as 11 lições a extrair da vida de Robert MacNamara
“Fog of War” é um documentário do norte-americano Errol Morris que ganhou o Óscar em 2004, mas nunca foi exibido comercialmente em Portugal, salvo numa aparição na sessão de estreia do IndieLisboa. É agora editado, entre nós, em DVD com o título amorfo e meio-imbecil de “Testemunhos de Guerra”.
Errol Morris agradeceu o prémio:
“Há quarenta anos atrás, no Vietname, este país meteu-se num buraco e milhões de pessoas morreram. Receio estarmos a ir novamente pelo buraco abaixo. Mas, se as pessoas pararem para pensar e reflectir sobre algumas ideias e temas deste filme, talvez tenha conseguido um belíssimo trabalho”
Depois de mais de vinte horas de entrevistas, Morris efectou de facto neste documentário o retrato de uma das personagens mais influentes do Imperialismo no pós-guerra: o secretário de Estado da Defesa norte-americano Robert McNamara em funções quando Kennedy foi assassinado pelos interesses do lobie Politico-Militar apostado em incrementar a guerra contra a hipótese de implantação de um regime comunista naquele país com a complacência do democrata John Kennedy. Essa seria a desculpa ideológica, perfeitamente inserida na lógica anti-comunista global da mundividência norte- americana. Os motivos corpóreos mais palpáveis foram porém, como sempre, os negócios que as guerras proporcionam. Com efeito, de algumas centenas de conselheiros militares do tempo de Nixon, depois da posse da Administraçãode Lyndon B.Jonhson os efectivos no Vietname passaram rápidamente para mais de meio milhão de soldados regulares, com os lucros fabulosos que uma tal logística de abastecimento proporciona.
Quando Morris o entrevistou, McNamara, 87 anos, continuava com a reputação de ser um dos homens mais inteligentes e diabólicos do século XX. Este hábil malabarista de cifrões, aquele que foi o individuo mais jovem a ocupar o cargo de administrador da Ford Motor Company, depois da morte de JFK conseguiu a reputação de “infame arquitecto da guerra – o odioso senhor Vietname” e tornou-se na época o alvo pessoal dos protestos.
No livro de memórias “In Retrospect – the Tragedy and Lessons of Vietname” editado em 1995, McNamara admitia: “estávamos errados, terrivelmente errados”. Alem deste livro, Morris teve acesso a mais duas biografias e ás gravações de reuniões que tiveram lugar durante as presidências de Kennedy e Jonhson, as quais só foram tornadas públicas recentemente. As gravações demonstram de facto que foi Johnson que queria a guerra do Vietname. Ao ouvir essas conversas elas estão cheias de sentimentos paranóicos sobre a lealdade de McNamara. “Será que ele me é leal? Ou é leal aos Kennedy?” (1) grita Johnson batendo na mesa. A minha versão mais sombria é que o Vietname serviu para testar a lealdade de McNamara, conclui Morris.
Há quem pretenda transformar “Fog of War” num estudo filosófico sobre a impossibilidade de mudar a natureza humana. Outros dizem que Morris foi apenas usado por um MacNamara em clara expiação de culpas de todos os erros que cometeu – alguns dos quais ele ainda se recusa terminantemente a revelar. Porque razão McNamara não abandonou o governo, quando acreditava que a guerra era errada?,,, no fim do mandato, depois de abandonar a Administração Johnson, o secretário McNamara foi nomeado Presidente do Banco Mundial cargo que exerceu durante mais de uma década. O sistema sempre remunerou generosamente os seus generais. A prática da arte da guerra redigida nos tratados de Sun Tzu ou Clausewitz tornaram-se manuais de estratégia empresarial e acerca da natureza humana, o próprio McNamara, então com 85 anos, quando a História o confronta com as suas declarações, dá a resposta na cena final do filme: “muitas pessoas pensam que eu fui um filho da puta!”
A História repete-se.
No Vietname apesar de ser um pais ocupado por meio milhão de soldados tambem houve “eleições livres”. Os EUA encorajados pelos votos oficiais no Vietnam do Sul mencionaram na época um comparecimento ás urnas de 83% apesar do terror espalhado pela guerrilha Vietcong.
(1) O Presidente Kennedy começou por suspeitar que nem todos os seus colaboradores seriam leais. Estava mesmo convencido (e deixou-o escrito num documento na sua secretária) que McGeorge Bundy recebia ordens directamente do embaixador no Vietname William Averell Harriman e ignorava as da Presidência. Ele estava especialmente preocupado com Michael Forrestal um jovem turco do seu staff com ligações ao Vietname, onde o embaixador Harriman (“Thor” na Skull&Bones) estava implicado no assassínio de Ngo Dinh Diem.
McGeorge "Mac" Bundy (1919 -1996) foi Assistente Especial para os assuntos da Segurança Nacional do Presidente Kennedy e depois de Lyndon B. Johnson entre 1961 e 1966. Encabeçou a Fundação Ford de 1966 a 1979 e era membro da agora famosa seita "Skull and Bones" sob o nick Odin (George W. Bush tem o nick “Dubya”). “Odin” Mac Bundy foi uma personagem que desempenhou um papel crucial nas decisões das duas Administrações em representação do Complexo Politico-Militar, tanto na invasão da Baia dos Porcos, quando Kennedy se preparava para iniciar conversações com o regime de Fidel Castro, como na subsquente Crise dos Mísseis de Cuba, como na Guerra do Vietname. Era membro da Segurança Nacional indigitado pela CIA organização da qual George Herbert Bush, o pai do Dubya, haveria de ser a seguir Director. Esta estória vem descrita na obra de Joseph Trento “The Secret History of the CIA” publicada em 2001.
Cães de Guerra - Merle L. Pribbenow, um ex-oficial da CIA, descreve 30 anos depois a prisão e o interrogatório de Nguyen Tai, um influente guerrilheiro vietcong – e deduz como a Guerra contra o Terrorismo e a tortura “é agora mal conduzida e ineficaz”
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