A cronista pró-judaica Esther Mucznik com acesso às páginas do “Público (22/7) faz a colagem psicológica da obra de contra-informação anti-comunista “O Zero e o Infinito” (1937) onde o “Zero” seria o indivíduo e o “Infinito” a finalidade colectiva que justificaria todos os meios, referindo-se explicitamente aos inimigos de estimação que são os Partidos Comunistas, extrapolando a partir daí que a diabolização do Islamismo é necessária na medida em que “o totalitarismo do Islão radical dispõe dos cordeiros que se oferecem em sacrifício”, sendo o fim “restabelecer o Califado Universal que converta o mundo inteiro”
A "ideia" é a dos simples: como o "comunismo" acabou é preciso fabricar outro inimigo"
Basta retornarmos à Toledo anterior à Reconquista e ao modus vivendi a que se chama Tolerância para, a mentira da “guerra das civilizações”, bem pelo contrário, nos mostrar que do convívio e do diálogo surge o enriquecimento mútuo.
Logo no início do Dom Quixote, Cervantes conta-nos como encontrou em 1577 um rapazinho a quem comprou um dia em Toledo (na rua Alcana), uns velhos escritos com caracteres árabes. Intrigado mandou-os traduzir para castelhano a um dos poucos moçárabes que ainda havia na cidade e o título era: “História de D.Quixote de La Mancha escrita por Cid Hamed Bem Engeli, historiador árabe”. Cervantes assume-se assim, apenas como “pai putativo” do livro mais lido de sempre no Ocidente.
“Shalom” (a Paz seja Contigo) diziam as tribos de Israel que vieram povoar Toledoth, a Jerusalém do Ocidente (Sepharad).
“Salam” (a Paz seja Contigo) disse Tariq ibn Ziyad (711) quando deitou mão ao enorme espólio dos saques acumulados na corte do rei visigodo Rodrigo, passando então a cidade a chamar-se “Tulaytula”. (vidé história e mapas aqui)
Os grupos cristãos que aí ficaram a viver chamavam-lhe “Tulatu” que significava “a alegria dos seus habitantes”. Foi assim por mais de 700 anos, em que Toledo fez a ligação entre o Oriente e o Ocidente. Os tradutores toledanos enriqueceram e permitiram a divulgação das obras clássicas gregas e latinas de Euclides, Hipócrates, Galeno, Aristóteles, até Ptolomeu. Desse acumular de conhecimento assente sobre o pacífico convívio étnico nasceu o que os cristãos viriam a chamar a “Scientia Toledana” e aqui se dirigiam peritos de toda a Europa a beber dos seus saberes, traduzindo Gerardo (de Cremona) os “Tratados de Geomancia” e o “Kitab Tabagat al-Uman” (O Livro das Gerações das Nações) que espantaram os povos de além-Pirinéus que haveriam de estar na base do Renascimento ao dar azo à fundação das Universidades de Pádua, Bolonha, e Montepellier, que prosseguiram saberes acumulados traduzidos a partir daí por monges cristãos e sábios judeus, herdados da Biblioteca de 400 mil volumes do último Rei de Toledo al-Hakem II.
Cerca do ano 1000 o rei al-Ma`mum tinha transformado a capital do Reino (al-Andaluz) numa maravilha artística e à sua volta as terras aradas em pomares perdiam-se de vista em prosperidade, melhoradas pela inovação dos sistemas de irrigação que tinham sido concebidos pelos romanos. Um grupo de sábios astrónomos, entre eles Azarquiel, publicaram as “Tábuas de Toledo” tratando do movimento dos planetas, da medição do tempo e dos eclipses, na sequência do que Ibrahim ibn Said al-Sahbi inventou e construiu o astrolábio universal. O “tratado al-Muhtazar”, um estudo sobre as crenças religiosas foi um convite à renúncia de todas as tentações que pudessem afastar do bom caminho a idade de ouro desse V século da Hégira. Toledo era então comparada à Atenas de Péricles e à Bagdad abássida de al-Mansur.
Com a campanha de“Reconquista” em 1085 (Afonso VI de Leão e Castela, ajudado pelos francos) e o confronto com as tribos berberes do norte de África, primeiro os Almorávidas e depois os Almoádas, esse mundo desabou.. Não sem que antes o rei cristão Afonso X fosse proclamado “o Sábio”. Pois,,,
Nathan um judeu refugiado em Granada evocando a lenda dos 3 anéis na ancestral gruta de Toledo, concluía: “nós judeus, cristãos e muçulmanos provimos de uma descendência comum mas encontramo-nos na impossibilidade de provar hoje em dia qual é a verdadeira fé”.
Al-Andaluz, o Islão na Península Ibérica, a civilização agrícola maioritária, dividiu-se em “taifas” e os restantes cristãos em “feudos” de reis conquistadores, que se guerrearam mutuamente, virados uns contra os outros, durante os séculos seguintes. Com as guerras, chegou a Decadência!
Como sempre, nas grandes convulsões só os pobres e os infelizes continuaram a viver na fidelidade. Em 1568 uma revolta saldava-se pela deportação em massa dos granadinos, aragoneses e valencianos e todos os restantes “mouriscos” descendentes da civilização de Toledo foram expulsos em condições horríveis - 160 mil pessoas rumaram a sul a caminho do exílio.
Granada foi tomada pelos reis católicos Fernando e Isabel em 1492, os acordos políticos de convivência inter-religiosos celebrados 400 anos antes foram quebrados e o cristianismo imposto pela força à grande massa das populações. Muitos fugiram então em defenitivo para o norte de África.
Enfim, no porto de Cádiz os Judeus embarcam abandonando Sepharad de onde são expulsos por decreto real. Na mesma época, um pouco mais abaixo, no Puerto de Santa Maria em Palos, 90 homens sob o comando do genovês Colombo contratado pelos Reis Católicos embarcam em 3 caravelas rumo a Oeste em busca de um novo caminho para as Índias.
Na senda de ouro e riquezas fáceis, a Reconquista prosseguia,,,
O “Céu de Toledo” na tela de El-Greco, (simbolicamente hoje exposta no Metropolitan Museum em Nova Iorque), escureceu, prenunciando os tempos negros da Inquisição,,,
É no Novo Mundo, que iremos reencontrar cristãos e judeus coligados, inventando um inimigo no Deus dos Árabes (Állah), para consumo das massas ignaras:
Ladies and Gentlemans, may I present to you, the only and lonely “Comandante dos Comandantes em Chefe”:
Exma Dona Esther Mucznik: Fazer a Guerra para “defender a Paz”, é o mesmo que Foder para defender a Virgindade.
* Para um aprofundamento dos temas, ler: “Toledo-Séculos XII-XIII,Muçulmanos, Cristãos e Judeus- o Saber e a Tolerância” (1991) – Colecção Memórias - Edições Terramar.
* "Para compreender o Islão" - Revista História - fasciculo de Novembro de 2003
* sitio Internet - Shaykh al-Islam
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