reformismos, reality tv e a cultura da pipoca
abriu ontem a Feira do Livro e, avisando os mais distraídos para o evento, estiveram presentes dois dos maiores standes em cuja escolha por tradição habitualmente recai a preferência dos consumidores, a saber: a “RTP” na figura do seu carro de exteriores (em representação dos milhões que não viram o Livro mas leram o Filme) e o das “Pipocas da Joana”, gordurosa e (des)gostosa alegoria aos beduínos que vagueiam no deserto dos 90 por cento de palha em busca do tempo a perder nos minúsculos oásis onde se possa beber qualquer coisinha de interesse; efectivamente,
“Muitos homens iniciaram uma nova etapa na sua vida a partir da leitura de um livro”, afirmou Henry D. Thoreau (vidé "a Desobediência Civil")
E mesmo a propósito da situação que se vive em Lisboa (reflectida na penúria do apoio da CML a esta feira), eis o livro do dia de hoje na “Antígona”:
“Homenagem à Catalunha”, preço de feira 9 Euros (preço normal 16 Euros)
Qualquer badameco intelectual cita Orwell (normalmente os oriundos dos meios mais retrógados e conservadores), mas citam-no fora do contexto em que as frases presentemente metaforseadas em bombásticas foram escritas ou proferidas – sem atender ao facto de a crítica brilhantemente produzida por Orwell (de seu verdadeiro nome Eric Arthur Blair) se insurgir contra as práticas dos falsos profetas que, intitulando-se de revolucionários, pautam as suas acções a contracorrente de qualquer mudança progressista – Orwell foi, portanto, repondo a verdade, autor de uma crítica à esquerda feita pela Esquerda!
“Escrevo porque há uma mentira que quero denunciar, um facto que pretendo destacar, e a minha preocupação primeira é a de me fazer ouvir”
George Orwell (1903-1950)
“Escrita no final da guerra civil espanhola a partir da sua própria experiência na frente de combate, “Homenagem à Catalunha” é uma obra ímpar, onde o autor descreve, com o agudo poder de observação que o caracterizava, o confronto entre os vários grupos revolucionários e os fascistas. A clivagem entre republicanos e fascistas era evidente. Muitíssimo menos evidente era a clivagem interna no campo republicano, opondo de um lado numerosos trabalhadores, que pretendiam converter a guerra civil numa revolução social, e do outro o Partido Comunista e a “burocracia” dos anarco- sindicalistas, para quem se tratava antes de mais de impedir que o conflito comprometesse as instituições politicas e económicas do Estado capitalista”.
Ora, vem esta martelada a talhe de foice por via da notícia de hoje que dá conta de que dois ex-vereadores militantes do PCP na antiga gestão na CML (da coligação “de esquerda” PS-PCP de João Soares), farão agora parte do elenco do futuro presidente António Costa, a saber: o número 2 Rui Godinho e Vítor Costa.
Sem colocar em causa a competência técnica profissional do Engenheiro Rui Godinho (vidé “O Desenvolvimento Sustentável e as Cidades como solução” de sua autoria, publicado na última Seara Nova), do que efectivamente se trata é de gerir, através das cúpulas, o descalabro capitalista, longe portanto de qualquer politica de participação dos munícipes nas decisões autárquicas que afectam as suas vidas na cidade.
O reformismo do PCP, tanto quanto as lendas e narrativas do Bloco Central dos últimos 30 anos, esvazia muita da razão moral a este desafio quando pretende contestar uma célebre manchete do jornal “Público”,
Sem comentários:
Enviar um comentário