As empresas multinacionais são a forma de dominação económica internacional mais característica da nossa época
De 17 a 19 de Setembro decorre em Lisboa (sob a égide do Presidente da Câmara Municipal - vidé post abaixo) um encontro que reúne os responsáveis de algumas das maiores empresas multinacionais. Durante estes dias eles discutirão as melhores estratégias para garantirem que a crescente submissão dos Estados aos seus interesses permaneça incontestada. Para os responsáveis políticos portugueses, este encontro surge como uma oportunidade para “venderem” as virtudes do nosso país, tentando assim, de forma desesperada, travar o processo de deslocalização de unidades produtivas pertencentes a empresas multinacionais que tendem hoje a transferir as suas unidades para países onde o custo do trabalho seja ainda mais baixo, os direitos laborais mais reduzidos, o enquadramento fiscal menos oneroso e as normas ambientais ou de higiene e segurança menos “constrangedoras”.
Para os Estados, sobretudo para os menos desenvolvidos e de mais pequena dimensão, o dilema real: ou se submetem à vontade dos accionistas, criando um enquadramento favorável aos interesses do capital, ou sofrem as consequências da eventual deslocalização – encerramento de empresas, aumento do desemprego, perda de receitas fiscais, estagnação económica... Para os trabalhadores o dilema é trágico: assistir ao reforço do despotismo patronal, com um aumento da exploração que se traduz no incremento da intensidade e da duração do trabalho, perda ou quanto muito manutenção dos salários, ou então conhecer a angústia do desemprego num contexto de regressão social.
Perante isto urge perceber como se chegou a esta situação. Para a ATTAC, a origem do reforço do poder do capital altamente concentrado está nas políticas neoliberais que se tornaram dominantes um pouco por todo o lado desde os anos oitenta. Estas políticas têm-se traduzido na instituição de uma crescente liberdade de investimento e de circulação dos capitais. O poder das empresas multinacionais, que fabricam diferentes partes do produto final em diversos países, assenta pois na liberdade para poderem investir onde bem entendem.
Isto ocorre num quadro de fragmentação e heterogeneidade dos enquadramentos nacionais. O resultado é perverso: põe-se em concorrência os trabalhadores e os estados do mundo inteiro, terraplenando direitos e conquistas de décadas de luta social e política em todas as áreas: tributação dos capitais, protecção dos consumidores, legislação laboral ou protecção ambiental.
Esta não é, todavia, a última cena do filme. A história não terminou e ao mercado sem fim é preciso contrapormos uma cooperação sem fim. Nomeadamente é urgente reencontrar formas de cooperação dos trabalhadores que atravessem as fronteiras dos diferentes países. Em luta por uma nova globalização, onde haja agora lugar para cláusulas sociais e ambientais à escala do planeta.
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