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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

o Viking da Porcalhota

* comentário de um leitor de o-Espectro:
"Cabul com tanta tropa e movimento, vem mesmo a calhar. Se calhar também, voltamos ao tempo da guerra das ex-colónias, ou seja, os oficiais compravam um apartamento do J.Pimenta, após cada comissão de serviço. Onde compram agora?"

Luis Salgado de Matos é um valentão que exercita os seus instintos bélicos em folhas A4. – não pertence decerto àquela geração de milhares de portugueses sacrificados que viram as suas vidas interrompidas para no auge da sua juventude encararem com dezenas de Negros com as entranhas esventradas por granadas de fósforo branco em cima de uma Berliet no meio de uma picada algures a milhares de quilómetros de casa, defendendo interesses ainda mais longinquos que nada tinham a ver, tanto com cada um de nós a nivel individual, tanto connosco como povo. Nunca viu, não sabe.
Luis Salgado de Matos, ao apelar á guerra de agressão da Nato contra o Irão, não é um vulgar imbecil. É mais do que isso. Ele é um resquicio que faz parte daquela classe de sargentos que lucravam com a guerra colonial – pelas transferências continuadas de angolares para escudos e vice-versa valorizando o dinheiro 30 por cento por cada vez em cada transferência. Ganharam-se assim desavergonhadamente milhões, num pais com carências de toda a ordem. Os profissionais da desgraça alheia sempre se manifestaram expeditos. Não duvido que Luis Salgado de Matos precise de ganhar a vida, ou que os seus direitos de parasita possam estar a ser postos em causa. Apenas se exige, com os meios disponiveis nos tempos que correm, que o faça honestamente.É do mais elementar bom senso que defenda ele e a sua excelentissima familia os seus/deles previlégios. E o primeiro passo é mandar os seus filhos lá para a tal guerra contra os muçulmanos de Teerão e arredores. Mande os dele, porque os nossos não vão de certeza.



Passado este desabafo, sabemos que os tempos vão mudando e que as coisas hoje já (quase) não são assim. O negócio da morte é uma profissão tecnológica. Já não há cobardes. São todos uns valentões, escudados atrás das suas fardas e postos de engenheiros a bel recato e a milhas de distância. Bestas tecnológicas. *(aquele "quase" é que é que os lixa, porque quando saem cá para fora,,,). Nos novos caminhos civilizacionais ditaturiais que se desenham no horizonte, acabar literalmente com a contestação de massas será um objectivo urgente a conseguir; nessa perspectiva, a recente discussão entre o criacionismo religioso e darwinismo cientifico não é ingénua. Enquanto, explorando a crendice e a estupidez, se prega o livre arbitrio da Criação por um Deus que ninguem viu nem ninguem sabe quem é, entre os Homens trabalha-se afanosamente na concepção de um design do porvir humano, deturpando Darwin, procurando uma velha aspiração dos seus detractores - a fundação de uma "teoria" hostil à reprodução dos "pobres e indolentes",pensada por forma a que estes deixem de se constituir como um obstáculo ao aumento numérico dos "homens superiores".
Voltando à marca da besta, deve ser assim, como superior, que Luis Salgado de Matos e os seus compinchas de opinião se sentem. Ou, se calhar, já lhe administraram o tal microchip, e não sente nada.

* Para aprofundar o tema:
O CAPITALISMO BIOTECNOLÓGICO E O ESPECTRO DO EUGENISMO LIBERAL
um artigo de José Luís Garcia, publicado no LeMonde Diplomatique, em Novembro/2003

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