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terça-feira, novembro 16, 2010

A guerra das Divisas

As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação” (relatório PNUD, 1990)

Os que pensam a China como sendo “um País” enganam-se. De facto é um "modus in rebus" alternativo global. As próprias análises nos meios de comunicação interna desmentem a ideia de um todo homogéneo, na extraordinária capacidade de evolução desta gigantesca Entidade, qualquer coisa que pelo trabalho e coesão social de 1,3 mil milhões de pessoas pode talvez ser unicamente percebido pelas mentalidades ocidentais como sendo o renascimento do antigo Império do Meio, desta vez com implicações globais irreversíveis.

Por meados da década de 70, metade da população das diversas regiões rurais e suburbanas da China vivia, comparado com os padrões ocidentais, num grau de pobreza quase extrema. A explosão que se seguiu não teve a ver com a “liberalização capitalista do regime”ou com o “abandono do comunismo”, cujo projecto de centralizar e planificar o núcleo duro da Economia se mantém incólume, sob a vigilância atenta de (imagine-se) um Partido Comunista constituido por 80 milhões de militantes.

O enorme salto em frente teve a ver funamentalmente com o contrato firmado com a China de Mao e a administração Nixon que, para livrar o Ocidente da pressão social exercida pelo mundo do trabalho assalariado, deslocalizou e providenciou o inicio da entrada de um longo caudal de investimentos estrangeiros naquele país asiático, por contraste ideológico com a economia fechada da URSS. Esta entrada de capitais obedeceu contudo a moldes diametralmente opostos aos usados pelo centro imperialista nos investimentos em regiões periféricas do capitalismo, tirando partido da mão de obra barata, onde se criam bolsas de desenvolvimento em periodos de ascenção para se retirar o capital investido logo que este deixe de ter a rentabilidade esperada, “desmontando a tenda”, deslocalizando as fábricas em parte subsidiadas pelos Estados locais para regiões de oferta mais favorável, deixando atrás de si um rasto socialmente trágico de desemprego.

Na China, a contra-corrente daquela filosofia miserável, o Capital estrangeiro não entrou apenas na condição de Ente voláctil. Aos investidores não é permitido entrar apenas com Capital. Têm de instalar a suas expensas bens de produção físicos localmente e aceitar uma participação estatal maioritária que, em última instância, controla as decisões empresariais de acordo com os interesses regionais de cada “zona franca capitalista de produção”. Se o capitalista porventura resolver abandonar a empresa (ou apenas uma mera central de compras) nos termos contratados, perderá tudo, capital e bens físicos instalados, os quais nessa eventualidade reverteriam para o Estado, a favor da sociedade onde a empresa procede à exploração com o único fito de exportar lucro.

Actualmente, com um potencial de crescimento mundial de 5,5% estimados para a próxima década, a indústria manufactureira da China representa 47,3% do valor total do PIB global, a União Europeia está limitada a 20% desse valor e os Estados Unidos a pouco menos de 13%. Por contraste, na equação capacidade de produção vs consumo, um Chinês consome 1,3 toneladas de petróleo por ano, enquanto um Europeu consome 4,6 e um norte-americano médio 8,2 ton.
Em 2007 os chineses tinham um rendimento per capita de 7.000 dólares, contra 25.000 dos Europeus e 46.400 dos imperialistas norte-americanos (antes da crise). Com um crescimento médio continuado de 13 a 14% durante as três últimas décadas, dentro de vinte anos a China ultrapassará o decadente Ocidente, ou a batalha pelos recursos naturais globais levará a um confronto inevitável.

Se os Bancos Centrais, que regem o sistema capitalista ocidental, não interviessem criando continuamente mais dinheiro para injectar liquidez na “crise”, a moeda chinesa (o renmimbi) teria de se valorizar cerca de 500% para se atingir a paridade entre as duas zonas na economia real – “o que significa que a questão das desordens da finança global não podem ser resolvidas com moeda, uma vez que os Chineses, apoiados por um regime de economia planificada, poupam 54% do seu rendimento, enquanto as familias norte-americanas detinham um nivel de poupança de um escasso 1% (no inicio da crise)

Créditos. Os dados estatisticos referidos foram retirados do "CIA World Factbook" e do livro "Globalização, o pior está para vir" de Patrick Artus e Marie-Paule Virard
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