“as pessoas temem a forma de pensamento original mais que qualquer outra coisa no mundo, mais que a sua própria ruína, mais que a própria morte”
Bertrand Russell
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A primeira impressão a retirar dos
Jogos Olimpicos de Pequim (o
Público, perorando sobre os lugares comuns do costume, faz hoje manchete disso) é que entrámos numa nova era -
o capitalismo dito democrático encontrou um opositor à altura:
o capitalismo dito autocrático - leia-se, um sistema misto com a parte fundamental da economia que zela pelos direitos humanos (a paz, o pão, a saúde, a educação, a habitação) a ser alvo de controlo senão de planificação por parte das autoridades adminstrativas do Estado. Resolvidos os problemas essenciais de subsistência para a vida, libertas as pessoas da obrigatoriedade de contribuir economicamente para a sustentação de vastas elites parasitárias, sobram mais tempos livres que são ocupados na valorização individual: os que têm mais mérito triunfam, os que são excepcionais são livres de entrar no circuito de marketing, (neste caso desportivo) global. As vantagens competitivas e o leit-motiv para o desenvolvimento da pessoa humana parecem-nos evidentes. O incómodo valeu a Manuel Carvalho o editorial “
a Vitória do PC Chinês”. E da quantidade de praticantes (como com os trabalhadores e o pleno emprego) resulta necessariamente uma melhoria na qualidade dos resultados obtidos. Numa sondagem do
Pew Research Center efectuada em 24 países, a nação que emerge primeiramente em
satisfação do seu povo para com a forma como são governados é a China. Nenhuma outra nação lhe chega sequer próximo: “
dos inquiridos, 86 por cento do povo Chinês disseram estar satisfeitos com a direcção politica do país, uma melhoria substancial comparada com os resultados obtidos em 2002 em que o nivel de aprovação era de 48 por cento. E 82 por cento estão satisfeitos com o desempenho actual da economia, percentagem anteriormente fixada em 52 por cento, segundo dados publicados no Times. Ficou patente que a China retirou olimpicos dividendos no espectacular show construido sobre estes dados optimistas.
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Mas, fogos de artifício àparte,
em termos de entendimento ocidental, falar de Olimpiadas não significa mesmo nada falar de Desporto. Alguém imagina o Pinto da Costa ou o Filipe Vieira a abrir mão das fabulosas verbas surripiadas ao erário público a
disponibilizar esses vultosos fundos ilegalmente adquiridos, em prol do desporto nas escolas?As estrelas dos Jogos de Pequim 2008 prestam-se a fazer caxas. As multinacionais disputam a sua imagem como um maná facultado pelas portas abertas do mercado chinês.
Phelps, Nadal, Liu Xiang, Usain Bolt ou Isinbayeba convertem-se em máquinas de fazer dinheiro. A título de exemplo, calcula-se que o tenista maiorquino
Rafael Nadal, imagem das marcas
Cola Cao e
Bobolat ganhe 420 euros por minuto (3,9 milhões de dólares em apenas dois anos); e o melhor, o envolvimento financeiro dos governos no marketing, ainda está para vir.
Medalhistas, um negocio milionário para os nadadores de águas turvasDesde que soou o tiro de partida no dia 8 de Agosto em Pequim temos levado com o nome do nadador norte americano
Michael Phelps até há saciedade, desde a hora do xixi da manhã até à hora em que nos fixamos nas braçadas crepusculares na sopa. Se deixam o chavalo de 23 anos, “o melhor nadador de sempre” à solta, as suas façanhas aquáticas converterão em ouro tudo aquilo em que toca, um Rei Midas de um sem fim de companhias comerciais. Dele disse o
Wall Street Journal: “
o valor do seu triunfo em Pequim traduzir-se-á numa fortuna que alcançará os cem milhões de dólares ao longo da sua vida”. Antes de competir a Speedo já lhe tinha oferecido cerca de 1 milhão de dólares caso ganhasse 7 medalhas; para a Nike a linha dos novos artigos de natação promovidos sob o patrocínio de Phelps vale entre 40 a 50 milhões, com capacidade de expansão sem precedentes.
As manias de grandeza do olimpismo nacional só terão dimensão competitiva de mudarem a sigla para
Jogos Olimpinhos, sponsored by the
Government.
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Com 14 medalhas de ouro às costas, Phelps conta com contratos publicitários com a
Visa,
Ómega,
Hilton, e
AT&T, para além de pequenas contribuições de admiradores com grande capacidade em negócios privados e alguma poder aquisitivo, como por exemplo o ministro
Manuel Pinho do governo da
marca Portugal em Crise e a
marca HiltonVilamoura que fez/fizeram das tripas coração e pagou/pagaram (?) uma quantia não discriminada para
sentar (por mero acaso) o fenómeno no mesmo banho SPA allgarvio do ministro. A
Pizza Hut oferece-lhe alimentação grátis durante um ano (a Phelps, não ao Ministro). De momento apenas uma ligeira bronca ensombra o êxito do sensacional feito: a comunidade médica condena a aparição do Ministro, perdão, de Phelps, nas caixas de cereais
Kellogs – não se explica como se pretende promover um produto cujos altos níveis de açúcar alimentam uma sociedade preocupada com a obesidade infantil.
Roger Federer é embaixador da
Nike, e da coreana
Kia Motors. No caso da multinacional alemã
Puma as vendas vão disparar a curto prazo sob a marca
Usain Bolt. A russa
Yelena Isinbayeva é patrona da mesma causa em relação à
Adidas. A supervedeta
Liu Xiang acumulou o ano passado 24 milhões graças a contratos publicitários com 14 firmas do gabarito da
Lenovo,
Amyway`s,
China Mobile, etc. É o segundo a facturar, atrás do basquebolista
Yao Ming ao serviço também da
Nike, líder do sector que tem a maior parte da sua fabricação na Ásia e pretende a hegemonia exclusiva do mercado asiático. De facto os produtos fabricados na China, divididos com a Adidas, ascendem a 32,3 por cento do mercado. Os consultores
Frost & Sullivan consideram que o mercado de vestuário desportivo chinês será um filão quase inesgotável para as grandes marcas, já que em 2011 se estima possa valer 10.400 milhões de dólares.
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