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segunda-feira, outubro 24, 2005

Efeméride (?) - Os caminhos do fascismo

Agora que tanto se fala do fim da 3ª Republica, Helder Costa, evoca os conturbados tempos finais da 1ª Republica. Com um orçamento de Estado que comtempla 0,5% para a Cultura, o Teatro "a Barraca", que fala hoje de questões inconvenientes, está com os subsidios cortados. Convinha que todos fôssemos ver esta peça. Então, como agora, os caminhos não foram (nem são) brandos,,,


"A 19 de Outubro de 1921, o primeiro ministro demissionário, António Granjo, e os heróis da República, Machado dos Santos e Carlos da Maia, foram assassinados, sem que os mandantes do crime viessem a ser identificados. Este é o tema da peça “O Mistério da Camioneta Fantasma”, que estreiou no Teatro “A Barraca”, em Lisboa, no dia em que se assinala o 64º aniversário dos trágicos acontecimentos. O texto e a encenação são da autoria de Hélder Costa.

JL – Como nasceu esta peça sobre o mais sangrento dos golpes que ocorreram em Portugal, durante a 1ª República?
Hélder Costa – É um golpe envolto em mistério. Eu tinha ouvido falar disto a um historiador, quando exilado. A seguir ao 25 de Abril, o jornalista Carlos Ferrão publiicou um artigo em que dava algumas pistas sobre o assunto, mas sem grandes certezas. Fui-me interesando pelo assunto, fui investigando e estou convencido de que descobri a trama toda.. Na origem destes assassínios está um jogo de monárquicos que fizeram golpes, contra-golpes e até infiltrações na Guarda Nacional Republicana, sempre com a cumplicidade do Rei Afonso XIII de Espanha, que não queria esta “anarquia” à sua porta. Penso que se trata dum acontecimento muito interessante porque, entre outras coisas, nos permite verificar como o fascismo acabou por chegar, demonstrando, simultaneamente, que havia uma incapacidade da parte da República em matéria de justiça. Por outro lado, é muito, muito interessante verificar como tudo aquilo acaba por se ir deslindando devido à acção duma mulher, a viúva de Carlos da Maia. Desesperada com a ineficácia da justiça, ela publicou um livro onde indica uma série de pistas que já dariam para abrir o processo. Mas deu-se, então, um daqueles “milagres” à portuguesa, que foi o 28 de Maio. E nunca se fez justiça.

JL – A peça estabelece “pontes” com o Portugal de hoje?
Hélder Costa – Embora me interesse mostrar a sociedade daquela época, não fiz uma coisa historicista. Como sempre, quero alertar para perigos que teimamos em não ver. As pessoas dizem que, em Portugal, já não pode haver golpe militar porque estamos na União Europeia, mas, que eu saiba, nesta mesma União Europeia existe um senhor chamado Berlusconi. Os republicanos também acreditavam na Sociedade das Nações e que a Alemanha não podia criar o nazismo. A guerra Civil de Espanha foi consentida, inclusivamente pelo governo de esquerda que existia em França. O que pode acontecer? Não sei, por isso, é que devemos estar atentos".

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