entrevista de Francisco Louçã a Mark Bergfeld, publicada na Monthly Review
P - Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha, o ano passado rotulou Portugal como "o bom aluno da zona euro." Agora, Portugal enfrenta um cenário económico difícil. O desemprego, por exemplo, atingiu 18,2 por cento. O governo de coligação PSD-CDS está a exigir mais tempo para implementar as suas novas medidas de austeridade. Quais são as razões subjacentes para a tendência de queda de Portugal?
R - A recessão foi causada pela austeridade e pela transferência de recursos para os pagamentos da dívida. Como consequência o desemprego atingiu níveis sem precedentes. A queda dos salários e pensões criaram uma espiral descendente da economia. Isto é qualquer coisa, agindo como um bom aluno, certamente este é o preço que nós pagamos para aceitar um governo de Merkel e Schäuble por interpostas pessoas.
P - A crise económica criou fracturas no regime. No início de Abril, o Tribunal Constitucional chumbou quatro das nove medidas de austeridade contestadas. Um membro do governo, Miguel Relvas demitiu-se. O que está a acontecer no topo da sociedade portuguesa?
R - Há uma crise no governo de coligação. Os dois partidos de direita no poder têm dificuldades em impor as soluções da troika - aumento do desemprego, cortar os serviços públicos, aumentar impostos, reduzir a segurança e o bem-estar social. A decisão do Tribunal Constitucional ao contestar estas políticas prova que esta é mais que uma crise política: este é o começo de uma crise do regime. Na Grécia e na Itália, é óbvio que se trata de uma crise regime. Eventualmente, o mesmo vai acontecer com Espanha. É a consequência directa do défice democrático, das medidas de austeridade e das suas políticas falidas.
P - Por toda a Europa, assistimos a três vertentes de resistência à Troika: greves em massa por parte dos trabalhadores, revoltas da juventude, como o movimento dos indignados, e revoltas eleitorais como a do SYRIZA na Grécia, a "Front de Gauche" em França, ou o CUP na Catalunha. Em Portugal, temos vindo a assistir às duas primeiras, mas não se tem visto um aumento no apoio ao Bloco ou do Partido Comunista. Por que é que a esquerda portuguesa não é capaz de tirar proveito de uma situação favorável?
R - As sondagens de opinião indicam um apoio crescente para os partidos anti-troika da esquerda. Hoje, eles representam mais de 20 por cento. Com o objectivo de eleger um governo de esquerda - um governo que seja anti-memorando e apele ao fim do domínio da Troika - é hoje muito necessário. Um governo de esquerda teria que reestruturar a dívida e, parcialmente, o cancelamento da dívida para recuperar a capacidade de investimento e de emprego. O milhão de pessoas na manifestação de 2 de março mostrou a disposição de uma grande parte dos portugueses para lutar pelos seus salários e pensões, como parte das suas responsabilidades democráticas.
P - O montante total da dívida do Estado português situa-se em 209.000.000.000 euros, o equivalente a 126,3% do Produto Interno Bruto. Durante a alter-globalização da última década, activistas do movimento pela suspensão da dívida exigiram o cancelamento da Dívida do Terceiro Mundo. Hoje existem discussões semelhantes sobre "re-negociação da dívida", "anulações da dívida", e "jubileus de dívida" entre a esquerda na Europa. Como deve ser a esquerda europeia responder?
R - Exactamente da mesma maneira. Uma economia com um défice de 3 por cento não pode pagar uma taxa de 4 por cento de juros. Se a dívida cria dívida, o seu cancelamento é a única solução possível (...)
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1 comentário:
o que se passa aqui?
não há noticias recentes?
abandonaste o barco?
fugiste com alguma FADA?
casaste com ela?
eh pá, essa mulher é um senhor espia, pá
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