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quarta-feira, dezembro 20, 2006

“Sandino” (1989)
o filme do realizador Miguel Littin, sobre a vida do revolucionário considerado como o primeiro “General dos Homens Livres” na América, fundador da independência da Nicarágua contra a ingerência dos Estados Unidos, cujo papel principal é desempenhado por Joaquim de Almeida, inédito entre nós, em vez de ser exibido como anunciado, foi Censurado.

No âmbito da planificação cultural que decidiu da unificação da Ibéria como ideia politica neoliberal na prestação se serviços (sub-imperialistas) para a America Latina e África, a EGEAC, o Departamento que trata da cultura na Câmara Municipal de Lisboa, co-produziu no cinema São Jorge, em conjunto com a “Associação Lumiére Noire” de Barcelona, o festival de cinema ibérico - uma coisa chamada “Hola Lisboa”. O evento, que exibiu algumas peliculas interessantes como “Babel” (co-prod. USA-México) “90 Milhas” e “Salvador” (Espanha), “El Brigadista” (Cuba), “Movimentos Perpétuos”(*) e “Pele” (Portugal), “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (Brasil) e “Oxalá Cresçam Pitangas” (co-prod Portugal-Angola), foi um fiasco, pela não promoção e subsquente ausência de público.
Para o encerramento prometia-se uma gala para distribuição de prémios, os “Galos de Ouro”, uma homenagem a Joaquim de Almeida pela sua carreira, e a exibição de "Sandino".

Aquilatando da qualidade da organização, que “meteu” discurso do vereador do pelouro da CML e tudo, a sessão foi apresentada por um fulano (benza-o deus) famoso por ter ganho o concurso “Bar da TV”; integrando o júri a estilista Fátima Lopes. As "gaffes" e o amadorismo foram uma confrangedora constante. Joaquim de Almeida, visivelmente embaraçado, depois de receber a estatueta do “Galo”explicou às não mais de meia centena de pessoas presentes que (citando), “a rodagem do filme feita na Nicarágua foi dificil porque coincidiu com a guerra verdadeira, patrocinada pela CIA na ajuda aos Contras para acabar com a “Frente Sandinista” então no governo”. A obra de Littin, cineasta chileno obrigado a exilar-se em Espanha a partir de 1973 depois do golpe de estado de Pinochet, é a narrativa da segunda guerra (1926-1934) de ingerência dos EUA no exterior (a primeira foi Cuba em 1898), e não é coisa de que os norte americanos se possam orgulhar – o filme conta a história dos crimes que levaram ao poder o sanguinário ditador pró-americano Anastácio Somoza que comandou durante décadas um regime de terror implacável. “Quando “Sandino” ficou pronto” continuou o actor português, “e os métodos de intervenção externa dos EUA (então ainda pouco conhecidos) para a expansão dos seus interesses comerciais foram expostos, a própria CIA interveio e inviabilizou que o filme fosse exibido nos Estados Unidos. E concluiu: “Enfim, esperemos que agora com esta vitória dos democratas este tipo de práticas, que atingem hoje a maior paranóia de sempre, termine de vez e se consiga expulsar o expoente máximo da ilegalidade que é este presidente”
A seguir à sessão de entrega dos prémios, metade da escassa assistência abandonou a sala e começou a exibição. Estranho, a pelicula não tinha genérico de apresentação, as legendas em inglês só se liam pela metade; o filme começou por uma cena de repressão das forças de ordem sobre a população faminta e indefesa. Pouco depois Sandino é preso e fuzilado. Que diacho, então ainda agora começou e matam-nos já o nosso herói? – após breves minutos começam a correr os créditos finais. A bobine só continha vinte minutos dos 136 minutos totais, e ninguém da “organização se tinha dado conta disso”.

Uma dúzia de indispostos lá protestaram, sem obter qualquer resposta ou explicação, e por fim os próprios funcionários da EGEAC devolveram o dinheiro dos bilhetes. Impávidos e sem abrir a boca lá ficaram Edgar Pêra (* um dos premiados) e a namoradinha, a coquette Joana Amaral Dias, pavoneando-se pelo foyer, sem manifestarem qualquer opinião. Aliás, apanágio de uma certa “esquerda” nem tinham lá ido para ver “Sandino”, obviamente. E aqui está, a forma como a CML dispende as verbas da Cultura. The End e uma sugestão: podiam entregar isso ao LaFéria, ao menos sabiamos antecipadamente com o que se podia contar.

(*) Edgar Pêra, durante o festival, dirigiu um “workshop” em que jovens estagiários das escolas de cinema ensaiaram filmar sobre o tema “Tortura” ácerca de Guantanamo e das prisões secretas da CIA. Segundo informe dos organizadores, e perante um encolher de ombros de Pêra, também “por motivos burocráticos” nada disto foi exibido. Tomem lá (dai cá) dinheiro e deixem-vos (nos) andar entretidos,,, (pareceu-me ouvi-los “civilizadamente” pensar, a uns e a outros). Tortura? é essencial que estas coisas não passem dos papéis de estimação arquivados nos esconsos das élites. E repare-se como os links do "Festival" já desapareceram imediatamente do mapa (www.holalisboa.com)
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