Pesquisar neste blogue

quarta-feira, setembro 25, 2013

A aventura dos Neocons na Síria: entrada de leão, saída de sendeiro

Os Estados Unidos atacaram de facto a Síria no dia 3 de Setembro, mas a Rússia impediu que os mísseis disparados da base militar espanhola de Rota sob o controlo da NATO atingissem Damasco. Foi aí que começou o xeque-mate ao governo Obama e aos neoconservadores belicistas que o controlam.

Naquela manhã, o ministro da Defesa russo leu uma declaração pública omitindo dois pontos fundamentais: de onde tinham vindo os mísseis e para onde se dirigiam. Essa omissão teve dois objetivos, disse o chefe dos serviços de informação russo ao seu colega estadunidense numa comunicação feita momentos depois do ataque contra a Síria ter sido lançado - e interceptado: "Atacar Damasco é atacar Moscovo", disse então o oficial russo. "Omitimos a verdade na nossa declaração oficial para preservar as relações entre o nosso país e os Estados Unidos e para evitar a guerra. Portanto, vocês devem reconsiderar agora mesmo as vossas políticas, abordagens e intenções em relação à crise síria, assim como podem estar certos de que não conseguirão eliminar a nossa presença no Mediterrâneo". Foi nesse momento que o governo dos Estados Unidos pediu que Israel se responsabilizasse pelo lançamento dos dois misseis - e que, literalmente, sentiu o chão a fugir-lhe debaixo dos pés... até que surgiu uma declaração oficial dos israelitas, que dizia que "os misseis teriam sido disparados no contexto de um exercício militar conjunto EUA-Israel, e que tinham caído no mar, nada tendo a ver com a crise síria". O que foi prontamente desmentido por uma fonte diplomática citada pelo diário árabe As-Safir

A fracassada intenção de atacar o povo Sírio é um episódio que marca, decididamente, o principio do fim dos Estados Unidos como hiperpotência imperialista num imaginado e sonhado mundo unipolar sujeito a uma nova ordem ditatorial.

Kerry dá o mote a Ban-Ki-Moon
Aproveitando a gaffe do grotescamente inepto e arrogante secretário de Estado John Kerry ("a única saída para a Síria será entregar todas as suas armas quimicas, o que obviamente não fará") Vladimir Putin e o seu secretário para os Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov propuseram de imediato isso mesmo: a entrega para controlo pela ONU de todas as armas quimicas existentes na Síria. Sabendo-se, como os Estados Unidos e os seus cúmplices sabem, que as armas quimicas usadas no massacre de Agosto nos arredores de Damasco foram usadas pelos rebeldes patrocinados pelos EUA com a  declarada intenção de provocar um falso pretexto para com uma intervenção militar a partir do exterior destituir pela força o regime pró-socialista que governa a Síria - não tiveram outra alternativa senão aceitar o plano russo para uma solução pacifica para a crise, o que incrimina as forças rebeldes e os divide, a ponto de as diversas facções da oposição já lutarem entre si.

Ban-Ki-Moon coincide com Kerry
Provocadoramente o Ocidente promete continuar a impulsionar os rebeldes na Síria, enquanto a Rússia diz que eles devem ser 'obrigados' a juntar-se às negociações de paz. Uma solução política é parte fundamental do “acordo” a ser formalizado na Conferência de Genebra-2 que entretanto foi adiada por meses, quando as forças da oposição síria se lhe opuseram. Entretanto o acordo de desarmamento passou a ser formalizado pelo Conselho de Segurança da ONU, na qual Rússia e China dispõem de direito de veto.

Na carta de Vladimir Putin ao povo dos Estados Unidos oportunamente publicada no New York Times o presidente da Federação Russa foi certeiro: se um País possuir a bomba nuclear ou armas químicas letais torna-se intocável e pode ameaçar quem quiser? - efectivamente, assim parece: uma informação desclassificada pela CIA revela que Israel também possui armas quimicas (fonte); os Estados Unidos é o país que mais incumpre os compromissos assumidos na Convenção Internacional Contra Armas químicas (fonte); a Grã-Bretanha, Israel e os Estados Unidos usaram armas químicas durante a última década (fonte); a Alemanha confirma ter vendido 100 toneladas de quimicos (de uso duplo, civil e militar) à Síria (fonte) e um ex-oficial do Pentágono, Michael Maloof, deu uma entrevista na qual. citando fontes classificadas, afirma que a Al-Qaeda e o Al-Nusra possuem significativas quantidades de gás Sarin na Síria (fonte);

Rebeldes usam IPads para programar tiros de morteiro
Existem provas que apontam para os Rebeldes como autores do ataque com armas quimicas, mas estas foram ignoradas pela Comissão investigadora da ONU chefiada pelo sueco Ake Salstrom (fonte) é do conhecimento geral que a Administração Obama passou por cima de disposições do Congresso que proíbem o fornecimento de armas e dinheiro para terroristas, e abriu os cofres e paióis para o fornecimento de armamento convencional, quimico e meios tecnológicos às forças rebeldes a actuar na Síria (fonte) 

No entanto, após a divulgação a 16/09 do relatório da ONU que confirma a utilização de armas químicas na guerra civil da Síria, Estados Unidos, França e Reino Unido voltaram a afirmar que o ataque foi feito pelo governo de Bashar Al Assad (fonte); de facto, o relatório é inócuo e não atribuiu culpas claramente a nenhum dos lados do conflito (fonte); a Rússia contrapõe que o relatório da ONU não demonstra quem é o responsável (fonte); e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia rematou afirmando que as conclusões da ONU são politizadas e tendenciosas - é neste contexto, depois da Rússia ter declarado haver irregularidades, que se tornou obrigatório tomar a decisão do regresso dos inspectores da ONU à Siria, o que deverá acontecer esta semana...com uma agenda imposta

1 comentário:

Fada do bosque disse...

Uma pista vital está na nomeação do perito sueco Ake Sellstrom como o chefe da equipe da ONU que aterrou em Damasco três dias atrás. Sellstrom serviu no bando selecto dos inspectores de armas da ONU no Iraque...

É aqui que a controvérsia das armas químicas e a abertura de um processo sírio no Conselho de Segurança da ONU oferece uma pausa para respirar e quebrar o ímpeto do exército de Assad e a insolência do Hezbollah e do Irão.

Será isto um prelúdio para um cenário tipo Iraque? Sem dúvida, Sellstrom está a andar na ponta dos pés perigosamente próximo rumo aos stocks de armas de destruição maciça de Bashar, ou de alguma coisa, a qual os EUA (e Israel) sempre quiseram segurar.

A única tarefa assinalada ao inspector de armas Sellstrom quando ele aterrou em Damasco com a sua equipe era inspeccionar três sítios específicos para determinar se foram utilizadas armas químicas na Síria. Ele não tinha um mandato mesmo para nomear a parte responsável.

http://resistir.info/moriente/siria_22ago13.html