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domingo, agosto 02, 2009

reconvertendo "Kuhle Wampe" para uma ideia de campo de refugiados global

Se a familia retratada por Steinbeck nas Vinhas da Ira ficou como a imagem de marca da crise de 1929, que se estendeu por toda a década dos anos 30 até ao inicio da guerra, agora que já não existem caminhos para atenuar a procura de dignidade, a familia Dupoe ficará como imagem indelével da crise dos nossos tempos.

Só a morte pode redimir a longa jornada de especulação, guerras e indiferença.
Quando correu a notícia do drama colectivo da familia de Ervin Antonio Lupoe naquela terça feira 27 de Janeiro de 2009 descobriu-se esta foto sem data no Facebook – o pai Erwin em cima à esquerda, em cima à direita a esposa Ana, e os cinco filhos do casal: Brittney em cima, as duas gémeas Jaszmin e Jassely e os dois rapazes também gémeos Benjamin e Christian. Erwin, um técnico paramédico matou a mulher e as cinco crianças a tiro e suicidou-se de seguida. Deixou um bilhete escrito dirigido a uma estação de televisão (a quem mais poderia ser?) justificando o acto pelo facto de ambos terem sido despedidos e ficarem sem meios de sustento.

"Kuhle Wampe", de Brecht e Dudov, realizado em 1932, cujo título completo é Kuhle Wampe, a quem pertence o Mundo? Aos alemães brancos? é um extraordinário produto cultural através de um colectivo que estava profundamente envolvido na formação do cinema de Weimar. É um filme de Arte, não apenas um produto da “indústria cultural”. O argumento foi concebido e escrito por Bertolt Brecht, que também dirigiu a cena final: um debate político entre estrangeiros a bordo de um transporte público que discutem o mercado mundial do café. O resto do filme foi realizado por Slatan Dudow. O impacto desta obra a preto e branco é realçado pela cinematografia de Gunther Krampf e pela partitura musical de Hanns Eisler.
Como Silbermann em 1995 lucidamente descreve, o próprio Brecht foi pioneiro da concepção filmica que um filme como obra de arte pode ser usado de forma revolucionária. Kuhle Wampe retrata a vida quotidiana normalíssima da classe operária, a familia de Bönike, que passa por tempos difíceis:
Berlim 1931. Bönicke e o seu filho Franz estão desempregados, à semelhança de milhares de outros cidadãos; a mãe cuida da casa e Anni é a única da família que ainda tem trabalho numa fábrica. Franz não consegue suportar o desespero e suicídia-se. E, pouco tempo depois, a família que já não consegue pagar a renda é despejada e muda-se para a colónia de tendas ”Kuhle Wampe” na periferia da cidade onde também vive Fritz, o namorado de Anni de quem esta está grávida.
No princípio da cena do suicidio, a última ceia da família é acompanhada por um sermão moral com os argumentos habituais. Enquanto o pai reclama que Franz não tem o direito de prejudicar ou excluir-se das vicissitudes ou destinos comuns da familia, a mãe insiste na máxima liberal que todos podem ser bem sucedidos desde que imponham bastante vontade aos seus esforços para conseguir sucesso.

1h.08min 31seg


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