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quinta-feira, novembro 25, 2010

a Greve

"Não é importante entrar numa guerra de números" (ministra do Governo Sócrates) Ainda nem um dia se passou e já parece que não se passou nada.

Cada sociedade, cada modo de produção, cria um espaço dominante que lhe é próprio e que se sobrepõe a todos os outros. São bem visiveis as mudanças na malha urbana da Cidade consoante muda o paradigma produtivo. O espaço social contém – porque lhes atribui lugares especificos – as relações de produção e de reprodução de uma dada sociedade (1). O aparecimento de novos espaços significa que está em vias de implantação um novo modo de produção. Os edificios pós-modernos do terciário com vigilância e segurança autónoma, a proliferação desmesurada de hotelaria de luxo, o espaço reservado a condominios privados, a diminuição do espaço público acessivel aos habitantes comuns, a Metrópole com a função única de compra e venda, importação e exportação, a Área Metropolitana como espaço de integração dos serviços e do consumo como elemento chave da globalização neoliberal. Porque são os jovens, 20% de desempregados em Portugal, uns impressionantes 40,7% em Espanha (2) obrigados a emigrar deste cenário aparentemente faustoso?

Significa que a Cidade, que organizava o espaço público como suporte da fábrica, tem vindo a sofrer uma transformação. Na era do pós-fordismo já nada pode funcionar como antes, nem a contratação social tripartida que iniciou a inplosão a partir da lei-quadro das Privatizações (leia-se, venda a estrangeiros) promulgada pelo 1º ministro Cavaco Silva em 1989 (3), nem primeiro que tudo o Sindicalismo na nova divisão internacional do Trabalho de subcontratação e deslocalização (outsourcing, modo de produção no toyotismo da empresa como mero local de assemblagem de componentes)

A Ditadura de uma só Classe: a Burguesia

Os que ficam, resignados a salários miseráveis e a situações de sub-emprego socialmente aviltante, pensam ilusoriamente ter meios de revolta eficaz, os que partem não chegam a perceber que uma sobrevivência digna só pode usar o mesmo método do inimigo de classe contribuindo para a luta local com o objectivo de atingir o paradigma global em construção – se a burguesia transnacional nos tenta impingir o controlo social por um organismo anti-democrático como a União Europeia, a Greve só será eficaz se praticada em uníssono por todos os povos europeus unidos na sua diversidade – pela autonomia local, destruir a hegemonia transnacional

No presente modelo de (des)Ordem económica insustentável e de precaridade é necessário organizar e expandir a organização e acção sindical (4), mormente criando novos núcleos que incluam as vítimas da flexibilização da legislação laboral (5), os desempregados e os reformados, tendo em vista barrar uma degradação e sujeição que não serão menores que as condições em que se desenvolveu o proletariado nos seus tempos de juventude - “É difícil encontrar palavras, escreve Eric Hobsbawm, para descrever a degradação dos trabalhadores rurais ingleses em consequência do advento, no decurso dos anos 1750-1850 da sociedade industrial”.

As grandes conquistas operárias do ponto de vista económico e social obtidas por mais de um século de lutas (6), só foram possiveis pela organização colectiva visando libertar a classe operária da condição de meros moços-de-jorna pouco menos que escravizados, para a condição de assalariados com direitos garantidos pelo Estado. De novo em época de refluxo, perante uma mera resistência passiva, o medo de perder mais umas migalhas de direitos cada vez mais precarizados dá ânimo ao Poder (fora-da-lei na protecção social) para avançar com meios de implantação de mais medo – usando o despotismo da estabilidade. No fim da linha industrial de montagem de grande escala, paradigma esgotado no esqueleto da Cidade industrial (cujo modelo será Detroit), a nova apropriação do Burgo pós-moderno pelos novos burgueses transnacionais, que causa uma migração forçada de sinal contrário, a expulsão do cidadão para outros campos de novas escravidões – não pode ser consentida sem revolta. Parafraseando o sex-symbol do patronato reaccionário agora em extinção, Henry Ford: "Os patos põem os seus ovos em silêncio. As galinhas, pelo contrário, gritam como loucas. Qual é o resultado? Toda a gente come ovos de galinha". Não aprendemos nada com os bonzos capitalistas?
Não te cales!

(1) Henri Lefevre, La Production de l`Espace, 1986
(2) Revista Visão, pag. 116: 17 dos 27 paises da têm taxas de desemprego juvenil acima dos 20 por cento. Em Espanha a taxa de desemprego geral é de 19,8%, uma das maiores do mundo ocidental.
(3) “A Lei-Quadro das Privatizações foi associada a uma retórica de modernização do país, de reestruturação organizacional e tecnológica com vista a fazer face à concorrência internacional no âmbito da CEE”. Foi o princípio da derrota do movimento sindical a nivel nacional (Hugo Dias, Le Monde Diplomatique, Novembro de 2010)
(4) Boaventura Sousa Santos, “Teses para a Renovação do Sindicalismo em Portugal, seguidas de um Apelo” (1995)
(5) Mais uma vez, uma opção de um governo do partido de Cavaco, o Código Laboral de Bagão Félix (2003) de imediato ratificado pelo P"S"
(6) No Manifesto do Partido Comunista, o Proletariado, o grande sujeito revolucionário de Marx, “não tem nada a perder senão as suas cadeias, tem todo um mundo a ganhar (...) só ele é portador de um novo conceito de sociedade que transforme a base económica em desagregação, “capaz no seu conjunto de realizar uma ruptura brusca, a Revolução”. Porque se há-de consentir na imposição da lei da mordaça por uma única classe? É necessário subverter e derrubar a burguesia transnacional, “o que implica o fim de uma relação especificamente social e historicamente determinada de produção que converte o operário em mero instrumento directo de valorização do Capital
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