Pesquisar neste blogue

domingo, maio 20, 2012

a situação na Grécia e o que pretende o Syriza?

Quem rejeitaria um Governo baseado na plataforma mínima dos 5 pontos apresentada inicialmente pelo Syriza em 8 de Maio? – o problema é que as condições face às novas eleições evoluem (ou degradam-se) rapidamente, obrigando os intérpretes do “socialismo em liberdade”, através de alianças impostas, a renegar na prática os propósitos entretanto tornados obsoletos – 70% dos gregos não pretende sair do Euro e a Alemanha pressiona para que esta questão seja alvo de um referendo. A chantagem europeia inviabilizará qualquer tentativa de formar uma cada vez mais impossível união entre a esquerda na Grécia, restando apenas os partidos pró-Troica para se conciliar alianças. As semelhanças com o quadro partidário parlamentar em Portugal e as analogias politicas ressaltam evidentes.


a Posição do Partido Comunista da Grécia: 
O que pretende o Syriza?

"A avaliação feita pelo KKE (Partido Comunista da Grécia) sobre os procedimentos que emanam de mandatos exploratórios a desenvolver no Parlamento burguês é que estes são uma fraude, na medida em que fazem parte de um plano geral para a manipulação das massas visando desarmar a luta da população, distraindo-a dos seus objectivos e colocando o foco principal no próximo processo eleitoral. Esta é a razão pela qual o KKE, quando foi questionado antes das eleições sobre o que faria no caso de receber mandatos parlamentares, esclareceu de forma honesta e corajosamente diante do povo (sem se preocupar com o custo que tal posição teria no que respeita a votos), que seria imediatamente prescindir desses mandatos. O KKE esclareceu que não irá participar num governo de gestão burguesa que objectivamente implique uma maioria que seja pela manutenção no euro, logo, contra a saída da crise. Estando muito bem informados sobre a posição e a prática dos outros partidos, sabemos que nenhum dos governos propostos, tanto aqueles a favor de "renegociação" ou aqueles a favor da "emendas" num novo Memorando da Troica podem resolver os problemas que se têm vindo a agravar desde a “ajuda”, ou até mesmo mesmo abordar as necessidades mais básicas das pessoas.

Este é o conteúdo de responsabilidade histórica, pelo qual a coligação social democrata SYRIZA denuncia a actuação do KKE, à qual este responde que os reformistas estão a demonstrar uma postura historicamente irresponsável em relação às pessoas. Respeitar a instituição dos mandatos não significa que as diversas partes devam fazer tentativas exploratórias com discussões hipócritas e propostas desde que uma ou mais partes decidiram não participar do governo na medida em que eles querem novas eleições que satisfaçam os seus próprios propósitos. Porque, por exemplo, não disse o SYRIZA desde o início que quer um governo de partido único, de modo a evitar este jogo miserável que, infelizmente, vai continuar durante as próximos semanas? Foi por este motivo que apelámos para as eleições de ontem, não porque as eleições constituam, como se costuma dizer, o culminar da intervenção do povo, a solução para os problemas do povo, mas, com a finalidade de parar o processo de enganar o povo. Em qualquer caso, estamos a caminhar para as novas eleições. Portanto, as pessoas devem estar prontas para intervir e tirar conclusões a partir deste processo de engano. Estes são jogos encenados. Mesmo que se tivesse formado um governo de último momento, as pessoas deviam novamente estar vigilantes porque as eleições estão sempre ao virar da esquina.

Velhos e Novos Dilemas (modernizados)

Avaliámos, ao mesmo tempo que os procedimentos de cada partido face aos mandatos obtidos tentam colocar no centro da atenção do povo novos dilemas enganosos, para que as pessoas fiquem presas aos velhos dilemas, para que a resistência das massas populares cada vez mais radicalizadas seja reduzida em face da pressão. Tais dilemas são:

Primeiro: euro ou dracma, apesar do facto de se saber que seja com o euro ou o dracma as pessoas continuarão a ser subalternizadas e desapossadas.
Segundo: solução grega ou europeia, apesar de que a questão será determinada pela luta de classes e do confronto na Grécia em primeiro lugar e, claro, a nível europeu, não por negociações, mas através do reforço do trabalho europeu e do movimento das pessoas na sua luta contra a UE, em ruptura com o directório burguês imperialista que a enforma.
Terceiro: Austeridade ou Desenvolvimento, tentando fazer esquecer que o caminho do desenvolvimento capitalista implica sempre austeridade, pouco nítida nas condições da competição capitalista, mas com maior nitidez na resolução das contradições inter-imperialistas
Quarto: Direita ou Esquerda. Memorando ou Anti-Memorando. Este dilema também assume outras formas, de acordo com os desenvolvimentos dos dois pólos de Centro-Direita e Centro-Esquerda, perante os quais o Syriza assume responsabilidades muito sérias, marginalizando e obscurecendo as contradições reais dentro da Grecia e na União Europeia.

As verdadeiras questões para o povo grego são estas:

Queremos uma Grécia de Trabalhadores Independentes e Livres dos compromissos europeus, ou uma Grécia anexada e incorporada numa União Europeia Imperialista? – a contradição real no interior da Grécia e da EU está entre as empresas capitalistas, as empresas monopolistas e os interesses das classes trabalhadoras, o auto-emprego na cidade e no campo, a contradição entre a capacidade de governo do poder do povo e o exercício do poder para a perpetuação da classe burguesa proprietária dos meios de produção.

Especialmente o Syriza, com as suas mutações contínuas e o seu programa geral, tenta usar uma fachada de Esquerda para convencer as pessoas de que os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores podem coincidir e ambos podem existir e prosperar em conjunto. Na verdade estão a pedir apoio social para um governo de Esquerda, com o manifesto desejo que as pessoas se limitem a aplaudir, numa condição em que as pessoas deviam ser mais exigentes, monitorando e emancipando-se em relação aos governos burgueses que as colocaram na actual situação. O Syriza quer impor a priori expectativas reduzidas para as pessoas, sujeitando-as ao dilema esquerda-direita, na lógica do “socialista” Pasok em 1980. Mas as novas condições “socialistas” de hoje é claro que não permitem uma fiel imitação do Pasok, que então tinha slogans avançados, tais como “a CEE a NATO são o Mesmo Sindicato” e “Fora com as Bases Americanas”. Hoje em dia o Syriza limita-se a uma má imitação dessas tácticas fora das práticas, o que é muito negativo para as pessoas.

Cada um dos Partidos que tiveram responsabilidade de mandato popular por eleições, e aqueles que tomaram parte nos diálogos, utilizaram as intervenções abertas da UE e do FMI para consolidar os velhos dilemas. Estas novas intervenções não são propriamente novas, desprezíveis e sem precedentes. Elas existiram antes no passado e abriram processos de chantagem durante os governos Papandreou e Papademos e continuarão depois das eleições qualquer que seja o governo que vier a ser formado. Neste ponto será também revelado que, a qualquer governo que prentenda manter a Grécia na União Europeia a todo o custo, não poderá negociar ou renegociar uma solução a favor do povo por forma a sair da crise, a favor dos direitos das pessoas. Finalmente, esse governo irá assinar as decisões da União Europeia, no máximo, proferindo algumas objecções menores como o Pasok fez durante o seu primeiro período de governo.

A única posição patriótica, a favor das pessoas, é o cancelamento unilateral da dívida, a luta pela retirada da UE, pondo assim cobro às suas chantagens.

Estas chantagem e dilemas intimidatórios estão criar dois novos pólos de dois partidos de rotação, com acções politicas absolutamente indolores para os grupos empresariais, e que no final são úteis à UE, na medida em que todos concordam com a participação na UE, cumprindo portanto os seus desígnios. As classes trabalhadoras e o povo em geral não devem reforçar estes dois pólos, contribuir para a sua reprodução ou apoiá-los de qualquer forma. Ao atacar a outra alternativa possivel, eles procuram estabilizar e incorporar na consciência das pessoas a inevitabilidade de assimilação pela UE e, consequentemente na NATO e na participação nas guerras imperialistas, apesar do facto de que eles não tocam neste último ponto, como se não dissesse respeito ao governo que vai ser eleito.

Não é de todo acidental que nos 5 pontos promovidos pelo Syriza e nas suas várias propostas à sociedade, isso não esteja incluído tanto como eixo central como no conteúdo, a saber: o que fará a delegação governamental do governo Tsipras quando participar numa cimeira da NATO?, qual a estratégia imperialista de "defesa inteligente" cujo tema irá propor?, ou seja, qual o objectivo, medidas e políticas para fazer frente à aliança imperialista mais inflexível e mortal?. O Syriza, fica claro, em busca de um governo de coligação onde seja maioritário, quer evitar comprometer-se agora para evitar que poucos dias após a formação de governo seja de imediato exposto pela assinatura da decisão de não alterar o que quer que seja no que respeita à NATO.


O ecletismo e a escolha dos temas são característicos dos 5 pontos do Syriza para que se possa aproximar de um público específico, como se um governo não tivesse que lidar com todos os problemas. Nesse campo testemunhámos a intervenção da Federação Helénica de Industriais para salvaguardar a estabilidade da Grécia na UE, em oposição ao povo e, acima de tudo, a de evitar a agudização da luta de classes. O partido Nova Democracia (ND) está a gozar com a consciência das pessoas com o argumento falacioso de que o Syriza está conduzindo o país para fora da UE e que o Syriza responde que vai garantir que a Grécia vai permanecer na UE a todo o custo, algo que até é verdade. Enquanto, ao mesmo tempo ele está mentindo quando afirma que a "UE é uma rua de sentido único" com a intenção de se tornar mais humano e popular. O PASOK afirma que pode encontrar um acordo com o Syriza, na medida em que este partido diga que é a favor da UE e do euro. O Syriza está a mentir quando afirma que irá cancelar o contrato de empréstimo e que irá libertar o povo da dívida pugnando por outro contrato social. E estes três, juntamente com a Esquerda Democrática estão a levar as pessoas ao medo, até mesmo à chantagem, mas com enfoques diferentes, colocando uma barreira contra uma solução alternativa realmente diferente e radical.


Estes são os dilemas que servem absolutamente para colmatar a agonia da classe dominante, confrontada com o perigo de uma revolta popular, para se juntarem a uma equipe política que sirva os seus fins criando um sistema bipolar novo (“socialistas” mais a ”esquerda democrática” na velha ambição de uma maioria de esquerda que conserve dentro dela completamente assimiladas as conquistas da direita). A esquerda que aspira a governar, que, alegadamente, não hesita em assumir responsabilidades, é o veículo ideal para a assimilação da subjugação, e mesmo da ruptura do movimento operário, a frustrar a sua aliança social com o auto-emprego na cidade e no campo. Armados com o bastão e, quando necessário com a cenoura, para transformar o movimento popular num mero ajuntamento de espectadores aplaudindo, comprados com benefícios temporários (migalhas nas condições de ofertas reduzidas, devido à crise e miséria), as actuações de uma tal coligação seria indolores para o sistema. Um objectivo especial para que este objectivo estratégico possa ser alcançado é enfraquecerem em todos os sentidos, incluindo o uso de repressão, o papel de vanguarda do KKE no movimento operário e popular, nas manifestações anti-monopólio e anti-imperialistas, ou para forçar que a sua mutação, de modo a que o essencial do sistema de segurança seja salvaguardado senão mesmo reforçado. Os únicos que ficariam satisfeitos com tal desenvolvimento seriam os industriais, os armadores dos navios, e os grupos monopolistas. Nenhuma destas duas tentativas de conjugação será bem sucedida.

A nova batalha eleitoral já começou. É uma oportunidade para as pessoas que sofrem entenderem que há um perigo real de que o radicalismo burguês, aquilo que eles demonstraram, é que a tendência de buscar uma solução alternativa será subjugada com a ilusão da "solução aqui e agora", a procura do mal menor, "algo de melhor" ou que quer que seja. Não estamos a viver nos anos 70 ou 80 durante a “nova democracia” e em seguido dos governos “socialistas” do Pasok, então com condições favoráveis para o capitalismo. Este período estava a terminar, o que permitiu determinadas concessões e reformas que foram inócuas na Grécia, uma vez que já tinham sido realizadas na Europa capitalista. O caminho do desenvolvimento capitalista conduz inevitavelmente à crise económica, às circunstâncias que temos hoje, quando uma vingança histórica foi decidida contra os povos da Europa através da abolição de todas as conquistas e concessões feitas depois da guerra e, no caso da Grécia, após a ditadura militar.

A oportunidade que actualmente se apresenta para aqueles que desejam realmente lutar por uma vida melhor, no meio da imagem grotesca desta semana de guerrilha de mandatos, quando cada partido tenta parecer agradável, podemo-nos apresentar como um negociador para corrigir militantemente o voto do povo, com a finalidade de fortalecer o KKE. Para reflectir sobre as acções essenciais das pessoas para sair da crise e pró-desenvolvimento das pessoas e, nesse sentido sobre o que um governo popular significa. O futuro será ainda mais difícil e as pessoas não devem jogar um jogo cuja única acção é esperar, e não deve acreditar que os resultados das eleições podem corrigir ou derrubar a bárbara linha política neoliberal que está instalada, enfim, que tudo isto é devido ao capitalismo e à assimilação da Grécia na União Europeia, com ou sem Merkel e Sarkozy. As pessoas têm nos dias que correm uma grande oportunidade para utilizar a sua experiência e não para deitá-la fora em nome da crise, dos dilemas e das ilusões. O povo e o país precisa de um Partido Comunista forte e de um movimento de trabalhadores totalmente emancipado de cada empregador, de cada instância de poder governamental e do tenebroso abraço da UE. Consequentemente, o voto deve servir a recomposição do movimento operário, a aliança social e esta é a razão pela qual o fortalecimento do KKE é importante. As pessoas vão pagar um preço elevado por cada milímetro que se retirarem desta perspectiva. O preço será de novo mais tormentos e decepções e a perda de um tempo valioso"

Atenas, 10 de Maio de 2012
Gabinete de Imprensa do Comité Central do KKE
.

Sem comentários: