Dos ramos de uma árvore milenar balanceia-se, atado pelos tornozelos, o corpo do último rei dos Aztecas. Cortez cortou-lhe a cabeça.
Havia chegado ao mundo numa canoa rodeada de escudos e de dardos, e estes foram os primeiros ruídos que ouviu:
- A tua própria terra é outra. Estás prometido a outra terra. O teu verdadeiro lugar é o campo de batalha. O oficio que terás de aprender é dar de beber ao Sol o sangue do teu inimigo e dar de comer à terra o corpo do teu inimigo. Faz agora vinte e nove anos que os feiticeiros derramaram água sobre a sua cabeça e
pronunciaram palavras rituais:
- Em que lugar te escondes, desgraça? Em que parte deste corpo te ocultas? Separa-te deste menino! Chamaram-lhe Cuauhtémoc, a “Águia que Cai”. Seu pai tinha estendido o Império de um lado ao outro do mar. Quando o jovem Príncipe chegou ao trono, já os invasores tinham vindo e haviam vencido. Cuauhtémoc não se resignou e resistiu. Foi o chefe dos bravos. Quatro anos depois da derrota de Tenochtitlán persistem todavia, desde o fundo da selva, os cantares que clamam pela volta do guerreiro.
Quem amortalha agora o seu corpo mutilado? O Vento ou a Árvore? Não é a árvore quem o agita desde a sua vasta copa? Não aceita a árvore este corpo mutilado, como apenas mais um braço dos milhentos que nascem do seu tronco majestoso? Brotarão dela flores vermelhas? A Vida continua. A Vida e a Morte continuam.
(in: "Memórias de Fogo")
"Monumento a Cuauhtémoc: o Tormento"
"A Nova Democracia", 1945
Murais de David Alfaro Siqueiros
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