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terça-feira, junho 14, 2005

"Os raros homens
Que foram assaz loucos para não guardar o que lhes ia no coração
E revelaram ao povo os seus sentimentos e os seus pontos de vista
Foram desde sempre queimados ou crucificados"
Goethe

"A perseguição à criatividade artística, quando esta desrespeita imposições de poderes autoritários, foi de todos os tempos e lugares. Coagiu, limitou possibilidades, cortou o caminho a muitos. Não conseguiu porem evitar que, vencendo formas directas ou indirectas de repressão, uma arte de intervenção, correspondente a grandes movimentos de transformação social, acabasse por vencer todas as barreiras e passar a sua mensagem através de novos e enriquecedores recursos formais.
Ao contrário do que afirmam alguns críticos, não é porem a repressão que “provoca” os novos movimentos.
Não se registando uma intervenção repressiva, a mensagem e a criatividade formal acabam por irromper dentro do próprio sistema".
Álvaro Cunhal: “A arte, o artista e a sociedade”


Júlio Pomar - A Marcha, carvão e aguarela sobre papel (1946)

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

* Ao contrário da imagem totalitária que os Media, afectos ao 25 de Novembro e à ideia liberal subsquente, sempre quiseram fazer passar, Álvaro Cunhal foi um moderado.Sintomática é a estória contada por Adelino Gomes no regresso de Álvaro Cunhal a Portugal após o 25 de Abril quando já no aeroporto Charles deGaulle mudou súbitamente do voo da Tap de manhã, para um da Air France à tarde para que não fizesse todo aquele Paris-Lisboa no mesmo avião em que "estava previsto que viessem uns radicais" (entre eles José Mário Branco) e assim se evitassem "complicações"
* “A via defendida pelos dirigentes do Partido Comunista – escrevia a revista da Politica Operária em 1964 – só pode facilitar o triunfo de um golpe militar e o escamoteamento da revolução pela burguesia, a passagem de Portugal dum regime capitalista antiquado a um capitalismo moderno” – o que de facto aconteceu, como hoje todos sabem. Chega agora a vez de a “nova esquerda”, na luta contra o neoliberalismo, nos impingir as velhas receitas do PCP, revistas e aumentadas.
Francisco Martins Rodrigues (ex-dirigente do PCP na década de 50)

* "Vão-se embora, já saíram todos!"
O conflito sino-soviético motivou confrontos políticos e ideológicos tremendos entre comunistas e maoístas dentro do campo antifascista.
Um ódio intenso foi cavando uma rivalidade belicosa entre essas duas correntes políticas. Para os "marxistas-leninistas", os militantes do PCP eram "cunhalistas" ou "revisionistas". Aos olhos destes, os membros dos grupos "m-l" não passavam de "esquerdistas, provocadores".
No Forte de Peniche chegou mesmo a passar-se do insulto verbal a confrontos físicos no início dos anos setenta. Quando lá entrei, em Março de 1974, já os dois colectivos estavam separados em pisos incomunicáveis entre si. Chegada a hora da libertação, os presos do colectivo maoísta recusaram-se a ir saindo sem os camaradas que o general Spínola queria manter encarcerados por terem cometido delitos de sangue. Enquanto decorriam as negociações com advogados para resolver o impasse, os presos do PCP foram saindo ao longo da tarde e da noite de 26 de Abril.
Quando, finalmente, todos os presos maoístas passaram o portão exterior do Forte às três da manhã de dia 27, qual não foi o espanto quando ouvimos da boca das nossas famílias o que se passara horas antes. Ao completar a libertação dos seus presos, quadros do PCP disseram aos populares de Peniche, concentrados à saída da prisão, para irem para casa, pois lá dentro já não estava mais ninguém.
O sectarismo cego e obtuso tomou o freio nos dentes ao longo dos meses seguintes, mas veio logo ao de cima quando a liberdade dava os primeiros passos.
António Perez Metelo no DN

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