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segunda-feira, abril 02, 2007

Dinheiro Alternativo e Autonomias Locais

“o Sistema: o capitalismo clássico explorava os assalariados; o neocapitalismo explora os consumidores. É necessário que as maiorías acumulem coisas para que as minorías acumulem capital. Engenhoso”.
José Saramago, in “Cadernos de Lanzarote”

O dinheiro é uma das invenções humanas mais engenhosas. Para entender como o dinheiro funciona é útil conhecer as três idéias que induzem as pessoas em erro mas em que quase todos acreditam:
1 – a falsa idéia de Crescimento – ou seja, que o Dinheiro com juros e juros compostos podem crescer sempre
2 – a falsa idéia de Transparência – que os Juros só devem existir quando pedimos dinheiro emprestado
3 – a falsa idéia de Igualdade – partindo da premissa que todos são tratados com igualdade pelo sistema
E a partir dessas falsas idéias descobrem-se três resultados:
1 - Inflação contínua - Como resultado do “defeito” do sistema monetário imposto e comandado pelos vencedores da 2ª Grande Guerra, entre 1950 e 2001 cada Marco alemão perdeu 80 % do seu valor tornando-se assim na moeda mais estável do mundo.
2 - Disparidade entre indicadores econômicos - Margrit Kennedy comparou três indicadores de crescimento entre 1950 e 1995 na Alemanha e descobriu que o Activo Monetário (apoiado por uma quantidade equivalente de Dívida) aumentou 461 vezes, o PIB aumentou 141 vezes e os Salários (depois dos impostos) aumentaram sómente 18 vezes.
3 - Instabilidade Monetária – os sistemas monetários baseados em juros, criam um elevado grau de instabilidade que estimula a especulação financeira, que tirando proveito desta instabilidade, elevou o volume global de transações especulativas monetárias entre 1974 e 2000 em 97 %, onde apenas 3 % das transações são reais, ou seja, produtos e serviços incluindo o turismo. Ou seja, actualmente, de todo o dinheiro existente no mundo sómente 3% é utilizado para a produção de produtos e serviços.

Para os três problemas existem outras tantas possíveis soluções:
1 – o “Dinheiro Social”* conforme se propõe a “teoria dos juros invertidos”
2 – “Poupança e Empréstimos sem Juros”, como a do banco Sueco JAK, ou os bancos árabes que se baseiam na filosofia do Alcorão
3 - “Moedas Complementares” - Com objectivo limitado como no caso de moedas sectoriais como o “Saber”, “Fureai Kippu” e “WIR-system” além das moedas regionais como o “Roland”, “Chiemgauer”, “Kirschblüte”, o Urstromtaler, ou os “BerkShares” (no Massachusetts)

*“Uma boa comunidade, como bem sabemos, assegura-se a si própria pela confiança, pela boa fé e pela esperança no futuro, pela ajuda mútua, solidariedade, uma boa comunidade, por outras palavras, é uma boa economia local”
-Wendell Berry, in "Work of Local Culture"

O Euro está a destruir metade da economia da Europa: a dos pobres. Quem não se lembra? Um café que custava 45 escudos, de um dia para o outro começou a custar 50 cêntimos, ou seja, aumentou para o dobro. Ir ao pão de manhã à padaria, para uma familia de 4 pessoas, custa hoje mais de mil escudos (5 euros)
“Estamos desiludidos com o Euro, na medida em que ele não trouxe muitos benefícios para as nossas comunidades” diz Joerg Dahlke. “Mas ao mesmo tempo, não queremos sair completamente fora do Euro. A nossa moeda regional circula em paralelo com o Euro. Certamente, nós precisamos do Euro para as grandes transações das mercadorias que não produzimos localmente. Os residentes podem escolher pagar cerca de um terço das suas compras fora da região na moeda local, e o resto em euros, ou por vezes, podem pagá-las inteiramente com a moeda local: os Urstromtaler”. Gerfried Kliems explica: “É muito simples; o dinheiro que você gasta permanece na região. Quando o recebo na minha loja, de seguida penso no que vou precisar e onde posso gastá-lo, recorrendo a bens produzidos localmente por outros aderentes ao sistema de moeda regional. Ao fim de cada dia sentimo-nos de bem com a vida e com a nossa comunidade”




Em busca de Sistemas Monetários Sustentáveis
- Rumo à Democratização Económica


Os sistemas de emissão de moeda complementar, criando outro tipo de economia solidária, conforme se propôem as filosofias altermundialistas, baseiam-se na “teoria da oxidação” de Silvio Gesell (1862-1930) e apareceu pela primeira vez em Wörgl, na Austria, como resposta às condições de vida degradadas que se seguiram à grande depressão na sequência do descalabro financeiro dos sistemas centrais no pós I Grande Guerra. Ou seja, ao invés da taxa de lucro de crescimento exponencial de filosofia judaica, onde a circulação do dinheiro está condicionada ao pagamento de juros (que conduz aos juros compostos que conduz a um crescimento exponencial que por sua vez é insustentável), a “teoria da oxidação” propõe uma taxa de lucro negativa, onde, em vez de crescer e valorizar-se, pelo contrário, a moeda decresce, desvalorizando-se. (Num sistema de “juros invertidos” o dinheiro perde um pequeno valor percentual todos os meses). Ao não dar incentivos à poupança (amealhando com receio do futuro), a moeda circula, reactivando a economia; a desvalorização apela a que os valores fiduciários deixem de ter interesse em ficar retidos (Ninguém tem vantagem em manter uma moeda que se desvaloriza), passando apenas a ser um meio de pagamento para as compras daquilo de que necessitamos; com um valor de uso apenas para aquilo para que foi criada: a troca de mercadorias e serviços, e não para a acumulação capitalista, ou seja,,, de certo modo trata-se de um regresso à “Ordem Económica Natural”.
John Gray, decerto influenciado por Omar Khayyam, propõe como novo paradigma filosófico, uma atitude contemplativa (que se traduz em tempo para viver) em vez da acção desbragada na caça de mais valias na pior tradição especulativa judaica-cristã – origem das escandalosas assimetrias que herdámos de um sistema desumano que não pára de cavar cada vez mais desigualdade entre ricos e pobres.
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1 comentário:

Bruno disse...

Acredito que a solução seria atelar o dinheiro ao direto de propriedade de algum bem, o que é a idéia do padrão-ouro.
Não haveria inflação, pois esse problema é gerado pela impressão do dinheiro pelo estado, detentor do monopólio da produção do dinheiro, que não garante propriedade sobre nada.

Esse artigo é bem interessante:
http://www.mises.org.br
/Article.aspx?id=1132