e porque ontem foi o "Dia da Criança" e porque hoje é sábado, e ao fim-de-semana temos disponibilidade para ir ao cinema (sem pipocas): Lembram-se? da época em que a Rússia se libertou do "comunismo"? e começou a sua caminhada para a radiante sociedade capitalista onde cada um, quaisquer que sejam as suas capacidades ou ascendência social, tem um mundo de oportunidades e progresso à sua frente? Há quantos anos foi isso? - não me lembro; as trinta mil crianças sem abrigo que vivem hoje nas ruas de Moscovo ainda menos.
Dormem em escadas, contentores de lixo, estações de metro, entre as tubagens de aquecimento de água, em túneis subterrâneos ou debaixo de alpendres. Limitam-se a tentar agarrar qualquer coisa para ludribiar a fome e escapar-se do mundo violento que os rodeia. Apesar de tudo, a maioria considera que a vida nas ruas é uma alternativa melhor do que a que tinham conhecido nos lugares de onde fugiram, ou foram simplesmente abandonados.
Existem na Rússia mais de 4 milhões de crianças sem abrigo ou orfãos (em 2000 o número era de 700 mil). A maioria deles necessita, devido ao clima inóspito, desesperadamente de comida e roupas. Apenas uma minoria de sortudos consegue lugar em orfanatos, os quais também muitas vezes não têm água canalizada, chuveiros, ou sequer casas de banho. As estatisticas mostram que apenas um em cada dez destas crianças se torna num membro funcional da sociedade; os outros perdem-se para as drogas, crime e suicidio. Cerca de 15 mil deixam os orfanatos em cada ano, quando atingem os 16 a 18 anos. Deste número 5000 estão condenados ao desemprego, 6000 são sem abrigo, cerca de 3000 caem no mundo do crime e 1500 cometem suicidio, e metade das raparigas que escapam são forçadas a prostituir-se.
"Os Meninos de Leningradsky"
"Este filme é mais do que um filme sobre os meninos sem abrigo de Moscovo. Ele é sobre as consequências do abandono do nosso sentimento de humanidade" - Hanna Polak, realizadora
O documentário (Oscar da Melhor Curta Metragem 2004) mostra a arrasadora crise com que se enfrentou (e enfrenta) a Russia, através dos relatos dos meninos que passam os dias e as noites nos arredores da estação de metro de Leningradsky, em Moscovo. Abandonados pelos seus pais geralmente alcoólicos, vêm-se obrigados a mendigar e a cometer pequenos furtos para sobreviver, muitas vezes speedados à base de álcool ou cola, ao cruel inverno moscovita. Alguns prostituem-se, outros caem nas redes de pederastas. O documentário foi recentemente transmitido na TVE (alô televisões portuguesas, escuto!)
40,41 min.
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