Franco e Oliveira Salazar abraçam-se fraternalmente perante o olhar embevecido do presidente Roosevelt – em Ciudad Rodrigo no pós guerra quando o desfecho do conflito pendeu para o lado de cá - num recorte de jornal da época pode ler-se: “apesar do passado fascista de ambos, os dois ditadores foram aceites para converterem a península ibérica num ninho de bases militares da demokracia”. Torna-se evidente. Escusado será dizer que, a gestão dos territórios que sobraram de fora das bases militares de ataque indiscriminado a toda a espécie de alvos consoante os interesses de mercado (Bases que permanecem intactas) , esses territórios continuam também a ser geridos pela mesma mentalidade fascista dos seus herdeiros politicos.
Os 50 anos de Direitos, Garantias & Liberdades na Televisão
a Tv “informa pouco e mal e é culturalmente regressiva”(Habermas) a informação, em vez de transformar a massa em energia, produz ainda mais massa (Baudrillard) ; “as formas dominantes da Tv contemporânea tendem a funcionar como um imenso caudal de acumulações e redundâncias, não importando que no limite ninguém tenha um único dado palpável (João Lopes). O que conta é a manutenção do fluxo! Até á apoteose da tautologia que é a concretização de uma ordem em que se deixará de pensar” (Roland Barthes).
Apanhado numa engrenagem que o transcende, o espectador é reduzido a peão incauto - a verdade da “Imagem” que vê agregada a acontecimentos de que viu apenas parte, ou de todo não viu, passa a ser a sua “verdade”. A televisão modifica radicalmente (empobrecendo) o aparelho cognitivo do “homo sapiens” – por isso, a sua visão do mundo pode ser equiparada à da condição dos coelhos que são apanhados no meio da estrada no negrume da noite: perante o potencial mediático dos faróis, ficam encandeados pela repetição da luz das imagens: voilá! eis o “homo videns”. (Giovanni Sartori)
A primeira regra da desinformação é esta: a verdade é uma coisa específica que precisa ser comprovada, mas a mentira é uma coisa vaga. Ainda assim, estas “tarefas manipulatórias vagas”, chamemos-lhe assim, só podem ser desempenhadas meritóriamente, na óptica dos detentores do poder, por equipas coesas de aldrabões altamente qualificados. Ainda a propósito das indignas coberturas referidas no post anterior, para evitar um chorrilho de impropérios em letra de forma resultante dos maus fígados deste maldisposto anotador da pulhice indígena,
damos então a palavra a Rui Cádima, Prof. do Departamento de Ciências da Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa e Director do Observatório da Comunicação (Obercom) em entrevista ao Jornal de Letras.
JL – Qual o balanço que faz dos 50 anos da RTP?
- Rui Cádima – O balanço geral é negativo. As perguntas que me faço são: contribuiu a RTP para o engrandecimento do país? Ajudou à formação de uma opinião pública esclarecida, participativa, emancipada? Teve ou tem, de um mdo geral, uma visão desassombrada e distante da politica e dos politicos qua a têm (e nos têm) governado? Soube integrar a identidade cultural portuguesa, a experiência social, a virtude civil,etc? E a resposta é, claramente, não. Pior que isso, aparenta não estar interessada. Estes são, genericamente, os aspectos mais negativos. Momentos fortemente positivos ao longo dos 50 anos da RTP, isto é, aqueles em que se cruzou com o sentido da História e soube agarrar aoportunidade, por assim dizer, não são muitos. O que me parece mais emblemático desse feliz encontro é precisamente o Zip-Zip em 1969. Nunca como então a virtude cívica, o desassombro cultural e o risco politico terão ido tão longe na RTP, apesar da ditadura. Desse tempo temos que ressalvar ainda nomes como Vitorino Nemésio, António Pedro, David Mourão-Ferreira, que afrontaram o pequeno ecrã, com a força da inteligência. O que agora se pratica de forma dramaticamente inversa. Histórica, ainda, foi a era documental, de autêntico newsreal do pós-25 de Abril, com o empenho das cooperativas de cinema e de quase todos os cineastas portugueses. E o mítico “Informação/2”, da RTP de Fernando Lopes, depois silenciado por Proença de Carvalho.
Como vê hoje a RTP?
- Continuo a sentir uma grande tristeza por ver que o serviço público de televisão não sabe, ou não quer, contribuir para reflectir o país no pequeno ecrã, quer no que temos de grandioso (a começar pela História e a continuar nos actos de modernidade), quer no que temos de crítico (a começar pelo sistema de Ensino e pela iliteracia). Hoje, como no passado, acho que a RTP, começando naturalmente pela RTP1, não respeita nem legitima, com a sua programação e a sua informação, o financiamento público que os governos (ou melhor, os portugueses) todos os anos lhe concedem.
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