Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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quinta-feira, setembro 28, 2006
Critica da Ideologia do Progresso
Passaram ontem 66 anos sobre a morte de Walter Benjamin (1892-1940). Judeu, Alemão e Marxista foi encontrado morto quando, fugindo do nazismo, tentava escapar da França ocupada para a Espanha dominada pelos fascistas de Franco. Do baú que levava consigo, contendo manuscritos que foram deixados apodrecer pela água e pelo tempo numa cela subterrânea de Port Bou, nunca saberemos o conteúdo.
Da obra legada, partiu a primeira tentativa importante de crítica da ideologia do Progresso – acrescentando o pessimismo à teoria da revolução comunista, com conceitos premonitórios que Marx, no estádio de desenvolvimento da produção industrial na sua época não poderia ter conhecido. No “Livro das Passagens Parisienses“ propõe-se o desenvolvimento de um materialismo histórico que iria abolir radicalmente a ideia de progresso. Para Benjamin a Revolução, ou seja o processo de emancipação do proletariado criado pela produção industrial, tinha deixado de ser determinada pelo desenvolvimento das forças produtivas, mas seria antes uma interrupção abrupta de um processo catastrófico, e note-se bem que isto estava a ser dito em 1929, cujo indicador era o aperfeiçoamento crescente das técnicas industriais militares – isto é, para retomar a sua imagem, como apagar um pavio fumegante antes que o fogo da tecnologia ficasse incontrolável e provocasse uma explosão fatal à civilização humana (expresso no ensaio “Sentimento Único” 1928) – “apenas podemos ter confiança ilimitada na IG Farben e no aperfeiçoamento pacífico da Luftwaffe” dizia em “O Surrealismo”.
Walter Benjamin reconhece contudo a contribuição positiva do desenvolvimento dos conhecimentos e das técnicas, mas recusa-se a considerá-las ipso facto como um progresso humano. Sem negar o potencial emancipador da tecnologia moderna, ele preocupou-se com o seu dominio social, pelo controlo da sociedade sobre as suas relações com a Natureza. A sociedade sem classes do futuro deverá colocar um fim não somente na exploração do homem pelo homem mas também na da natureza, substituindo as formas destruidoras da tecnologia actual por uma nova modalidade de trabalho, “que longe de explorar a natureza, pode fazer nascer dela as criações virtuais adormecidas no seu seio” in “Teses sobre o Conceito de História” (1940). Recusando uma escrita da história em termos de progresso – que seria a elegia da “civilização” e da “produtividade” – ele propõe-se interpretá-la do ponto de vista das suas vítimas, das classes e povos esmagados pelo carro triunfal dos vencedores. Nesta perspectiva, o progresso aparece como uma tempestade maléfica que distancia a humanidade do paraiso original e que fez da história “uma catástrofe que continua a empilhar ruína sobre ruína”. A Revolução perdeu o papel de locomotiva da História para passar a ser o travão de emergência que a humanidade puxa antes do comboio se despenhar no abismo.
Para aprofundar o tema, ler:
“Marxismo, Modernidade e Utopia” de Michael Löwy e Daniel Bensaid, Edit. Xamã, São Paulo, 2000.
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