Em termos keynesianos a crise resulta sempre de uma ruptura de equilibrio entre a produção e a capacidade geral de aquisição. No pós-guerra, numa Europa destruida, a crise resolveu-se pela entrada em cena do capitalismo americano, que em troca da “ajuda” impôs um mercado em que a concorrência fosse livre e não “falseada” pelas obrigações sociais de tradição europeia. Para obviar a livre entrada a circulação e a turbulência provocadas pelo capital, foram criados espaços supracionais de regulação que se vieram juntar aos Estados-Nação. Foram estes os primeiros mecanismos da União Europeia e data desta época a primeira morte do Estado Social Europeu. Embora o cadáver tenha sobrevivido alimentando-se da exploração desenfreada do 3º mundo levada a cabo em parceria com os Estados Unidos.
Após os ultimos trinta anos quando foi chegando ao fim o periodo dourado pós-colonial, destruidos esses espaços como possibilidades de expansão, é preciso “lançar um novo olhar sobre as teorias que têm marcado o pensamento ocidental, centrado no momento histórico em que elas foram criadas e na tensão entre o lugar em que as teorias são produzidas e aquele em que são lidas, nomeadamente as transformações que sofrem nesse processo de recepção local”.
Esta outra forma de interpretar a tradição europeia, lendo-a de um ponto de vista simultaneamente exterior e interior à Europa, é-nos proposta por Manuel Ribeiro Sanches (FLUL) numa antologia de ensaios de vários pensadores contemporaneos com o titulo “Deslocalizar a Europa” (Ediç. Cotovia)
Óbviamente existe um conflito de interesses entre o Modelo Social Europeu e o Modelo Neoliberal selvagem Americano que de “Walfare State” já não tem nada. Mais uma vez a crise existe provocada pela deslocalização da produção para onde é mais conveniente financeiramente. Analisando o tecido empresarial da China (em 2004) observa-se que as empresas Estatais representavam 11,3%, as colectivas 2,2%, as Privadas 1,9% enquanto as Empresas detidas pelo capital estrangeiro totalizavam 84,6%. Enquanto isso o consumo per-capita chinês atingia apenas uns modestos 5% em relação a um pais como a Itália. Como é também óbvio a “crise” de sobreprodução e subconsumo serve à manutenção de uma minuscula minoria anglo-saxónica branca de cariz judaico-protestante acolitada pela sombra do aparelho politico-militar norte-americano, que lutará desesperadamente para não perder direitos (mal) adquiridos. Na divisão internacional do Trabalho a visão estratégica global dos USA (leia-se IV Reich) está voltada à construção de um hiper-poder assente no controlo estrutural da produção, das finanças, do comércio, da energia e das telecomunicações no âmbito do “sistema mundo”. Para os chineses sobram as quinquilharias de mão de obra intensiva, para os japoneses os automóveis, para os coreanos a tralha electrónica, etc. O problema é evidentemente grave para a ideia de “Europa” construida democráticamente pelos cidadãos na diversidade especifica das suas regiões. Há apenas um empenhado interesse em manter uma Europa neoliberal que se integre (no Império) sem perda de capacidade de consumo. A situação parece ser tão grave para os diminutos sectores onde permanece algum pensamento racional, que até um insuspeito economista da área conservadora, o Dr. Silva Lopes saiu a terreiro clamando por “uma revolução para acabar com os paraisos fiscais” – o que não constitui novidade nenhuma tendo em consideração tomadas de posição anteriores de figuras com conhecimentos especificos da alta-finança mundial, como Joseph E.Stiglitz e George Soros.
Na luta que se trava actualmente na Europa, entre os Povos e as Élites, entre o Neoliberalismo e o Estado Social, enfim, entre a tão desgastada ideia de Democracia e a Ditadura Imperial,,, o amigo americano veio dar uma ajudinha promovendo a visibilidade do comissário Barroso (Time Magazine 20/2),,, diz ele: “É fácil pôr as culpas para cima dos estrangeiros, na globalização, no Mercado, mas essa não é a posição honesta que deve ser tomada” – “Nostalgia is not the most helpful attitude”, yep!
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Temos então dado como adquirido que irá permanecer o pensamento irracional – de que são já por demais evidentes os sintomas no acicatar dos cães de guerra que comem nas gamelas da imprensa corporativa, desta feita contra os muçulmanos, como ontem tinha sido contra os latinos, contra os indios, contra os negros – no moderno curto percurso da Humanidade existe uma longa história de vitórias e de sucessos de gente sem escrúpulos, que deixam um rasto de milhões de vítimas anónimas.
Depois do inacreditável episódio dos cartoons, novas fugas cirúrgicas de imagens de novas torturas contra presos muçulmanos, pretendem apenas continuar intencionalmente a atear o ódio. É tudo tão óbvio, tudo tão grosseiramente rasca, que efectivamente só pode ser congeminado por doutores honoris-causa formados e encarapuçados em Georgetown, Washington. áh Ganda Barroso, vendeste-lhes a tuas hipóteses de algum dia voltares a andar sózinho na via pública.
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