Italo Calvino, in “As Cidades Invisiveis”
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a Cidade existe como factor de vivência gregária. Foram-se construindo para as pessoas escaparem das vicissitudes e das condições de vida precárias em lugares inóspitos. Fugindo de flagelos, procurando abrigo, os construtores foram acrescentando a Cidade, organizando-a de acordo com as necessidades (possibilidades) de cada nova leva que chegava. Para cada um reservou-se-lhe o seu lugar mais ou menos central conforme a sua posição de Classe na hierarquia social.
É isso que vemos, quando partindo dos “cascos velhos” nos centros históricos, observamos as muralhas medievais dentro das quais se acolhiam a Nobreza e o Clero nos seus palácios feudais e igrejas, em redor dos quais o povoléu procurou protecção erguendo os modestos casarios. Quando chegou a Industrialização construiram-se Vilas concebidas tendo como elemento central a Oficina ou a Fábrica e à sua volta os pátios para alojamento dos operários. De certo modo a acumulação de habitantes na Cidade na era moderna corresponde a um armazenamento de mão de obra de reserva em condições de proximidade para que possa ser explorada. Os lucros providenciados pela exploração permitiu à nova burguesia manter-se nos centros urbanos, destinando as melhores zonas ao Comércio, que prosperou, consoante afluiam à Cidade novas vagas de potenciais operários procurando trabalho, oriundos dos meios rurais com cada vez menos saídas para uma vida decente, mas que, de igual modo, no termo da sua viagem, iam aumentando a sua condição de consumidores.
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É este o panorama actual. Na Cidade de hoje aterram agora investimentos Transnacionais provenientes da Globalização que estão na base da construção dos seus edificios-Catedrais high-Tech, de sub-ocupação descabida, grosseiramente inútil.
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Por outro lado assiste-se à massificação da construção de bairros sociais que se constituem em guetos que promovem a segregação em massa de classes marginais.
Que é feito da Lisboa dos bairros?, populares uns, mais chiques outros, mas onde existia um relacionamento inter-classista que cada vez mais se perde na desertificação?
“Desejando impressionar o Papa, D. Manuel ordena em 1514, que o rinoceronte acompanhe a embaixada de Tristão da Cunha a Roma. Preso por uma corrente de ferro dourado e ataviado com uma coleira de veludo enfeitada com cravos e rosas, embarca com destino ao porto de Génova. Em pleno golfo uma tempestade faz naufragar o navio e o rinoceronte morre afogado. Segundo o humanista Damião de Góis, o corpo do animal, empalhado depois de recolhido junto à costa, acabou por fazer parte da embaixada. Graças a Albrecht Dürer, que o desenhou a partir de uma gravura da época, os Europeus não o esqueceram”.
Este episódio é recordado por Dejanirah Couto na sua “História de Lisboa”
Que a Direita caceteira e parasitária tenha alguma “utilidade”:
Como estamos em maré de americanização, não estará em altura de enviar alguém do Regime a Washington como sinal de boa vontade e como emissário de subserviência canina para atrair capitais de investimento em mamarrachos neoliberais? E que tal enviar Ribeiro e Castro de coleira de veludo ao pescoço com uma “Constituição da República Portuguesa” empalhada debaixo do sovaco?
Construindo Aldeias Urbanas
Uma experiência concreta levada a cabo numa zona socialmente periférica na cidade de Boston - The Dudley Street Neighborhood Initiative (DSNI) - sitio internet em www.dsni.org
O fosso entre ricos e pobres não pára de crescer nos EUA, porque as politicas de estabilização das vidas dos pobres (normalmente as comunidades negras) não se coloca em termos de soluções de longo prazo. A Economia é instável, numa espiral inflacionária que continuamente afecta o custo dos bens básicos, incluindo a alimentação, combustiveis, medicamentos e cuidados de saúde. Mais deprimente ainda é a ausencia de perspectivas na obtenção de casas para os pobres, trabalhadores, desempregados e reformados de rendimento limitado.
É com este pano de fundo que a DSNI – na definição de politicas prioritários se converte na primeira Comunidade de fins não lucrativos propondo-se organizar uma área degradada de 1,3 milhas quadradas no centro urbano da cidade de Boston. Dudley Street converteu-se num simbolo e num exemplo de renovação que previlegia a participação comunitária de todos os moradores e onde se auto constrói com planeamento a longo prazo. O seu plano de integração visa combater politicas e práticas cujas bases estão na origem das causas de pobreza e do declinio de inumeras cidades através do país. Através do controle colectivo da posse dos terrenos, utilizando as verbas que antes se destinavam especulativamente ao enriquecimento de uma minoria, os residentes ficam aptos a criar uma comunidade vibrante e multicultural, desenvolvendo centenas de casas apropriadas às necessidades, zonas integradas de comércio, de convivio social, de prática desportiva, escolas equipadas com os mais recentes inovações tecnológicas, etc, trazendo beneficios pessoais aos residentes e revitalizando o bairro que eles próprios ajudaram a planificar.
Gus Newport explica como nasceu a “Dudley Street Neighborhood
Initiative” – leia mais aqui: www.prrac.org
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