Em 1932 Capra era já um cineasta de renome em Hollywood e a América vivia no auge das consequências da Grande Depressão. A redenção mediática visando relançar a esperança da gente comum nos homens do Big Money só chegou através da guerra, mais concretamente no pós-Guerra, em 1946 na versão de filme de natal da Liberty Films da RKO personificado em “It's A Wonderful Life”, (uma obra que não fez parte da lista de filmes da minha vida de João Bernard da Costa) que pode ser traduzida por “Esta é uma vida maravilhosa, intitulado entre nós de “Do Céu Caiu uma Estrela”. No zénite da história, a obra de Capra reporta a um Anjo à beira de uma ponte que evitou que George Bailey (Jimmy Stewart) se suicidasse (em dialecto religioso, “evitou desprezar o seu maior bem divino”) quando teve de enfrentar a bancarrota do seu banco, mas romanticamente alguém ouviu as preces da filhinha “por favor Deus, algo de mal está a acontecer com o paizinho”. Deus ouviu-a e apareceu na forma de um velho mendigo. Linda, esta é a obra prima por excelência para caguinchas lacrimejantes. A estória é tão convincente e as analogias com a época actual tão evidentes que Tom Hanks pretende empochar uns trocos a fazer de "frank capra" da nossa geração.
o leit-motiv é recorrente em Capra: George Bailey (Jimmy Stewart)
enfrenta a falência do banco em “It's A Wonderful Life”
Num breve intervalo, podemos interromper o mundo maravilhoso deste pequeno intróito e fazer um desvio para um obscuro jornalista português, de seu nome António de Sousa Duarte que em 2007 meteu os pés a caminho e rumou à Sicília à descoberta das origens italianas de Capra. Chegado a Bisacquino descobriu com surpresa que “poucas ruas ao lado da casa onde nasceu Francesco Capra, estava a antiga morada de um ilustre padrinho da Máfia: Dom Vito Cascio Ferro (1862-1943) - uma coincidência como aconteceu aliás com tantas outras, como na vilória de Corleone onde o ítalo-americano Francis Ford Coppola descobriu Dom Vito e o imortalizou, com conhecimento de causa e extrema veracidade na saga de o Padrinho.
Sousa Duarte “passou um mês a falar com os vizinhos” e que fez ele com o material reunido? Concluiu que “Dom Vito Cascio nunca se tinha cruzado com Frank Capra, apesar de terem partido para os EUA praticamente na mesma altura, os primeiros anos da década de 20” e daí foi ter com “o maior novelista ibérico vivo, o Capote português”, (nossa senhora da aparecida, esta gente não tem receio do ridículo?) com quem em parceria pariu o romance “O Sangue da Honra”, um evento ElCorteInglês profusamente badalado pela Rádio de Pernes. Claro que ninguém lê nem vai ler tal inanidade, porque se alguém pensa que vai aprender alguma coisinha com o previsível estilo light-televisivo (como em Júlia Pinheiro, Sousa Tavares, Rodrigues dos Santos ou similares) bem pode esquecer. Deste interregno, para lembrar é o porquê da data de 1932 que aqui aparece logo na introdução
A Loucura Americana
Em 1932 Frank Capra realizou “American Madness” (outra obra que não fez parte da “lista de filmes da minha vida” de João Bernard da Costa) cujo argumento gira, mais uma vez, em torno do intervalo entre a Grande Depressão e o New Deal.
Quando este filme foi realizado ainda o presidente Herbert Hoover estava em funções e ainda faltavam alguns anos para Franklin D. Roosevelt decretar as férias de encerramento forçado dos Bancos, (FDR's Bank Holiday) o acto legal que haveria de determinar a sua reestruturação. Até1939, ou seja, dez anos depois do inicio do crash de Wall Street, uma quarta parte deles, cerca de 5.000 bancos, tinham falido nos Estados Unidos e um quarto da força de trabalho estava no desemprego. A situação da generalidade da população era de desespero. Quando acabou a restricção às transacções bancárias comerciais e se adoptaram novas regras de regulação do negócio (Emergency Banking Act) apenas 1.000 Bancos tinham reaberto e sobrevivido.
Big Money against little people
Neste pano de fundo, o siciliano Frank Capra mostrou-se particularmente bom conhecedor da Máfia que geria os Bancos. Obviamente, tinham ligações aos grandes estúdios de Hollywood. Nesta cena de “a Loucura Americana” o presidente Thomas Dickson (Walter Huston) discursa à multidão durante uma corrida dos clientes ao seu banco, o “Union National Bank”
Noutra cena famosa, Thomas Dickson, que tem 25 anos de bons e dedicados serviços no currículo, tenta convencer os Conselheiros da Administração do banco da necessidade de manter o dinheiro a circular em vez de o congelar, como a maioria dos membros tinha decidido. Eles querem que o presidente apresente a demissão mas ele recusa. Numa das noites seguintes o banco é assaltado e 100.000 dólares são roubados. O principal suspeito indiciado para pagar as favas é um alto funcionário sem escrúpulos que teria desviado verbas do banco para investir em jogo e que acabou por contrair uma dívida impossível de pagar. De facto o funcionário corrupto abriu a porta aos assaltantes do banco e recebeu uma comissão por este serviço (um “acto de gestão danosa”, como hoje se diria). Na passada, junto com empréstimos irregulares avalizados pelo Board of Directors o buraco já atinge os 5 milhões de dólares. No final o presidente, pelo meio de inúmeras peripécias de lealdade dos funcionários e autoridades supervisoras da “New York Trust”, acaba ele próprio por ser ameaçado de prisão e por ter de lutar simplesmente pelo emprego, vendo ameaçada toda a sua carreira e até o seu casamento está a beira da destruição. Note-se, estávamos em 1932, mas as semelhanças com a situação actual são impressionantes: “Se ninguém tivesse dado pelos “casos de polícia” (o pequeno roubo do funcionário X ou Y) no BPN e BPP (e já agora, em tempo, no BCP), para usar a célebre definição de Vítor Constâncio, continuaria tudo a funcionar como sempre funcionou entre “gente tão respeitável”
dobrado em castelhano para melhor compreensão. (O original em inglês pode ser visto aqui) Thomas Dickon requer uma explicação de como e porquê o capital do Banco está a ser congelado (ver nota 1):
a guerra é uma balbúrdia organizada de modo fraudulento
“War Is a Racket” escrito na intenção decorativa de que o modo imperialista de acumulação capitalista pudesse de qualquer maneira ser sobrelevado não colidindo com o paradigma da classe dominante, é um livro de 1935 cujo autor foi o galardoado general da esquadra naval norte americana Smedley Butler. Com conhecimento interno de causa, ele afirmava que o Departamento de Defesa se dedicava a preservar as actividades criminosas dos “Banksters” (um acrónimo de banqueiros+gangsters) facto que sabotava a Constituição e a Carta de Direitos dos Cidadãos - “A maior parte do meu tempo de serviço, 33 anos” diz ele, “foi dedicado a usar os músculos em defesa dos grandes negócios dos banqueiros de Wall Street. Em resumo, trabalhei para os capitalistas. Olhando para trás, talvez devesse também ter dado a Al Capone algumas oportunidades”, conclui Butler. E realmente o serviço de Informações da Marinha deu essas oportunidades a gansgsters; e hoje em dia o Pentágono ainda apurou melhor as técnicas da Máfia expandindo a guerra até englobar a totalidade do povo americano.
“War is a Racket” faz uma referência genérica ao gangster de rua Al Capone mas nem uma palavra sobre o que era o testa de ferro ao serviço dos gansters judeus Sionistas, “Lucky Luciano”, que antes da guerra foi “engavetado” como refém das autoridades com a promessa de vir a ser ilibado de todos os crimes cometidos e de não ser incriminado de outros. Conforme se descreve pormenorizadamente no livro biográfico “Meyer Lansky, Mogul of the Mob” (O Patrão da Máfia) da autoria dos insuspeitos jornalistas de investigação israelitas Uri Dan, Dennis Eisenberg e Eli Landau. A invasão americana pelo sul de Itália na II Grande Guerra foi decidida em função da colaboração (Operação Underworld) dos serviços secretos da Marinha, da Máfia do judeu Meyer Lansky e da colaboração dos seus capos operacionais sicilianos comandados por Salvatore Lucano (“Lucky” Luciano) re-convertendo as acções do submundo do crime em actividades patrióticas. Assim, em função do conhecimento do terreno, foi decidido que a testa de ponte do 1º desembarque nos americanos na Europa fosse feito na Sicília em Agosto de 1943. (um ano antes do famoso Dia D)
New Deal, a resolução da crise pela guerra
Na época da rodagem de “American Madness” o fornecimento de papel moeda pelas entidades emissoras tinha crescido muito mais rapidamente do que as reservas de ouro; Então para prevenir que as reservas de ouro caissem em desvalorização, os Estados Unidos decidiram desvalorizar o dólar em 41 por cento. Antes de 1934, uma onça de ouro podia ser adquirida por apenas US$ 20,67, porém depois daquela revisão o governo norte americano apenas disponibilizava a mesma onça de ouro por troca com 35 dólares. Em termos de reservas financeiras, quem dispunha de poupanças amealhadas em contas em dólares perdeu 41 por cento do seu valor de um dia para o outro. Mesmo pensando-se que a desvalorização da moeda em 1934 atingiu a confiança da população no dólar, o que é certo é que outros cinco anos depois, a entrada da economia dos EUA e os investimentos na II ªGrande Guerra trouxeram ao dólar um novo estatuto: a confiança no dólar como moeda de reserva global.
Por altura do fim da guerra, os representantes das nações de topo capitalista reuniram-se concordando na criação de um novo sistema monetário internacional, depois conhecido por Acordo de Bretton Woods. Nesta reunião, as nações saídas da guerra mundial, todas virtualmente falidas, foram obrigadas a acatar a decisão de que a economia dos Estados Unidos se tinha colocado numa posição de domínio global – isto porque entretanto os EUA tinham passado a deter 80 por cento das reservas de ouro mundiais; e por isso estavam em condições de impôr a obrigatoriedade de anexação de todas as outras moedas ao dólar, dominando-as.
nota (1) - Gangsterismo financeiro. O congressista Louis McFadden, administrador da “House Banking and Currency Committee” entre 1927 e 1933 opôs-se ao Sistema da Reserva Federal. Existem, datados dessa altura, três relatórios sobre o tema da sua vida dentro desse “sistema” até finalmente morrer de um duvidoso “ataque cardíaco”. Trancreve-se o que ele disse ao Congresso àcerca da Reserva Federal: “Sr. Conselheiro, temos neste país uma das mais corruptas instituições que o mundo jamais conheceu. Refiro-me ao “Federal Reserve Board”. Uma coisa que ainda existe, apesar da crise, ou precisamente por causa dela
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