Regina Guimarães é Escritora e Professora Universitária
Solicitada a responder à pergunta de um jornal num inquérito de rua – “Como quer que, na sua área, Portugal seja em 2026”? transcrevo a resposta, com a devida vénia:
“Começaria por dizer que não tenho área pessoal – como, cago, devaneio, durmo, sonho, suo e trabalho como quase toda a gente – e que seria bom acabarmos com esta fantochada da divisão do trabalho, divisão do fazer/prazer, divisão da vida em partes insensíveis. A nossa consciência de que há sempre quem divida para reinar parece desadequadamente leve… Continuaria dizendo que, se a pergunta é suposta convocar wishful thoughts, respondo que ainda não deixei de desejar: um país (e um mundo) sem patrões nem televisões, sem exército nem fronteiras, sem coutadas nem caçadores, sem polícias nem poluidores, sem especialistas nem especiais nem especializados, sem proprietários da terra, dos instrumentos e dos pensamentos.
Acabaria prometendo a mim própria que farei tudo o que souber para que os meus desjos contagiem o maior número de pessoas e fazendo votos de que as ferramentas totalitárias – canais e redes de toda a sorte – não destruam todos os desejos no ovo e logo toda a acapacidade de agir em prol da mudança”
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