Hannah Arendt
Muito a propósito, porque era o dia mundial do riso, Paulo Rangel declarou, acolitado, mas a contra-corrente da Chefe (omitindo ao Zé o preço a pagar), que “a implementação de um novo projecto (1) de Bloco Central era impossível porque Ps e Psd têm programas antagónicos” – em resumo, como emocionalmente gritou Sampaio, e concluiu Rui Tavares numa deliciosa evocação de “As Farpas” (1870), numa situação análoga: “tendes fome? Gritai pelo Bloco Central à mesa do café e os criados vos trarão bifes com batatas fritas” - em suma, antagonismos àparte, “o enginheiro Sócrates quer que sejamos gastadores e a doutora Ferreira Leite quer que sejamos poupadinhos? Seremos gastadinhos!” (2)
E o que disse àcerca do mote o já famoso enviado banal ao Bloco Central Europeu, Vital Moreira (Público 22/4)? - nada de rupturas!:
“Esse rotativismo entre os dois grandes partidos (PS e PSD) tem permitido um funcionamento regular e relativamente bem sucedido do nosso sistema político (…) trata-se de partidos suficientemente diferentes para funcionarem como alternativa um ao outro; por outro lado, são suficientemente próximos para que as mudanças de governo se façam sem risco de rupturas políticas imprevisíveis”
e, numa posta cagada hoje mesmo dia 6 no mesmo jornal pág.29 diz o mesmo arauto: “a nacionalização da Energia proposta pelo Bloco de Esquerda (…) pode alimentar os dogmas anti-liberais e anticapitalistas que constituem o ADN da extrema esquerda” (3) apenas isso. Ora colar as práticas reformistas do capitalismo do BE ao radicalismo da chamada extrema-esquerda (denominação atribuída pela classe dominante) é apenas mais uma sacanice da propaganda (como se citou no início de Arendt). Enfim, no Vital se pode pôr na boca as mesmas palavras de Bacall para Bogart em “To Have and Have Not”:
“sempre que precisares de mim assobia”.
Afinal, o único papão para a estabilidade podre do neoliberalismo cêntrico é mesmo a previsível subida eleitoral do BE, como topou o Pulido Valente (4): “Louçã – com 12 por cento – é potencialmente o maior problema. Se conseguir a mesma fatia nas legislativas torna Portugal ingovernável” – e noutro artigo sobre outra aflição económica do género desta: “estranhíssimo este regresso (!). O Bloco Central de 1983-85 nasceu de uma política imposta do exterior a Portugal inteiro, mais precisamente pelo FMI” (5)
Ora aqui, em 2009, é que bate o ponto, e sobre isso os tagarelas do grande grupo do star-system omitem-se, nem Cavaco o garante da mudez nacional diz pêva: “É da responsabilidade dos partidos encontrarem soluções”. cof-cof.
O problema actual com os Conservadores (incluindo os pseudo socialistas) é que não há nada para conservar. O que há é vidas luxuosas para pagar; o “endividamento público é uma preocupação nacional” reconhecem os próprios economistas oficiais do PSD, numa lógica partidária anti-Ps (6). Efectivamente em 2010 a dívida atingirá 74 por cento do PIB e Portugal ficará como sempre amarrado ao pagamento de empréstimos e juros exorbitantes (7) pelo recurso à banca internacional para pagar o défice. (é este o verdadeiro negócio da “Crise”, pelo qual os funcionários políticos do sistema recebem mordomias (comissões) na forma de salários escandalosamente elevados(8).
E o gestor deste tipo de serviço financeiro (um negócio reforçado pela adesão em 2001 de Barroso à politica dos neocons norte americanos (9), ou seja, o supracitado Fundo Monetário Internacional para fazer o favor de emprestar dinheiro à imensa e improdutiva burguesia nacional exige previamente garantias de estabilidade politica, isto é, o governo de Bloco Central. Logo, escusam de se esfalfar mais a explicar-nos a falta de alternativa, tentando baratinar votos, a unidade nacional em torno do “interesse nacional” na recondução de Barroso, etc. (10). Esta imposição imperialista do Bloco Central não é novidade nenhuma; impuseram o mesmo à poderosa Alemanha nas eleições de 2005 que trouxeram Merkel e o aliado SPD social democrata coligados num programa para destruir o que restava do programa social com a Agenda 2010. E foi se quiseram dispôr da massa ainda gerida, 60 anos depois do fim da guerra, pelo Instituto do Plano Marshall para a Alemanha.
notas
(1) Miguel Gaspar, “o Vírus do Bloco Central”
(2) Rui Tavares, “Gritai pelo Bloco Central”
(3) Vital Moreira, “As más boas ideias” sobre a Energia privatizada e a “extrema esquerda”
(4) V.Pulido Valente, “Uma sondagem”
(5) V.Pulido Valente, “o Bloco Central”
(6) Miguel Frasquilho, sobre o “Endividamento Público”
(7) Eugénio Rosa, “Desemprego causará perda de 10% do PIB”
(8) Ferreira Leite, a ministra das Finanças de Barroso, hipotecou o país ao agora quasi-falido Citigroup com a titularização de 1700 milhões para esconder o défice superior a 3%. A batata estoirou nas mãos de Sócrates, cujo governo já pagou 1.830 milhões; e ainda faltam pagar 130 milhões de euros. (Carlos Lobo, na TSF)
(9) Durão Barroso, Mister Figurhead da Comissão Europeia, um fato de corte impecável mas sem ninguém dentro, voltou mais uma vez a não fazer parte da lista dos “100 líderes mais influentes no mundo” personalidades anualmente eleitas pela TimeMagazine. (pelos motivos óbvios, até o sheriff judeu de Londres e o racista Avigdor Lieberman fazem parte)
(10) Barroso, “um Mujahidin cá dos nossos” está em Bruxelas/Estrasburgo para supervisionar o forçado afundamento e dependência da União Europeia, por forma a privilegiar os interesses belicistas e imperialistas de Washington, os mesmos que Jacques Chirac e Gehard Schroeder se tinham recusado a cumprir (e a pagar) em 2003 face à invasão do Iraque
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