O Governo golpista diz que (apesar de ser o partido maioritário no país) os "protestos da Irmandade Muçulmana deixaram de ser aceitáveis". Os novos governantes do Egipto, “invocando a Constituição e a Lei”, declararam ilegais as duas vigílias levadas a cabo no Cairo por partidários do presidente deposto. Numa declaração televisionada, a junta provisória instalada pelos militares afirmou que os "actos terroristas" e a interrupção do trânsito decorrente das manifestações não eram aceitáveis e "representam uma ameaça à segurança nacional do Egipto" e o Ministério do Interior deu ordens para lhes pôr fim. A Irmandade Muçulmana mantém que os seus partidários vai continuar o protesto até que Morsi seja reconduzido no cargo. Levanta-se assim o espectro de ainda mais derramamento de sangue.
É neste cenário que a União Europeia envia a baronesa Ashton ao Egipto para avaliar as condições de detenção do presidente deposto – e volta dizendo que Morsi tem acesso aos Media – enquanto o exército egípcio nega o uso de balas reais para conter os protestos (sugerindo que os manifestantes atiraram contra si mesmos?), e políticos como o secretário de Relações Externas dos EUA, William Hague, saem a terreiro com pruridos de como se devem opor ao "uso da força". O que é certo é que não há uma condenação clara da Comunidade Internacional face à inversão das mudanças políticas produzidas sob a mira das armas.
A Arábia Saudita e outros países árabes do Médio Oriente, são o que são, e não são democracias, nunca foram atacados pelo vírus facebookiano das “primaveras árabes” (manipulando movimentos sociais, hordas sem organicidade e liderança, sem projecto nem objectivos politicos, que apenas podem produzir rupturas anárquicas) e não ameaçam, não se contrapondo, os interesses das grandes potências. Este é o motivo da deposição do governo Morsi e, ao invés, da ajuda aos rebeldes que actuam em países não submetidos à lógica dos mercados controlados pelos Estado Unidos. Neste cenário, as reformas estruturais não são alcançadas, antes grassando a destruição, o empobrecimento da população e a frustração, sendo a "primavera Árabe" exemplo eloquente desse desastre que consome qualquer hipótese de energia revolucionária. Líderes mundiais como Barack Obama prometeram de modo incessante conter os ditadores "que matam o seu próprio povo". Lembra-se de como David Cameron enviou prontamente jactos da RAF para ajudar a bombardear a Libia de al-Ghaddafi? A "proteção de vidas civis" sempre foi a primeira justificação para o uso dessa força letal, assim como o foi para o Ocidente afinal se declarar favorável às revoluções em todo o Oriente Médio e norte da África. Hoje esses mesmos líderes ocidentais permanecem em silêncio e cúmplices sobre os excessos de um exército que sempre foi a principal base de poder insustentável do déspota egípcio Hosni Mubarak.
Só falta a Síria... as imagens da destruição são impressionantes |
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