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quinta-feira, janeiro 05, 2006

a Impostura económica

“O que verificamos é que são os gestores e economistas que têm empurrado o país para a ruína, apesar do ar sapiencial com que falam na televisão. Temos de tomar consciência de que não é com esta tribo que resolvemos os nossos problemas” – quem assim se expressa é Vitor Aguiar e Silva, um erudito em Estudos Camonianos, em entrevista no último JL acerca da instabilidade que afecta o ensino da Literatura, Artes e Cultura em geral no nosso país. “Pelo menos desde o principio do cavaquismo, verificamos que eles são sempre os mesmos, dizem sempre as mesmas coisas e apresentam os mesmos lugares-comuns, independentemente do partido a que pertencem” conclui o professor, que é autor do êxito editorial “Teoria da Literatura”. Concluindo assim nós tambem que, como o discurso do homem de rua já é invocado pelas élites, a situação do país (deles) parece ser mesmo grave. Para quem vive (sempre viveu) do seu trabalho a situação foi sempre grave. Ainda que nos últimos tempos do salazarismo, durante a chamada “primavera marcelista” a economia crescesse 9 por cento ao ano. No final destes anos todos de “longa claridade democrática”, quando o verdadeiro chefe-de-Governo - o governador do Banco de Portugal - nos informa agora rever em baixa o crescimento económico para 0,8 por cento no próximo ano, só podemos estar perante um grosseiro embuste. A que parece ser uma pequena margem de diferença para menos nas previsões, significa que em vez de se perderem 50 empregos por dia em Portugal, os desempregados vão aumentar a um ritmo próximo dos 100 por cada dia que passa.

O próprio facto de não ser o Governo a governar resulta da aplicação na prática do corte liberal com o keynesianismo (1) que consistiu em aplicar modelos matemáticos às teorias económicas – fazendo disso uma“ciência” que serve para especular nos mercados de acções – como corolário, determinaram os sucedâneos neo-liberais que os Bancos Centrais devem ser independentes de toda e qualquer pressão dos políticos eleitos. Que bela “democracia”!,,, que na prática atribui as decisões politicas monetárias a Banqueiros centrais “Independentes”!! PRIVADOS!
No fim desta linha de economistas americanos da Escola de Chicago, que são dois terços dos laureados com o Prémio do Banco da Suécia e a que indevidamente chamam Nobel (2), os últimos “laureados” mamaram o prémio pecuniário de 1 milhão de dólares por advogarem, pasme-se, a aplicação da “teoria” do Jogo à Economia.

Ao passo que os médicos podem ser levados a tribunal se cometerem um erro no tratamento de um doente, os economistas podem pôr doente um país inteiro e permanecerem na maior das impunidades. Pelo menos no que diz respeito aos economistas-caniche que se colocam na subserviência e ao serviço incondicional do Império.
Mas as medidas avulso que mal e porcamente estes economistas aplicam para reanimar a crise estrutural do sistema capitalista, os incentivos aplicados para resolver problemas de curto prazo, podem entrar, segundo Kydland e Prescott, e na maior parte das vezes entram em conflito com os seus próprios interesses num prazo mais longo. A maioria desse tipo de acções constitui um ganho apenas temporário e em periodos futuros os agentes económicos (trabalhadores e empresários nacionais) interiorizarão uma maior inflação e sofrerão o aumento generalizado de preços e do custo de vida. Entretanto, na transição do ciclo politico transferido pelos simulacros eleitorais para a “oposição”, já os lucros voaram para a posse dos Agentes Transnacionais.

Foi no enredo duma destas novelas que entraram Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix ao venderem dívidas ao Citygroup, transferirem em 2003/4 os Fundos de Pensões da CGD, CTT, etc. em posse do Estado para Fundos Privados para acudirem ao défice. Criticados, esses actores de então, ripostaram apontando que um actor anterior, Sousa Franco, já tinha feito o mesmo com os Fundos do BNU. Desde o governo Barroso as dívidas geradas pelo pagamento de juros aos Fundos agora Privados atinge já este ano a cifra de 200 milhões. Na passagem da década esses valores atingirão verbas astronómicas, verdadeiramente incomportáveis. E se agora isto já está mau,,,
Entretanto, enquanto novas crises cada vez de maior gravidade não rebentam, encobrindo o futuro drama, os neo-economistas do regime-da-Tanga inaugurado pela funerária Barroso entretêm-se a contabilizar as cabeças aos cidadãos como sendo apenas as de meros Consumidores de bens e serviços livres, desregulados pelo Estado a favor de obscuros interesses privados. Haja quem consinta!

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Ao reler um notável artigo de Hazel Henderson – “a Impostura” - publicado no “Le Monde Diplomatique” (Fevereiro 2005), constata-se que ao invés do que postula a redução da Economia à Matemática, “as pessoas não se comportam como átomos, bolas de golfe ou porquinhos-da-índia”. Ao contrário do homo-económicus racional imaginado por estes teóricos, os humanos têm uma racionalidade sem relação com o sentido que os economistas neoliberais atribuem à palavra. As motivações do Homem são complexas, e incluem a partilha e a cooperação – “as novas descobertas dos investigadores em ciências neurológicas, dos bioquímicos e dos cientistas do comportamento põem o dedo na ferida dos economistas neoliberais: a assimilação e a redução da natureza humana a um cálculo de agente económico racional únicamente obsecado com a preocupação de maximizar o seu próprio interesse. O tosco mundo do ganha-ganha (3) é alicerçado no medo e na escassez, e este modelo de pensamento é o do cérebro reptiliário e do caracter estreitamente territorial do nosso passado primitivo.
Pelo contrário, conforme demonstra Paul Zak (4) existem relações de confiança não contabilizáveis que levam os humanos a agruparem-se para estabelecer entre si uma cooperação e também ao contrário do que habitualmente se diz (5) Darwin não se concentrou na sobrevivência dos mais aptos e na competição como sendo os factores decisivos da evolução humana. Mais interessado pela capacidade dos humanos criarem ligações de confiança e de partilha, Darwin via no altruismo um factor de êxito colectivo. De resto, se assim não fosse, seria caso para perguntarmos como teriam os humanos passado do estádio de bandos nómadas de caçadores-recolectores para o de construtores de cidades, de empresas ou de entidades internacionais como as Nações Unidas”.

Para um aprofundamento dos temas:
(1) - Kydland e Prescott: "The inconsistency of optimal plans" (1977); "Time to Build and Aggregate Fluctuations" (1982)
(2) - entrevista de Peter Nobel: "não há a mais leve alusão a um prémio de Economia na correspondência deixada por Alfred Nobel para quem a ideia de especulação contrariava as suas intenções, que pretendiam melhorar a condição humana"
(3) - o principio do ponto óptimo de Pareto ignora a questão da distribuição das riquezas, do poder e da informação, conduzindo assim a resultados sociais injustos.
- "Building a Win-Win World" - pelo Grupo Calvert - que criou os fundos de pensões socialmente responsáveis, que são os indicadores da qualidade de vida.
(4) - ver tambem: "Politics of the Solar Age" (1981); "The Entropy Law and the Economic Process" (1999); "Ecologists versus Economists" (1973)
(5) - "Darwins Lost Theory of Love" David Loye (2000)
- "The Evolution of Cooperation" Robert Axelrod (1985); "Non Zero: The Logic of Human Destiny" (2000)

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