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terça-feira, maio 08, 2012

os extremos tocam-se?













"Quando as forças nazis, cerca de três quartos de século atrás, quiseram transformar a Europa no “espaço vital” do imperialismo germânico, foram instalando nos países conquistados governos de ocupação encarregues de proceder a uma “regeneração nacional” baseada na tentativa de destruição do movimento operário e do comunismo. Hoje, o equivalente das divisões Panzer de Hitler são a “moeda única” e os programas de estabilização financeira e de equilíbrio orçamental, mas a essência da colonização imperialista dos países europeus é a mesma. A tróica, o Presidente da República e o Governo PSD/CDS são, em Portugal, os instrumentos de ocupação do imperialismo germânico. Como em qualquer governo desta natureza, a função dos respectivos ministros tende a surgir despida de artifícios, clara nos seus objectivos de exploração desenfreada e de repressão brutal de todas as manifestações de luta e de resistência. Há ministros para o roubo dos salários e dos escassos bens patrimoniais das classes trabalhadoras; há ministros para criar desemprego e impor o trabalho forçado e não pago; há ministros para desmantelar os mecanismos de protecção social e promover a liquidação física da população indefesa, dos reformados e dos idosos; há ministros para a desarticulação territorial do país e para o aviltamento da língua, da cultura e da memória colectiva do povo português; há ministros para a repressão e para a guerra; há ministros para a propaganda; e há também um ministro encarregue de promover o acantonamento das crianças e dos jovens em campos de concentração com fachada de escolas" (do "Luta Popular", orgão de informação do PCTP-MRPP)

o (sub)Imperialismo Alemão europeu concorre com o Imperialismo Global Anglo-Saxónico?

O poderio da economia alemã radica, reconhecido por todos, na força da indústria alemã, o que em si não é uma coisa má, pelo contrário, é um factor de admiração por parte dos povos cujos governos consentiram na sua desindustrialização, relegando-os para uma situação de perda de soberania face à actual divisão internacional do trabalho.

É um facto que a Alemanha domina a Europa através da moeda única. Mas será a Alemanha livre quanto à emissão do Euro? 

O Euro é o “dinheiro fiduciário” (1) emitido pelo Banco Central Europeu que circula nos países aderentes e serve como moeda de referência às economias indexadas ao projecto da União Europeia; o BCE, fundado em 1999, é constituído como uma sociedade comercial estatuída entre 17 bancos centrais da zona Euro quotizados entre si por determinadas percentagens detidas sobre o seu “capital social”. As 3 maiores economias (Alemanha, França e Itália) detêm quotas num total de 45,65%, Portugal 1,75%, a Holanda 3,98%, etc.(2). O Conselho do BCE é constituído pelos 17 governadores dos Bancos Centrais, que reúnem duas vezes por mês em Frankfurt (3), sendo o principal órgão de decisão do BCE, o que lhe confere uma aura de interesse público. Porém, o BCE, que está pelos seus estatutos proibido de emprestar o dinheiro emitido a Estados ou Entidadades Públicas, e opera como um Banco Privado, sendo a emissão do Euro sujeita ao pagamento de taxas de juro sobre as únicas entidades a que o BCE empresta dinheiro: aos Bancos Privados, tomando como garantia titulos de divida emitidos pelos Estados a esses mesmos bancos privados. Assim, o Euro é um negócio cujo objecto é a criação de Dívida, ou seja, esta ou aquela impressão ou cunhagem de determinada quantia de moeda, só adquire valor depois de cumprir a sua função: ser emprestada a juros – logo, o Euro é um investimento em determinado objectivo, o qual nunca foi, nem é, claro para a população em geral. As emissões de dinheiro pelo BCE não são subordinadas a quaisquer outras Instituições europeias, nem essa actividade é sujeita a qualquer auditoria independente; o Euro não é, portanto, um produto democrático intencionalmente produzido tendo em vista em primeira instância o bem-estar geral dos povos da zona Euro. Como produto emitido por uma Entidade subordinada a interesses privados, que recebe juros, o Euro não circula de forma aleatória - obedece a critérios que salvaguardam o interesse dos investidores privados que conformam o BCE e a Banca Privada que com ele se relaciona; investidores que passam de facto a ser os detentores da Dívida representada pelo dinheiro emitido.

O Euro, a Libra e o Dólar são moedas fiduciárias (que medem mais de 80% das transações mundiais), todas emitidas como um investimento de modo semelhante por forma a criar endividamento público. De facto é o Crédito que cria a Moeda. A diferença de importância de cada uma destas moedas mede-se pelos detentores/beneficiários da dívida que elas criam. No caso sui-generis do Japão (uma colónia económica indexada ao dólar) este país tem a maior Dívida do mundo, 204% do PIB, e no entanto ninguém fala nisso, porque os títulos dessa dívida emitida em yens são quase exclusivamente detidos por investidores nacionais japoneses. Ao contrário, por exemplo, de Portugal e da Grécia, cujas dívidas públicas são detidas quase exclusivamente por investidores estrangeiros. Há contudo uma diferença fundamental entre a tese do "imperialismo alemão do Marco travestido em Euro" e a tese do imperialismo global medido em Dólares e que é esta: o Dólar é emitido por um consórcio de sete bancos privados que tutelam o Federal Reserve System (FED) e, ao contrário do BCE, a FED pode e empresta dinheiro directamente ao Estado - o que confere aos Estados Unidos directamente todo o poder dos meios financeiros para a gestão imperialista global.

Em 1968 as transacções bolsistas representavam cerca de 18% do capital total cotado em Bolsa - eram ainda números sobre valores reais centrados na Economia. No ínício da década de 70 essa percentagem estabilizou-se nos 20%. Mas no virar do ano 2000 esse número já se situava nos 102%. Por outras palavras, as acções de empresas produtoras cotadas vendidas e compradas era no ano de 1999 de cerca de 100 mil milhões de dólares, enquanto os valores de titulos financeiros derivados medidos em papel especulativo (dólares igualmente) atingiam os 20,4 Triliões. Quer dizer: só 1% dos valores transaccionados representam capital de empresas reais, enquanto os outros 99% são produtos virtuais, negócios de apostas em casino dentro (e também fora) das Bolsas. Por essa altura (pouco antes da implosão da bolha da nova economia) os Estados Unidos absorviam 80% da poupança mundial atraída pelo investimento nos seus Títulos do Tesouro - medidos em dólares directamente impressos pelo consórcio privado FED. Titulos promessa de pagamento no futuro em dólares virtuais sobre uma dívida que actualmente ultrapassa os 15 Triliões: esta é a génese da Segunda Grande Depressão que se havia de declarar em 2007 (e não apenas pelas fraudes do subprime).

Vítimas das Circunstâncias, é o que nós somos, impedidos de poder ver...



No início dos anos 70, com os Estados Unidos atascados em pesados custos financeiros na Guerra do Vietname (4), pregou-se o primeiro prego no caixão da economia keynesiana, a qual funcionava através de investimentos do Estado, o Welfare State que providencia a redistribuição social (que em Portugal tardiamente e em contra-ciclo em relação à economia global, se efectivaria pelo Sector Empresarial do Estado só depois do 25 de Abril).

Os EUA, à beira do colapso face ao exiguo valor da sua produção para sustentar as despesas externas, abandonam unilateralmente a convertibilidade do dólar em ouro em 1971; e em 1974 resolvem abolir o controlo sobre os movimentos de capitais. Em 1979 foi a vez do Reino Unido, seguido do Japão em 1980. Na Europa continental a criação em 1990 do Mecanismo de Taxas de Câmbio do Sistema Monetário Europeu (SME) veio impõr a liberdade absoluta de circulação de capitais, não só dentro do espaço comunitário, mas também nas relações com países terceiros. Não foi uma livre escolha dos povos europeus, foi uma imposição, que viria a ser acatada em primeira instância pela Alemanha com a adopção da Agenda XXI que consagrou o neoliberalismo a partir do centro da Europa. A livre circulação de capitais (maioritariamente dólares como atrás ficou visto) sem qualquer controlo foi implementada pela revogação durante a administração Clinton do Glass-Seagall Act (1999) que veio permitir a junção dos bancos comerciais com os bancos de investimento, dando origem aos grandes conglomerados financeiros que actuam globalmente. Por esta altura, desde 1990, o Marco continua apenas a ser uma moeda regional, mas que sai da necessidade de ser subsidiada pelos capitalistas aliados ocidentais, como prioridade para fazer face à anterior ameaça soviética.

A regulamentação em vigor desde o New Deal (1933) impedia que os bancos comerciais negociassem (especulassem) com o imobiliário e com os investimentos em Bolsa. No ano 2000 a administração Clinton veio completar a revogação do ano anterior com a adopção do "Commodities Futures Modernization Act", que veio igualmente libertar de qualquer controlo os produtos financeiros derivados. É esta inauguração da economia de casino e a consolidação do neoliberalismo pelo saque dos fundos financeiros que temos de enfrentar. E a pergunta é: porque é que os partidos da Esquerda deixam aos partidos da direita radical o exclusivo de explicar estes fundamentos às massas populares em geral e aos trabalhadores em particular?

O lider do partido neonazi grego "Amanhecer Dourado", em conferência de imprensa após a vitória eleitoral não culpa o "imperialismo alemão" declarando apenas e tão só, concreto e incisivo: "a resistência em nome do interesse nacional continua... a Junta de ajuda aos Bancos tem de ser varrida do Poder, o povo grego tem de recuperar a sua soberania livrando-se da ocupação  dos fundos financeiros globais"


notas
(1) de “Fidúcia”, a confiança (certeza, segurança) que o público utilizador precisa de ter ao utilizar determinada moeda ou nota como meio de troca geralmente aceite. No actual estádio de desenvolvimento do capitalismo não existe papel-moeda sem a existência de um Estado que o avalize. (wikipedia) A confiança no dólar é proporcionada pelo poderio militar norte americano
(2) Conselho do BCE 
(3) Bancos Centrais Nacionais que constituem o BCE 
(4) "O Império do Dólar", Cadernos do Século, vários autores, 1970
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