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quarta-feira, maio 16, 2007

,,,ninguém acha nada de anormal na guerra em curso "pela conquista" da Câmara de Lisboa?, enquanto a Assembleia Municipal permanecerá incólume como bóia, último reduto e semente do Poder instituido?

"A beleza está nos olhos de quem vê
e às vezes pode ser necessário dar
um murro no olho de um observador
mais estúpido ou mal informado"
Miss Piggy

A Câmara de Lisboa tinha em Outubro de 2005, aquando das eleições autárquicas, um passivo de 926 milhões de euros, o dobro da dívida existente em 2001, antes do golpe de Estado neoconservador no país e da tomada de posse de Santana Lopes como autarca da capital. O orçamento para 2006, estimado em 700 milhões de euros, foi aprovado pela maioria PSD e CDS-PP visando «uma gestão corrente», não estando previstas nesse documento entradas de dinheiro decorrentes, por exemplo, das contrapartidas da criação do casino. Não existe maneira de pagar a estapafúrdia máquina administrativa instalada. (aliás, o mal do nosso país sempre foram as mega-Administrações: uma infeccção de piolhos para a qual não se tem descoberto outro remédio senão coçar). Quando, por acção da CDU e do BE, os únicos que votaram contra o orçamento, começaram a ser descobertos os fumos da corrupção que os herdeiros dos empreiteiros da ditadura tinham instalado na capital (Fontão de Carvalho, o vereador das Finanças, entronizado no tempo da autarquia PS, é genro de um dos maiores construtores civis), então, a partir daí, o dinheiro começou a faltar – pretexto mais que suficiente para o PS, pela via da abstenção, começar a viabilizar os negócios (recorde-se a famosa paixão imobiliária do Lopes) que ultimamente têm feito as manchetes dos jornais: os terrenos da Feira Popular, do Vale de Santo António, os empreendimentos do Bibi Infante Santo e de Marvila Filipe Vieira, os cambalachos com a EPUL vs Benfica, os terrenos da Sociedade Hípica Portuguesa, do Convento dos Inglesinhos, o túnel do Marquês e os interesses imobiliários de um notório amigalhaço de Durão Barroso, etc – enfim, a tentativa falhada de um sucedâneo “independente” na construção da cidade neoliberal cujo ícone maior seria o mono-mamaracho pós-moderno a edificar no Parque Mayer: como emblema da cidade que escorraça os pobres e as classes médias para as periferias em função dos interesses das multinacionais dos negócios e da venda da cultura do espectáculo, que monopolizam os centros urbanos para venda a estrangeiros abastados! – não fora o facto de termos feito eleger o vereador Sá Fernandes e toda esta maneira corrupta, anti-democrática, de vender ao desbarato o património da Cidade teria permanecido, como sempre, até agora, na obscuridade – tal e qual passa meio despercebida a crescente ocupação do imobiliário na capital pelo omnipresente grupo Amorim (a outra paixão do Lopes - com a ajuda providencial da Nova Lei do Arrendamento promulgada por um presidente da república da mesma côr politica)

a Politica do Dinheiro,

a Economia de Casino

e a escolha do novo Croupier

- a escolha para Lisboa é indissociável
da escolha que foi feita
para o país

Portanto, se como dizia Aristóteles, “o objecto principal da Política é criar a amizade entre os membros da Cidade”, é obvio deduzir que, excluídos da roda de amigos, os munícipes lisboetas comuns (os que persistem) estão ser escorraçados, não apenas fisicamente “do local do crime”, mas fundamentalmente da escolha e viabilização de qualquer programa de acção para Lisboa, já que o arraial eleiçoeiro está mais uma vez montado sobre a fulanização da gestão camarária e não sobre a discussão de propostas concretas para se averiguar como se fará de futuro o financiamento da Cidade e sobre que projecto assenta o seu desenvolvimento.

Será que toda esta chusma de candidatos partidários que reincidindo inviabilizam qualquer coligação maioritária, não conseguem perceber que, salvo os que em devido tempo se demarcaram da situação, todos eles são potenciais arguidos no sistema?

O caso mais curioso é o do superIntendente Costa das Policias, que de responsável directo por uma monumental carga de porrada aviada simbolicamente no dia 25 de Abril em inofensivos manifestantes da Rua do Carmo – se propõe agora passar a responsável técnico pelas pedras da calçada que viram a agressão – Será que o programa do ex-ministro Costa se baseia no receio que a falta de manutenção dos pavimentos na capital do país danifique os cascos da policia de choque?

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

José Régio, in “Cântico Negro”
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