças). Se assim não fosse esperar-se-ia outra longa fase de negociações mal-humoradas e mais confusão. Se a Grécia votar "NÃO", a bola está no campo da zona do Euro. Podem então fazer uma melhor oferta, ou descartar a hipótese de a Grécia se poder financiar, o que equivale a expulsá-la da zona Euro. De qualquer das duas maneiras, Tsipras ganha. Se o negócio se vier a realizar, isso significa que a Europa amouchou primeiro. E se a Europa não der o braço a torcer - bem, Tsipras pode dizer que não foi ele quem levou a Grécia para fora da zona do Euro - foi expulso por credores não razoáveis acolitados pelos “governos europeus conservadores de estrema direita”. Doravante, então sim, estará em cima da mesa a construção de uma nova sociedade de matriz marxista, quer assente no dracma como nova moeda, quer com o auxílio político e financeiro de quaisquer Estados em vias de expandir as suas esferas de influência, incorporando um pedaço de sol no imobiliário global que abre muito convenientemente o caminho para os Balcãs e para várias rotas comerciais pelo mar. Com um "NÃO" as chances de haver um “Grexit” são muito maiores. E que acontece depois? Se há um "sim" no domingo, espera-se para ver qual a reacção dos “mercados”. O resto da Europa gostaria de receber esse resultado de braços abertos. A crise deixaria de existir - não poderia mesmo ser preciso novas eleições – os tais 18 remanescentes da zona do euro são inteligentes o suficiente para começar de imediato a jogar alegremente em casa e então o final feliz para o Euro estaria à vista. Se houver um voto no "NÃO", os “mercados”, embora não sendo pessoas nem tendo emoções ou vida física, não ficarão felizes com isso. No mesmo instante o “NÃO” significa Grexit. O que não significa um afundamento no lodo, mas apenas o retorno ao dracma como moeda de soberania nacional. (adaptado da "MoneyWeek")

a Europa declarou guerra à Grécia - entrevista com Stathis Kouvelakis, membro do comitê-central de Syriza: "a crise grega marca o fim da ilusão de uma Europa democrática" (traduzido por EsquerdaSocialista.com.br)

quinta-feira, julho 02, 2015

o Referendo na Grécia é sobre uma proposta que se pode recusar

O vice-chanceler do SPD, o cara-metade de madame Merkel no bloco central, falando ontem no Bundestag num debate de emergência sobre a crise grega avisou que "ceder às exigências do Syriza levaria à transferência incondicional do poder da União". Merkel disse que a porta para negociações com Atenas continua aberta" e que "vamos ter de decidir, num dado momento... se um acordo ainda for possível (...) um bom europeu não é aquele que procura um compromisso a qualquer preço (...) qualquer futuro programa teria mais condições associadas - e não menos". Por sua vez o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble lembrou aos deputados que tinha avisado o primeiro-ministro Alexis Tsipras antes da sua vitória nas eleições que ele "nunca iria cumprir" as suas promessas anti-austeridade, porque "objectivamente, isso é impossível".

www.oxi2015.grΟΧΙ 2015 2 de Julho de 2015


“A estratégia Tsipras não é tão louca quanto parece. Ou “errática” como diz Varoufakis. Sem dúvida, presta o melhor serviço no melhor interesse do seu povo. Tsipras e o Syriza chegaram ao poder com um mandato para parar a austeridade, mas permanecer dentro do euro. Estes dois objectivos não são compatíveis. Pelo menos, não sem uma atitude muito mais indulgente do resto da Europa. Então o problema de Tsipras é que ele não tem nenhuma alavancagem e não há maneira de conseguir o que quer. Por um lado, de fora parece que ninguém mais vai socorrer a Grécia. (porém, de certeza que a Rússia vai entrar na fila à frente dos BRICs para socorrer a Grécia se o país deixar o euro - mas não antes disso). As únicas pessoas e instituições dispostas a oferecer dinheiro Grécia e até mesmo um alívio da dívida são os únicos que estão a exigir reformas em troca. E o Syriza não pode dizer à Europa que vai reembolsar os empréstimos com dracmas, porque é sabido que o povo grego ainda quer ficar na zona euro, independentemente dos custos. Então, Tsipras na realidade tem apenas um carta decente na mão. Não sabe ao certo o valor que ela tem, mas poderá muito bem jogá-la se valer a pena. E a carta é esta: ninguém na Europa quer ser o primeiro a puxar o gatilho para disparar outro país para fora da zona do euro. Ninguém quer assumir a responsabilidade por um evento que só poderá um dia ser visto como o momento em que o projecto europeu morreu. Vistas desta forma, as últimas acrobacias começam a fazer sentido. Veja-se a redação do Referendo, e a maneira que Tsipras o apresenta às pessoas. O resto da Europa quer pintá-lo como um Referendo sobre se deve ou não deixar o euro. Mas goste-se ou não, essa questão não está em cima da mesa no momento da votação - o próprio Referendo nem sequer menciona o Euro. Assim, do modo que os gregos são inquiridos, não se trata de sair do euro. Este é sobre se deve ou não rejeitar a proposta de acordo mais recente. Tsipras está a dizer aos cidadãos que um "NÃO" significa que eles vão obter uma maior e melhor plataforma de negociação continuando a estar no euro. Então, por que você iria votar "sim"? (MoneyWeek)

quarta-feira, julho 01, 2015

sobre a lei das falências

A história da Grécia é um conto de endividamento irresponsável (não de autoria do Syriza) e empréstimos irresponsáveis (forçados pelos especuladores). A lei das falências na cultura europeia e americana é um sistema de dualidades, onde as expectativas para o comportamento prudente são colocados em ambos, o devedor e o credor. O devedor deverá pagar tudo o que puder nos termos da lei, e quando essa capacidade está esgotada, o credor é efetivamente considerado moralmente responsável pela sua decisão de emprestar. Por outras palavras, quando o devedor for à falência, o credor perde a sua aposta sobre o devedor, e deste modo empréstimo é extinto. Mas não existem leis de falência para os Estados-Nação, razão porque não há nenhum poder soberano para administrá-las. À luz da lei, apenas um diálogo entre iguais. até liberais estão de acordo: "o FMI está a gozar connosco?" pergunta Paul Krugman.

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