
“As reticências da França em acompanhar o governo dos EUA nas ameaças de sanções ao Irão não têm as motivações meramente politicas que muitos supõem, muito menos escrúpulos pacifistas. Aproveitando-se da ausência das empresas norte-americanas, proibidas de negociar com o Irão, excomungado por Bush como um “Estado Pária”, as multinacionais europeias, sobretudo francesas e alemãs, precipitaram-se nos últimos anos sobre as oportunidades de investimento naquele país. Só à sua parte, as multinacionais francesas terão investido no Irão 20 a 25 mil milhões de euros, sobretudo na exploração do petróleo e do gás. O banco BNP, a Socité Générale, Total, Gaz de France, Peugeot, Renault, Citroën estão entre os grupos com maiores interesses no mercado iraniano. Como revela o Le Monde, ainda há um mês foi anunciada a assinatura de um contrato entre a Comp. Iraniana de Petróleo e a Société Générale para a exploração de uma gigantesca jazida de gás off-shore, no valor de 2,7 mil milhões de dólares.
A aplicação de um embargo à venda de petróleo iraniano e à exportação para o Irão dos produtos de que aquele país (medicamentos, locomotivas, produtos químicos, etc.) causaria enormes prejuizos aos capitais investidos. Mais indesejável ainda para as multinacionais europeias seria a perspectiva de um ataque militar, que comprometeria a retribuição dos empréstimos e poderia significar a perda dos investimentos efectuados. Sem falar da China, Índia, Japão, que dependem em grande medida do petróleo iraniano.
Seria porém perigoso excluir que a degradação da situação militar no Iraque possa empurrar a administração Bush a uma nova aventura – um ataque de surpresa às instalações nucleares iranianas, colocando as demais potências perante o facto consumado, como aliás fizeram em 2003 com o Iraque”
(A.Lobo, na “Politica Operária”)

Em 26de Julho de 1956, perante uma recusa dos EUA, da Grã- Bretanha e do Banco Mundial financiarem a megabarragem de Assuão, Nasser anuncia a nacionalização do Canal de Suez: “O canal foi aberto por 120 mil egipcios, muitos dos quais encontararm aí a morte. A Socedade do Canal de Suez, em Paris, vive da exploração. Retomaremos os nossos direitos, porque este canal é propriedade do Egipto. Com os rendimentos do canal pagaremos a construção da barragem”
O entusiasmo dos egipcios e dos povos árabes é imenso. Os governos inglês e francês, logicamente, consideram o desafio intolerável e preparam “medidas enérgicas” contra o “saqueador insolente”, “o novo Hitler”, etc. A Inglaterra, porque não admite perder o “protectorado” sobre o Egipto. A França, porque espera que o derrube de Nasser a ajude a dominar a insurreição argelina. Apesar da relutância de Washington, organizam uma provocação com Israel, cujas tropas penetram em território egipcio. É o pretexto para uma força expedicionária anglo- francesa invadir o Egipto a fim de “separar os beligerantes”. A aventura corre mal porque os EUA e a URSS combinam-se e exigem a retirada dos invasores.

Sem comentários:
Enviar um comentário