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segunda-feira, agosto 25, 2008

Pequim 2008, Michael Phelps, o marketing e a economia nacional

“as pessoas temem a forma de pensamento original mais que qualquer outra coisa no mundo, mais que a sua própria ruína, mais que a própria morte”
Bertrand Russell

A primeira impressão a retirar dos Jogos Olimpicos de Pequim (o Público, perorando sobre os lugares comuns do costume, faz hoje manchete disso) é que entrámos numa nova era - o capitalismo dito democrático encontrou um opositor à altura: o capitalismo dito autocrático - leia-se, um sistema misto com a parte fundamental da economia que zela pelos direitos humanos (a paz, o pão, a saúde, a educação, a habitação) a ser alvo de controlo senão de planificação por parte das autoridades adminstrativas do Estado. Resolvidos os problemas essenciais de subsistência para a vida, libertas as pessoas da obrigatoriedade de contribuir economicamente para a sustentação de vastas elites parasitárias, sobram mais tempos livres que são ocupados na valorização individual: os que têm mais mérito triunfam, os que são excepcionais são livres de entrar no circuito de marketing, (neste caso desportivo) global. As vantagens competitivas e o leit-motiv para o desenvolvimento da pessoa humana parecem-nos evidentes. O incómodo valeu a Manuel Carvalho o editorial “a Vitória do PC Chinês”. E da quantidade de praticantes (como com os trabalhadores e o pleno emprego) resulta necessariamente uma melhoria na qualidade dos resultados obtidos. Numa sondagem do Pew Research Center efectuada em 24 países, a nação que emerge primeiramente em satisfação do seu povo para com a forma como são governados é a China. Nenhuma outra nação lhe chega sequer próximo: “dos inquiridos, 86 por cento do povo Chinês disseram estar satisfeitos com a direcção politica do país, uma melhoria substancial comparada com os resultados obtidos em 2002 em que o nivel de aprovação era de 48 por cento. E 82 por cento estão satisfeitos com o desempenho actual da economia, percentagem anteriormente fixada em 52 por cento, segundo dados publicados no Times. Ficou patente que a China retirou olimpicos dividendos no espectacular show construido sobre estes dados optimistas.

Mas, fogos de artifício àparte, em termos de entendimento ocidental, falar de Olimpiadas não significa mesmo nada falar de Desporto. Alguém imagina o Pinto da Costa ou o Filipe Vieira a abrir mão das fabulosas verbas surripiadas ao erário público a disponibilizar esses vultosos fundos ilegalmente adquiridos, em prol do desporto nas escolas?
As estrelas dos Jogos de Pequim 2008 prestam-se a fazer caxas. As multinacionais disputam a sua imagem como um maná facultado pelas portas abertas do mercado chinês. Phelps, Nadal, Liu Xiang, Usain Bolt ou Isinbayeba convertem-se em máquinas de fazer dinheiro. A título de exemplo, calcula-se que o tenista maiorquino Rafael Nadal, imagem das marcas Cola Cao e Bobolat ganhe 420 euros por minuto (3,9 milhões de dólares em apenas dois anos); e o melhor, o envolvimento financeiro dos governos no marketing, ainda está para vir.

Medalhistas, um negocio milionário para os nadadores de águas turvas

Desde que soou o tiro de partida no dia 8 de Agosto em Pequim temos levado com o nome do nadador norte americano Michael Phelps até há saciedade, desde a hora do xixi da manhã até à hora em que nos fixamos nas braçadas crepusculares na sopa. Se deixam o chavalo de 23 anos, “o melhor nadador de sempre” à solta, as suas façanhas aquáticas converterão em ouro tudo aquilo em que toca, um Rei Midas de um sem fim de companhias comerciais. Dele disse o Wall Street Journal: “o valor do seu triunfo em Pequim traduzir-se-á numa fortuna que alcançará os cem milhões de dólares ao longo da sua vida”. Antes de competir a Speedo já lhe tinha oferecido cerca de 1 milhão de dólares caso ganhasse 7 medalhas; para a Nike a linha dos novos artigos de natação promovidos sob o patrocínio de Phelps vale entre 40 a 50 milhões, com capacidade de expansão sem precedentes.

As manias de grandeza do olimpismo nacional só terão dimensão competitiva de mudarem a sigla para Jogos Olimpinhos, sponsored by the Government.

Com 14 medalhas de ouro às costas, Phelps conta com contratos publicitários com a Visa, Ómega, Hilton, e AT&T, para além de pequenas contribuições de admiradores com grande capacidade em negócios privados e alguma poder aquisitivo, como por exemplo o ministro Manuel Pinho do governo da marca Portugal em Crise e a marca HiltonVilamoura que fez/fizeram das tripas coração e pagou/pagaram (?) uma quantia não discriminada para sentar (por mero acaso) o fenómeno no mesmo banho SPA allgarvio do ministro. A Pizza Hut oferece-lhe alimentação grátis durante um ano (a Phelps, não ao Ministro). De momento apenas uma ligeira bronca ensombra o êxito do sensacional feito: a comunidade médica condena a aparição do Ministro, perdão, de Phelps, nas caixas de cereais Kellogs – não se explica como se pretende promover um produto cujos altos níveis de açúcar alimentam uma sociedade preocupada com a obesidade infantil.
Roger Federer é embaixador da Nike, e da coreana Kia Motors. No caso da multinacional alemã Puma as vendas vão disparar a curto prazo sob a marca Usain Bolt. A russa Yelena Isinbayeva é patrona da mesma causa em relação à Adidas. A supervedeta Liu Xiang acumulou o ano passado 24 milhões graças a contratos publicitários com 14 firmas do gabarito da Lenovo, Amyway`s, China Mobile, etc. É o segundo a facturar, atrás do basquebolista Yao Ming ao serviço também da Nike, líder do sector que tem a maior parte da sua fabricação na Ásia e pretende a hegemonia exclusiva do mercado asiático. De facto os produtos fabricados na China, divididos com a Adidas, ascendem a 32,3 por cento do mercado. Os consultores Frost & Sullivan consideram que o mercado de vestuário desportivo chinês será um filão quase inesgotável para as grandes marcas, já que em 2011 se estima possa valer 10.400 milhões de dólares
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