incluido no ciclo da Cinemateca "Samuel Fuller, o Outro Maverick"
O realizador Samuel M. Fuller nasceu em Worcester no Massachusetts, filho do rabi Benjamin Rabinovitch, um judeu imigrante oriundo da Rússia e de Rebecca Baum, uma judia imigrante polaca. Depois de se sentir incorporada na América a família mudou o apelido de Rabinovitch para “Fuller” literalmente traduzível por “mais completa e integrada”, uma homenagem subliminar aos religiosos puritanos “pilgrim fathers” sobreviventes do Mayflower. Samuel Fuller serviu no Exército dos Estados Unidos na 2ª Grande Guerra, sendo condecorado com a “Purple Heart”. Estamos portanto na presença de um herói na mais pura essência“americana”. Fuller começou a carreira no cinema em 1949 como argumentista. “Verboten” ("Proibido") foi a sua 12º obra, realizada em 1959. O filme integra registos reais filmados na época intercalando-os primorosamente com as imagens rodadas em estúdio. Mas a cópia exibida pela Cinemateca Portuguesa tem a duração de 79 minutos, o que é corroborado pelo programa impresso e distribuído da autoria de Luis Miguel de Oliveira, enquanto a versão original tem 87 minutos segundo a RKO e 93 minutos segundo o NYT. No final do post dar-se-á uma pista sobre os 8 minutos cortados, ou censurados, por razões por enquanto ainda não aparentes.
Sinopse. A apresentação do genérico faz-se com Paul Anka entoando o açucarado e foleiro “o Seu Amor é Proibido” em pano de fundo, o que nos introduz de imediato no universo manipulatório de Hollywood (o filme é o último produzido pela RKO). O jovem militar David Brent (James Best) integra as tropas de ocupação norte americanas nos últimos dias que precedem a apocalíptica queda do Terceiro Reich. Verboten começa com uma cena de combate na qual o que resta de um pelotão entra na cidade bombardeada e em ruínas de Rothbach em perseguição de um sniper alemão. Ao som da V sinfonia de Beethoven o alemão é astuciosamente abatido. Particularmente acutilante é o drama continuar a desenrolar-se nos mesmos locais tradicionais reconhecíveis pela toponomia: “Largo Martinho Lutero” ou “Adolf Hitler Platz”
No local onde cairam os campanheiros de Brent um grafitti inscreve "Sieg Heil". Por cima do corpo do alemão morto está gravada a saudação "Heil Hitler" e por baixo, numa inscrição mais recente “Verboten”. São os primeiros sinais de que o que se irá passar é o irónico apagar da sobrevivência dos ideais hitlerianos. Os sinais de poder e ideologia irão sendo meticulosamente substituídos, mas a verdadeira situação ainda não é obvia. Brent cai ferido e só desperta para descobrir que está a ser protegido pela alemã Helga Schiller (Susan Cummings), uma mulher aterrorizada (porque os engates entre alemãs e militares americanos foram terminantemente proibidos) mas que está “apostada em provar que há uma diferença entre um alemão é um nazi”. A verdadeira história porém regista que essa equação é pura propaganda. (obviamente, o registo seguinte não integra o filme de Samuel Fuller)
Helga tem um irmão, Franz (Harold Daye) que militou até em então na Juventude Hitleriana e que irá continuar a lutar integrando os hoje quase apagados da História grupos de guerrilhas na clandestinidade “Werewulfs” (Lobisomens) que ambicionam varrer do Alemanha as forças de ocupação enquanto jogam com o nascente mercado negro para agitar a insurreição contra os americanos.
Um vizinho de Helga, Bruno Eckart (Tom Pittman), regressa da guerra completamente esgotado e assume o comando da revolta, ironizando compreender que Helga se está prostituindo ao “apaixonar-se” pelo americano, como então passou a ser a normalidade para milhares de mulheres na “nova Alemanha” (humm) sob acção dos instintos mais primários de sobrevivência num mundo destroçado; e daí, o amor até pode ser genuino, quem o distingue? - "Pela primeira vez na nossa sociedade o teu sexo tem vantagem sobre o meu”, dispara Bruno ironicamente para Helga. A colisão entre o falso e o real em “Verboten”, entre a melodramática invenção e a tragédia autêntica é um aspecto que faz do filme um objecto sistematicamente inconsistente. No entanto abraça as contradições – estilísticas, emocionais e ideológicas - de tal modo perverso que o faz parecer tão moderno meio século depois. É o talento “noir” ao serviço de uma causa, a de uma nova visão para o mundo: a do IV Reich, herdeiro natural do Império alemão derrotado. Uma história pode ter terminado em determinado momento, mas a verdadeira situação terá de ultrapassar muitos anos de mentiras e manipulações grosseiras até poder ser percebida.
O sargento Brent passa algum tempo no hospital recuperando, o tempo suficiente para a guerra terminar oficialmente. Quando é desmobilizado não regressa à pátria, conseguindo um trabalho na administração civil do Governo Militar Americano em Rothbach, mantendo a ligação com Helga com quem pretende casar sem temer as directivas de confraternização politica impostas pelo Exército. As sabotagens e os atentados dos Werwwulfs porém colocam o trabalho de Brent em causa. A paisagem no pós-guerra no microcosmo de Rothbach é a de um dos amontoado de pessoas que passam fome; de açambarcadores e burlões que se tentam safar de qualquer maneira; sobreviventes dos campos de trabalho e de concentração são introduzidos no décor vestindo ainda as suas fardas listadas. As contendas e inimizades provocadas pela disputa de bens escassos entre alemães assemelham-se a uma guerra civil. Os edifícios têm mensagens de famílias a entes queridos desaparecidos pintado em grandes letras no meio cartazes nazis irremediavelmente datados. O imediatismo do realizador é evidente, na sua ânsia feroz de pôr a nu não só os crimes do nazismo, mas sobretudo os problemas colocados pela paz, as tentativas da narrativa para conciliar os opostos: cultura e barbárie, conquistador e conquistado, idealista e cínico, germanidade e americanismo, vítima e carrasco, protagonista do sexo masculino ou feminino.
Só o que o judeu Samuel Fuller não equaciona na laboriosa dicotomia entre o Deus vitorioso e o Diabo derrotado é ter sido o judeu Konrad Adenauer quem foi nomeado pelo vencedor como primeiro presidente do sector ocidental da Alemanha no mesmo ano de 1949 em que Fuller depois de desmobilizado e iniciou a sua carreira cinematográfica. Foi durante o mandato de Adenauer que a Alemanha Ocidental passou imediatamente a integrar a NATO.
Há uma manifestação de alemães em protesto. No meio dos tumultos David Brent perde a paciência com os manifestantes que reclamam o abastecimento de provisões e declara: "Nós não estamos aqui como libertadores ! Estamos aqui como conquistadores, nunca se esqueçam disso!” e tenta explicar os benefícios vindouros com os ideais do Plano Marshall: as forças americanas vão continuar a tentar governar o país pacificamente, mas o drama conseguido em “Verboten” é impulsionado pelas personagens alemãs na sua humilhante condição de lidar com uma herança envenenada. Há uma pós-mistura de guerra, de derrota abjecta e horror persistente. O medo do perigo comunista que ameaçava o Ocidente e que Hitler não tinha conseguido derrotar, virava-se agora para a interrogação propagandística sobre que tipo de loucura havia perpassado uma nação e o que significava uma sociedade que tinha passado séculos a ser construída para chegar a uma ruína vergonhosa; a força destroçada é agora reencaminhada para a culpa de indivíduos avulso dentro de uma paisagem aparente de vítimas que serão exploradas num trama de suspense.
Franz o irmão mais novo de Helga continua a fazer parte do “grupo terrorista”, quando de repente se anunciam os julgamentos de Nuremberga. Franz, apesar da sua adoração pelos nacionalistas, vê o sono perturbado quando os “Werewulfs” enveredam por assassinatos de alemães que Bruno e Otto consideram traidores. Aproveitando o rebate de consciência do jovem, Helga consegue convencê-lo a ir com ela a Nuremberga. Ali Franz vê horrorizado as provas filmadas dos “crimes nazis”: imagens montadas juntando clichés sobre as vítimas da epidemia de tifo em Bergen-Belsen por outro realizador famoso, John Ford, então igualmente recrutado pelas secretas OSS do serviço militar. Finalmente Franz compreende a obscena verdade, transformando-se veementemente contra a perdida causa alemã. Nos julgamentos de Nuremberga vê as imagens dos campos de extermínio; a partir daí está pronto para ajudar os militares americanos, e talvez o relacionamento entre a sua irmã e o sargento David Brent. O emprego de” imagens reais” (tanto por Fuller, como por Ford, tanto como nas bobinas exibidas em Nuremberga) são um meio eficaz de educação da democracia, estando porém ainda longe da eficácia da cine-indústria turistica do “genocídio de judeus” que se iria montar a partir de 1961.
O desejo de provocar a cumplicidade apaixonada do público (e de Franz) torna-se urgente. Helga abraça-o e aperta-lhe o queixo para o deter de desviar o olhar. Franz sai dali suficientemente inspirado para boicotar as operações da guerrilha. Tenta roubar as listas de cúmplices dos atentados programados o que leva a uma luta titânica e destrutiva num wagon ferroviário. Inicia-se um incêndio que finalmente consome o último militante da causa nazi.
O filme de Samuel Fuller contém inúmeras imagens dos Julgamentos de Nuremberga montadas com a voz autêntica do procurador de Justiça norte-americano Robert H. Jackson constituído como acusador público dos militares alemães capturados. Esta montagem constitui a parte fulcral de “Verboten”. São precisamente estes os 8 minutos que foram cortados na cópia da Cinemateca. Que se passou? A mentira é demasiado evidente para ser exibida sem que a clássica cinefilia judaico-hollywoodesca caia de vez no mais completo ridículo?
Aqui jazem parte das imagens cortadas:
12 comentários:
E DRESDEN, para quando um filme sobre Dresden?
os crimes de guerra cometidos contra os habitantes de Dresden constituem sem dúvida um episódio significativo: Há sobre ele inúmeras fntes disponiveis:
http://www.christusrex.org/www1/war/dresden-index.html
mas este post, sobreleva episódios isolados, trata de uma forma geral de todo o problema da Alemanha ocupada.
(para quando é que os "Anónimos" se resolvem a atribuir-se um nick?. é que assim são todos Anónimos, e nunca sabemos qual é o Anónimo que é diferente do outro Anónimo)
Danke meu caro.
Pesquisei há pouco e encontrei várias páginas no Revisionismo.
5 ***** pelo post.
É preguiça de não por nome, este é Meu!
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