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segunda-feira, agosto 24, 2009

A doutora Manuela

votar na ex-ministra do neocon Durão Barroso lembra o episódio do “Cavaleiro Inexistente” de Ítalo Calvino em que o pedinte esfomeado se debruça avidamente sobre a sopa como se a marmita fosse uma janela para o mundo. Empurrando como alternativa a plebe votante para a gestão apolítica de um grilo falante da série PS que se formou como engenheiro a um domingo, efectivamente o nosso reduzido e imperceptível mundo aparece-nos todo ele na forma de uma grande Sopa.

Fale com ela, a do PSD, e espere-lhe pela pancada. Ainda a procissão eleitoral vai no adro e já MFL se queixa acusando o governo e o Banco de Portugal de não dizer a verdade sobre o défice. Quem não se recorda da cena dos 3% do défice de Barroso que passaram de imediato a 6,7% pela mão dada por Vítor Constâncio ao compincha de partido Sócrates? – como diria a doutora Judite em off na entrevista da RTP “foi gira esta última pergunta, não foi?” – pois foi, mas decerto não traduz o agravamento de impostos nem o aumento da carestia do custo de vida que se avizinha - ganhe quem ganhar, perdemos todos.

Alguns locutores e editorialistas pretendem que a “politica de contenção de MFL despida de sonhos e promessas representa um corte abrupto com o passado” (o insultuoso compadrio com os criminosos neocons de Bush, pois sim, que o povo tem memória curta) – e como é que eles sabem!? se este tipo de candidaturas mudas (como a de Cavaco em 2006, que ipsi verbis se calou para não dizer asneiras) não tem programa fora de Washington e abunda em interjeições aparvalhadas: “não me comprometo”, “não posso prometer”, “não sei”, “não posso responder” – não dizem pêva e depois de entronizados executam aquilo que parece ser o que lhes dá na gana mas que na verdade é o cumprir estritamente as ordens emanadas do grupo Bilderberg, os reais decisores do mundo tal qual vem sendo construído. Fora do universo maniqueísta televisivo da doutora e do engenheiro (da Sopa) não existe nada. “O mundo não se muda com o voluntarismo de programas eleitorais” disse sobre o mutismo o número 2 do PSD, ele próprio um conviva do Bilderberg como aliás a chefe de fila Ferreira Leite, como aliás Sócrates e Santana, ou Augusto Santos Silva; todos eles são pródigos em largar dicas anticomunistas tendo como destinatários os cada vez mais escassos labregos que frequentam a paisagem do grande centrão. Citando de novo Aguiar Branco: “Sócrates tem uma visão retrógada e sovietizada, que não dá liberdade às pessoas, não confia nelas nem na iniciativa privada”. Deixa-nos rir. Disse César Pavese: afinal “todo o problema da vida consiste nisto: como romper a própria solidão, como comunicar com os outros?”.


Como não é possível existir ideias, venha a imagem


O new look da doutora Manuela exibe uma boa carrada de pó de arroz demagógico nas fuças mas que de forma alguma apaga a velha imagem da saia casaco castanho cinzentão e da maleta porta bicuatas descuidadamente a tiracolo. Como travesti da “moralidade pública” MFL exemplifica-se pela aturada confecção das tormentosas listas de shindler dos candidatos do partido cavaquista; (“ao apontar um arguido acusado de fraude e fuga ao fisco para deputado a líder do PSD dividiu a ética individual em duas: uma que se pratica na esfera pública e outra na vida privada”. Manuel Carvalho, Público). Sobre a osmose das empreitadas da coisa pública que giram em torno das adjudicações a negócios privados de notáveis dos partidos, sobre este caso e muitos outros, disse a raposa de guarda ao milho dos galinheiros Ferraz da Costa: “Portugal não tem dimensão para se roubar tanto” (Expresso supl. Economia 15/Agosto).

“Uma ferida aberta!”, acudiu pressuroso o Barbas, não o do Benfica, mas o outro. O Benfica vai bem e recomenda-se. Afinal na “importante” entrevista onde a doutora Manuela se esgotou no “e sobre isso não vou dizer absolutamente mais nada” a transmissão do jogo do Benfica quando já se conhecia o resultado bateu em audiência a líder do PSD em directo, uma personagem obscura da qual não se espera em definitivo resultado algum
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