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segunda-feira, janeiro 09, 2006

“É grave a situação de Portugal. São grandes as dificuldades que embaraçam a vida politica da nação. Confusão e incoerência nos principios; grande desordem nas finanças; enfraquecimento deplorável da autoridade, dentro dos limites da constituição e das leis; falta de confiança na vitalidade do país, e nas suas faculdades politicas e económicas; um desalento injustificável, atrás do qual se esconde um perigoso indiferentismo; a violência mais exagerada nas lutas dos partidos, sem que lhe corresponda nem o vigor das convicções nem a ousadia dos cometimentos; tendência funesta a rebaixar tudo e todos; paixões em vez de crenças; preconceitos em vez de ideias; negações em vez de afirmações, tanto no domínio dos principios como no dos factos; desconfianças em vez de esperanças e falta de fé na liberdade, são causas de desorganização e ruína para uma nação, por mais gloriosas que sejam as suas tradições”
Este retrato não é de hoje. Quem o descreveu foi o ministro da Marinha e do Ultramar Andrade Corvo em 1870 na obra agora reeditada “Portugal na Europa e no Mundo” (Edição Fronteira do Caos)

“É verdade tambem que o mal, ainda que grande, não é sem remédio”
A saída para esta crise foi o encaminhar de um novo escol de africanistas, rápidamente postos na ordem com o expansionismo regulado pelo Ultimato inglês de 1890 e o inicio da emigração do povo simples e inculto para se desenrascar no Brasil como merceeiros e padeiros.
Relembrando o Ministro do século XIX:
“Os desastres financeiros não são devidos a simples infelicidade, mas efeito do pouco conhecimento dos negócios, de pouca grandeza de alma, e de excessiva cobiça de ganhar depressa e muito, empregando pouco capital e fazendo poucos esforços de vontade e de inteligência”
Portugal voltaria a passar por um novo revivalismo do mesmo teor na década de 60 do século passado, quando Salazar, depois de estabilizadas as finanças, lançou a palavra de ordem: “Para Angola rápidamente e em força”. Na mira do petróleo recentemente descoberto, os Estados Unidos tinham iniciado o financiamento de movimentos de libertação nas colónias portuguesas visando a implantação dos habituais governos - fantoches que servissem aos seus designios. A “heróica” reconquista de Nambuanbongo no verão de 1961 pela coluna do tenente-coronel Maçanita com as cabeças de pretos-rebeldes espetadas em paus, tomates e orelhas jocosamente guardados em frascos de alcool pelos soldados, foram os testemunhos fundadores da retoma portuguesa na década de 70 em que a economia nacional durante a “primavera marcelista” cresceu 9% ao ano. A restante estória é conhecida. O regime português, sequestrado por 30 familias de oligarcas, era um impecilho à expansão do Imperialismo, incapaz pela sua natureza de se auto-liberalizar politicamente.

Aqueles que não recordam o passado, estão condenados a repeti-lo
George Santayana
muitos anos depois, numa galáxia não muito distante,,,

“Cheira a Petróleo”
notou recentemente António Barreto (em artigo no jornal Publico): “Algo importante está a decorrer, que mudará a economia portuguesa e que determinará as relações com Espanha e com Angola. Algo que, finalmente revela e consolida os costumes nacionais no seu pior aspecto, a opaca promiscuidade da vida pública e a submissão da politica aos negócios e ao dinheiro”.

Com a estratégia montada para chegar ao Poder, esta gente,,, a gente de Cavaco sabe o que quer – e os eleitores, que ainda por cima não têm duas alternativas por onde optar, decididamente não fazem parte dos seus planos,,, muito menos deixá-los prejudicar as opções que estão tomadas. Continua António Barreto:
“Em poucos dias, várias notícias e factos tiveram um ponto comum: a Energia”. O petróleo, a electricidade e o gás. E Angola. O Grupo Amorim, associado a interesses angolanos, comprou uma parte importante do capital da GALP até agora detida pela EDP. O Estado português tem em ambas palavra definitiva. Não só foi uma decisão politica, como o Governo desempenhou um papel activo de intermediário e casamenteiro. Três grandes bancos, dois espanhóis e um português, suportam a transacção. Do lado angolano, o principal protagonista é a SONANGOL, a empresa estatal de petróleos. Além desse parceiro, altas individualidades da nomenklatura do Estado angolano estão envolvidas no negócio. Esta venda será seguida por uma outra: parte da GALP será igualmente vendida ao Grupo Amorim pela REN, Rede Eléctrica Nacional, de capital maioritário do Estado e presidida por José Penedos ex-governante e deputado socialista. Estas vendas, feitas por ajuste directo e selecção mantida em segredo durante algum tempo, foram realizadas depois de longos meses ou anos, (a partir do acordo das Lajes com Bush, Blair,Aznar;Barroso concertados para a invasão do Iraque em busca de petróleo), nas quais estiveram empenhadas empresas públicas e privadas espanholas, italianas, americanas e portuguesas. Todos recordam as peripécias (…) com o Grupo Amorim entram também no sector energético português (na GALP e na EDP) três grupos espanhóis, a Caixa Galicia, o Santander e uma das produtoras de electricidade, a Union Fenosa. Todo este movimento é acompanhado de perto por um outro accionista da GALP, a IBERDROLA, presidida pelo ex-governante e deputado socialista Pina Moura.
Ao mesmo tempo, no decurso e depois de uma visita oficial a Angola, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Freitas do Amaral garantiu que uma nova era começava nas relações entre os dois Estados. O tom eufórico das suas declarações e a vontade de colocar uma pedra sobre tudo o que se passou anteriormente, criaram a sensação de que algo de novo se passava”.
Dias depois chegaram as noticias, através do Ministro Manuel Pinho, Patrick Monteiro de Barros e Basílio Horta, sobre a nova refinaria a construir em Sines, que irá triplicar o transporte marítimo petrolífero no nosso país com destino à exportação que deverá assim aumentar 80%. Contrapartidas?

«O Governo vai criar em Angola uma plataforma para distribuição de produtos portugueses e triplicar a linha de financiamento, de 100 para 300 milhões de dólares, a fim de apoiar exportações para aquele país. Simultaneamente, será criado um crédito de cem milhões de dólares para as empresas que queiram investir naquela antiga colónia. A criação de uma estrutura de recepção e comercialização de produtos era há muito reivindicada por empresários, como forma de garantir um eficaz escoamento das exportações nacionais.»(Expresso)
Mas, em Angola já estão os chineses, com produtos chineses a preços chineses. A quem interessa toda esta azáfama?
Apenas aos grandes interesses, como sempre! Cavaco Silva e Durão Barroso, como é sabido, são dois potenciais amigalhaços do regime de criminosos instalado em Luanda - que é natural que conte com estes dois biltres para branquear os crimes cometidos,,, (sempre) em nome do Petróleo.
(continua)

leituras relacionadas:

* a Espanha no posicionamento estratégico
* Portugal? - Iberismo « localista » ou internacionalização dinâmica?

« O que Portugal fez de maior no mundo não foi nem o descobrimento, nem a conquista, nem a formação de nações ultramarinas : foi o ter resistido a Castela ».
Agostinho da Silva (1996)

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