Quem fala em ética e moral no Capitalismo precisa que lhe lembre que os métodos de Acumulação-do-Capital-existente-na-Realidade pela classe dos Super-Ricos estão longe de ser louváveis.
Podem sempre justificar a sua posição por herança (toda a propriedade é um roubo) e em segundo lugar por mérito. Mas é o contrário que acontece. Primeiro o mérito de espoliar a coisa pública, de seguida legar o produto do saque como herança. Warren Buffett afirmou que o "génio da economia americana é pôr ênfase na meritocracia, num sistema de mercado livre e no Estado de Direito, o que tem permitido geração após geração viver melhor do que os seus pais viveram". The Economist sugeriu que "pessoas bem sucedidas conseguem-no através da sua inteligência e de trabalho duro". Qualquer merceeiro nacional acredita numa "
hiper-meritocracia", em que
a riqueza é criada pelas pessoas mais inteligentes e motivadas. Tudo isso parece muito inspirador. Mas
os super-ricos tendem a fazer dinheiro em por métodos pouco meritórios.
1.
Apostar na subida de preços dos alimentos e bens essenciais. Chris Hedges observou que o índice de “commodities” do Goldman Sachs "é o mais negociado no mundo. A empresa acumula acções nas transacções de arroz, trigo, milho, açúcar e pecuária e as valorizações obtidas em Bolsa determinam preços para a alimentação básica que os pobres não podem pagar, sujeitando-os literalmente a morrer de fome. Numerosas fontes concordam que a especulação faz subir os preços das commodities. O
trigo, por exemplo, subiu de 105 para 481 dólares em apenas oito anos.
2.
Apostar em hipotecas que se sabe não poderem ser pagas - Em 2007, o gerente de “hedge funds” John Paulson conspirou com o Goldman Sachs para criar pacotes de hipotecas subprime de risco, de modo a que, por antecipação à crise imobiliária, poderiam usar o dinheiro de terceiras pessoas contra os seus valores emitidos, apostando na falência dos que compraram tal trapaça: bancos e projectos pessoais de inúmeros pequenos aforradores. Essa aposta bem sucedida e com seguros activos contra as instituições
valeu-lhes 3,7 mil milhões de dólares pagos pelos erários públicos.
3. Somando-se
o insulto que é em grande parte o rendimento de um gestor de hedge-funds considerando os objectivos atingidos e tributados pela menor taxa de ganhos de capital. Como é que eles merecem isso? Eles não. Como Dean Baker explicou: "considerando os interesses em presença...
esses ganhos não têm qualquer justificação económica.
Com a maioria dos outros incentivos fiscais há pelo menos o argumento de que servem para alguma coisa socialmente útil"
4.
Programas de incentivo de alugar casas às pessoas que perderam as suas casas. As grandes empresas de “private equity” (como a Blackstone ou a Remax)
estão a comprar casas hipotecadas e a alugá-las de volta a rendas mais elevadas que a prestação que o falido pagava antes. Ainda ssim é apenas um investimento enquanto esperam que os
preços das casas voltem a ser inflaccionados. Como proprietários que não usam o bem, essas empresas têm pouco interesse nas questões que afectam as comunidades a longo prazo. Possivelmente irão obter ainda mais lucros, voltando ao inicio, empacotando os contratos de aluguer em títulos e vendendo-os no mercado,
um processo perturbadoramente semelhante ao dos títulos que derrubaram a economia em 2008.
5. Sendo
banqueiros e protegidos pelo Estado, quase todos os grandes nomes participam em esquemas fraudulentos – o HSBC Bank lavava dinheiro para os cartéis de droga mexicanos. As vendas do Countrywide e do Wells Fargo tiveram como alvo negros e hispânicos na concessão de empréstimos subprime de valores exorbitantes. A GE-Capital (como o BPN) desfalcou biliões de dólares dos “clientes que angariou”. O Bank of America e o JP Morgan Chase escondeu biliões de dólares de bónus, perdas e empréstimos de investidores. Os Bancos cartelizaram as taxas de juros no
escândalo LIBOR, usando ilegalmente milhões de assinaturas roubadas aos proprietários.
6. Vender
acções na modalidade "você não pode perder” apostando em Wall Street. Com transações feitas em computador a alta velocidade, os programas informáticos podem identificar ordens de 'comprar', e comprar lotes de acções em poucos nanossegundos, e de seguida, vendê-los a um comprador identificado por alguns centavos mais. Ao fazer isso milhões de vezes por hora, biliões de dólares podem ser extraídos dos
fundos de investimento de segurança social que garantem as prestações de reforma. A eficácia da estratégia em sugar esses e outros fundos financeiros, a maioria de emissões públicas, foi confirmada por dados recolhidos em fóruns, os quais concluíram que dos dados tratados em 1278 dias - em 1277 dias tinham ganho sempre dinheiro. Ou seja,
num período de cinco anos apenas num único dia tinham dado prejuízo.
7.
Verificar o portfolio de acções todas as manhãs. Num ano,
a Forbes elabora a lista dos “400” norte-americanos que ganham proporcionalmente mais que o orçamento combinado para habitação social, subsídios para infantários, alimentação de crianças e mulheres grávidas, programas de rendimento mínimo garantido, subsídios de desemprego, assistência temporária a famílias problemáticas e subsídios de arrendamento.
Estes 400 sortudos foram os principais beneficiários de um mercado de acções que cresceu 4.700.000.000.000 dólares apenas num ano…
8. Ter os amigos e parentes certos nos lugares certos. Por exemplo, ter como padrinhos Fred Koch (o
dono da maior rede de refinarias dos EUA que
enriqueceu a fazer refinarias para a URSS) ou Sam Walton ( o dono da Walmart, a maior cadeia retalhista mundial, empresa da qual Hillary Clinton era
contabilista no Arkansas nos anos 90), entre milhares de outros exemplos. Os autores da mitológica teoria da Meritocracia dizem muito bem: "Na corrida para chegar ao topo, os efeitos da herança deve vir primeiro e em segundo lugar o mérito, e não o contrário". Grande parte da riqueza individual foi assim feita por indivíduos que tiveram as conexões certas. Os executivos de Silicon Valley, a meca dos alegados self-made-men visionários da tecnologia, não são diferentes. Uma análise da Reuters concluiu que o grau de prestígio e conexões pessoais para poder obter investimentos são "pelo menos tão importantes como uma grande idéia" para os empresários de Silicon Valey.
Nenhum destes métodos de fazer dinheiro são produtivos, ou sequer louváveis, ou demonstrativos de uma meritocracia - talvez Deméritocracia seja o termo mais adequado.