em época estival, quando descobrimos a tal praia praticamente deserta e há tempo disponível, há oportunidade de reler e transcrever aqui algumas relíquias recolhidas ainda na última feira do livro, a 50 cêntimos cada fascículo:
“Desde o século XVI o país tem-se compartimentado em regiões: chegou-se à aglomeração de ¾ da população em 40 por cento do território; as actividades e a riqueza, a densidade máxima de meios de circulação, as indústrias, os investimentos, concentram-se no eixo Lisboa-Porto prolongado a Setúbal e Braga (...)
Esse desiquilibrio prende-se à incapacidade de uma política nacional de escolha e localização das produções que garanta a maior cobertura possivel do consumo interno pela produção interna, distribua o mais harmoniosamente pelo território as gentes de modo a tirarem o máximo proveito dos recursos naturais e humanos, e assim minimize a dependência em relação ao exterior. De há dezenas de anos, quando não de há séculos se apregoa o imperativo de introduzir culturas (...)
Por essa incapacidade de organizar a produção e a importação - reexportação com forte valor acrescentado pelo trabalho nacional, desde a 2ª década do século XIX que a balança comercial é deficitária e o déficite só tem sido compensado pelas remessas de emigrantes ou entradas de capitais estrangeiros (...) Daí o forte grau de dependência em relação a outras economias, que agora atingiu o paroxismo; o empréstimo externo de há muito é cancro a roer a nossa possibilidade de renovação económica, e hoje chegou-se ao cúmulo de tudo querer resolver com ele e renunciar ao aproveitamento das nossas potencialidades (...) o diagnóstico aponta para uma terapêutica de decidida modernização técnica (...)
A construção de uma pátria, meio século calcada sob a autocracia oligárquica do Reino da Estupidez, só poderá possivelmente fazer-se assentando a democracia socialista: a socialização, ou seja, a subordinação dos meios de produção e recursos aos interesses da sociedade (de todos os indivíduos da sociedade), a democratização que ordena toda a vida social e a acção do Estado em função de tornar cada homem, todos os homens, um fim em si próprios, deixando de ser meros instrumentos manejados por outrém; quer dizer, visa-se a plena dignidade da cidadania, com o conjunto de condições materiais e culturais que a tornam possível de se exercer. Pelo socialismo e pela democracia rumo à democracia socialista, ao respeito de cada um e de todos e ao assegurar a todos das oportunidades para realizarem a sua personalidade”
Vitorino Magalhães Godinho – “Para a renovação da politica nacional”, Sá da Costa, 1978
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