Depois de Durão Barroso, Paulo Portas e Santana Lopes, a Direita tinha desaparecido na voragem do neoconservadorismo; estes personagens tornaram-se rapidamente odiosos perante a opinião pública e tinham-se eclipsado do mapa das intenções de voto. O Zé votou em massa na Esquerda - mal sabendo que ia ser de novo enganado. Porém, para repor o velho maniqueismo "ou eles ou nós" de que se governam as élites no Poder há séculos, a Direita precisava de uma "causa fracturante". Eis o Referendo. Perca ou ganhe, a Direita apoiada no fundamentalismo católico aí está de novo, reagrupada, para tomar conta da outra metade que andava perdida.
o BCP, o banco da OpusDei fundado em Portugal com os capitais em fuga do falido Banco Ambrosiano do Vaticano, ficou célebre por vedar o acesso nas suas dependências ao emprego de mulheres – segregadas no direito de igualdade, em virtude dos condicionalismos previstos la lei no que respeita à procriação – preceitos legais que prejudicavam a produtividade das mulheres em relação aos homens – que, graças a deus, não precisavam de licença de parto. Em 1996 num quadro de 2946 trabalhadores efectivos apenas existiam 22 mulheres – ou seja, uma quota de 0,74% - obrigadas ainda assim a asssinar uma cláusula em que se comprometiam a não emprenhar. Isto é, tinham uma posição contra a Vida, na medida em que era discriminatória de género*. Contudo, invertendo diametralmente o discurso,
sabia, que agora o BCP (Opus Dei) deu 900 mil euros para a campanha do Não? (Com o dinheiro a correr a rodos, existem 16 movimentos pelo Não e 5 pelo Sim)
Zita Seabra, uma notória ex-militante do “na minha barriga mando eu” fez o percurso inverso e, junto com o beato Bagão Feliz ambos esgrimem agora argumentos grosseiros; António Borges da Goldman Sachs, eminência parda do PSD e a “zézinha” Nogueira Pinto fizeram as contas aos custos da liberalização: segundo eles cada aborto custaria 650 euros ao Estado – a desonestidade está em que a pergunta que é feita no Referendo é feita sobre a “DESPENALIZAÇÃO” e não sobre “a liberalização” – assim como assim, quanto às ma$$as, quem recorre ao aborto clandestino em condições deploráveis e põe a sua vida em perigo, já tem de recorrer in-extremis às urgências hospitalares – os custos não só são os mesmos, senão ainda mais agravados.
O défice de nasciturnos - o facto de em Portugal nascerem à volta de 100 mil crianças por ano quando para evitar o declinio da população seria preciso que nascessem mais 50 mil (DN 9/1), ” ou o doutor Gentil Martins truncando truculentamente o conceito de “life saving abortion” conforme invoca a Associação Médica Mundial (WMA) cujos preceitos já são aplicados nos paises desenvolvidos da União Europeia há mais de 30 anos, nada disto, tudo o que está em causa, deveria ser invocado em nome de uma guerra eleitoral em volta do “estatuto juridico do não nascido” – cuja finalidade única, em prol de quem convocou o referendo é retirar dividendos politicos, quando a lei poderia muito bem ter sido aprovada pela maioria existente na AR, sem os custos de uma campanha eleitoral num país em crise – o referendo corre por conta e a favor dos neo-conservadores escudados por detrás da ICAR, ambos grupos fundamentalistas, apostados na viragem para um novo paradigma à direita – e cujos argumentos visam promover a abstenção, o verdadeiro inimigo dos que votam Sim.
O governo neoliberal do Partido "Socialista" sabia que, (citando Miguel Vale de Almeida no MDiplo/Jan07): “o debate sobre a “vida” é uma batalha perdida; e receia o pânico a-feminista de entrar num debate sobre os direitos e a igualdade de género*. Do outro lado, não há hesitações de espécie nenhuma: a Igreja católica, por exemplo, promove um concurso de arte infantil sobre a vida intra-uterina denominado “A minha primeira morada”. Reparem bem: morada. A metáfora imobiliária é clarissima: o útero não é da mulher, o útero é do inquilino (o feto) e/ou do proprietário – o Estado, a Igreja, a sociedade”
(fotografias: Irving Penn)
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