“Ao contrário do que sugeria o “pai” da ciência económica, Adam Smith, o preço dos produtos não é uma função do custo de produção mas, sim, das preferências dos consumidores” – isto é dito por um dos vários Economistas membros da Causa Liberal do blogue “Insurgente”, citado no DN 22/5/06
Os suspeitos do costume contorcem-se em revisionismos malabaristas para tentar explicar que tudo aquilo em que dantes eles mesmo acreditavam, e queriam fazer acreditar aos outros, afinal estava errado. Falta-lhes contudo reconhecer, 150 anos depois de Marx, que a “mão invisivel” do laisser faire, o deixa andar, afinal precisa de uma “mão armada” bem visível. Acontece que a fundamentação da teoria económica não pode ser dissociada dos factores de produção determinados pela posse dos meios de produção. (vale a pena seguir o raciocínio da corrente Liberal) para se concluir que o modo de acumulação da expansão capitalista desemboca forçosamente na desregulamentação Neoliberal (de prática neocon) – que não deixa qualquer viabilidade de regular a corrupção endémica inerente ao sistema capitalista. Sendo o Neoliberalismo uma resultante lógica do Liberalismo, não há terceiras vias - o que deixa incólume no terreno a outra alternativa possivel: o Marxismo.
Os argumentos em que assenta a suposta superioridade do “comércio livre” começaram em David Ricardo que introduziu em 1821 nos “Principles of Political Economy and Taxation” a Teoria das Vantagens Comparativas. Segundo ele, os paises deveriam escolher quais as produções em que teriam maiores vantagens e especializar-se nelas, trocando-os depois no mercado internacional por outros produtos que não teriam condições ideais para serem criados no âmbito nacional. Ricardo, para provar a sua “teoria”, dava como exemplo Portugal e a Inglaterra em que ambos os paises produziam vinho e vestuário, mas onde Portugal era um produtor mais eficiente de vinho e por isso detinha nesse campo grande superioridade sobre a Inglaterra. Assim a teoria da vantagem comparativa pretendia demonstrar que, se Portugal se especializasse nos vinhos e a Inglaterra no vestuário, ambos os paises ganhariam nesta divisão internacional de trabalho, retirando vantagens e beneficios mútuos nas trocas. O que Ricardo não teve condições de prever, foi a génese do imperialismo: pouco tempo depois a propriedade da produção de vinho em Portugal estava maioritariamente nas mãos de cidadãos e empresas inglesas, cujo exemplo mais conhecido são os vinhos do Porto.
Apesar da teoria estar à partida armadilhada pela questão da posse dos meios de produção, os economistas “mainstream” continuam a aceitar-lhes as bases como válidas, acrescentando-lhes novos refinamentos; hoje em dia o mais importante up-grade é a teoria de Hecksher-Olin que diz que os paises do 3º mundo que são carentes de Capital devem especializar-se naquilo de que podem dispôr: a produção de mercadorias de mão de obra intensiva, trocando depois esses produtos com os paises onde o capital abunda e a mão de obra é escassa – o que acabaria por, através dos mecanismos de formação dos preços, por promover a equalização de uns e outros. Por sua vez a teoria de Stolpler-Samuelson argumenta que os rendimentos sobre os factores de maior escassez, trabalho nos paises ricos e capital nos paises pobres, teriam ambos a ganhar com o “Comércio Livre”; ora Teoria das Vantagens Comparativas e as suas conclusões baseiam-se num pré-determinado número de assumpções:
1 – que há competição perfeitamente igual entre empresas
2 – que existe pleno emprego em todos os factores de produção
3 – que trabalho e capital são perfeitamente móveis entre paises e ambos se mantêm estanques dentro das fronteiras nacionais.
4 – pressupõe que os ganhos de um país obtidos através do comércio são embolsados por aqueles que vivem no país e são gastos localmente.
5 – a balança comercial externa está sempre em equilibrio
6 – os preços de mercado reflectem o valor real (social) dos custos dos produtos
Até as mais breves considerações sobre estes tópicos revelam de imediato que os pressupostos da teoria das vantagens comparativas que presidem ao Liberalismo são irrealisticas e que a pretensa superioridade do Comércio Livre é um mito.
Por exemplo, a India apelidada como “a maior democracia do mundo” começa agora a mostrar, (pela escrita dos jornais: “a ponto de se tornar numa potência emergente, a par da China”), como um país pobre pode beneficiar da globalização, mormente como a grande maioria dos portugueses envolvidos de alma e coração na importante visita de Cavaco Silva. Será verdade?: a India é um país muito pobre; o PIB por cabeça dos indianos é menos de metade dos chineses (que ganham menos de 50 cêntimos por hora em empregos precários). Na India ainda sobrevivem da agricultura dois terços da população activa. Numa população de 1,2 mil milhões, 700 milhões vivem no limiar da miséria e 260 milhões sobrevivem com menos de 1 dólar por dia. Potência emergente? - Infelizmente a India possui graves carências no campo de intérpretes de Fado, justamente onde, fado dum ladrão, nós temos grandes excedentes, e esta foi a principal razão porque Cavaco Silva levou na sua comitiva de 66 empresários +1: a Kátia para cantar num hotel de 5 estrelas. Surpresa geral: Cavaco não levou a passear nenhum futebolista, outro cluster onde as nossas exportações são fortes.
(fotos gentilmente caçadas aqui)
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Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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terça-feira, janeiro 16, 2007
a Carreira das Índias, Adam Smith e a Kátia Guerreiro
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