Venha o voto e depois logo se vê
"queremos obter um “máximo acordo social"
Alemanha, anos 20, Georg Grosz |
Lenine, Jesus Cristo e o Rato Mickey (Alexander Kosolapov) |
2. Pacto sobre rendimentos que leve ao aumento da participação dos salários nos rendimentos para os níveis existentes, por exemplo, no final dos anos noventa
3. Reforma fiscal para combater a evasão fiscal, com taxas efectivas de imposto para todos os tipos de rendimentos que aumenta a equidade global do sistema, e criar novos impostos para desencorajar a especulação e incentivar o investimento produtivo, equidade e sustentabilidade da actividade económica.
4. Reforma das administrações públicas para melhorar a sua eficiência, obter economias em gastos desnecessários e contribuir da melhor maneira possível para criar riqueza produtiva
5. Aumento dos gastos sociais na perspectiva de os aproximar dos programas dos fundos médios de resgate e apoio europeu que garanta a todos os cidadãos uma renda mínima de subsistência conforme os direitos inscritos na Constituição espanhola.
6. Acordo sobre estratégia global para tornar a dívida sustentável
7. Estratégia para repensar as políticas europeias que sufocam as economias e os grupos sociais mais fracos, as quais demonstraram ser completamente ineficazes na resolução dos problemas da recessão, fazendo com que, pelo contrário, esta ficasse pior, com maior desemprego, mais da pobreza e o continuado aumento da dívida.
A situação em que a economia espanhola se encontra é muito difícil, quase de emergência, e há uma grande probabilidade de que no futuro próximo voltarem a acontecer situações de grande agitação no mundo, porque os principais problemas que geraram a instabilidade sistémica financeira e no meio ambiental não foram de modo nenhum resolvidos. Mas nós Podemos resolvê-los com êxito se se apontarem as causas que provocaram a situação e fizermos o esforço necessário para resolver os problemas se os repartirmos com equidade” (ver proposta do programa original aqui em castelhano)
É um texto redigido em social-democratês, recheado de lugares-comuns e destinado a apaziguar a luta de classes, que neste momento constitui o objectivo principal dos patrões e da classe dominante. Toda a gente é levada a concordar, especialmente com os muitos elementos de política geral (uma economia a serviço da maioria social, uma economia sustentável, etc.) e alguns pontos específicos. A questão da Europa assim como a questão, do Euro e do default/reestruturação da dívida, não faz referência a qualquer auditoria cidadã ao processo de endividamento. E não tendo um lugar central é insuficiente ver no documento uma base para discussão. Mas fica claro, a batalha da dívida, que é uma batalha Europeia, não está ganha, não haverá keynesianismo ou rendimento básico ou terceira via. Haverá apenas mais austeridade.
Sérias dúvidas há também quanto à questão central do emprego quando confrontado com o modelo capitalista. Ficam por esclarecer as profundas diferenças no diagnóstico do capitalismo financeirizado nas escolas neo-keynesianas e outras leituras, como a de Robert Brenner e David Harvey, sem que exista no documento de Navarro e Torres uma única posição marxista na análise ao sistema de crédito. Sugere-se o reforço dos sistemas de crédito públicos e o "direito ao crédito". Não deve existir nada contra o empréstimo propriamente dito, desde que este seja par a assegurar que os níveis salariais crescem o suficiente sustentados no trabalho produtivo para toda a sociedade não ficar sob um novo tipo de "servidão pela dívida" como aquela que ainda estamos a viver . Gasta-se aqui também uma boa porção de papel falando em fortalecer os sindicatos - mas, se avançarmos um cenário de fraco investimento privado por um lado num contexto onde permanece a atomização das empresas e a precariedade pela retirada do capital pela banca, descobrimos que o sector privado de pouco pode valer à união sindical se o grande empregador é o Estado. O rendimento básico para todos, com especial ênfase nos desempregados, aparece aqui literalmente apagado do mapa, conquanto em conjunto com os milhões de empregados precários esta actualmente seja a melhor base social possível para a negociação contra o capital.
Boaventura Sousa Santos diz estarmos perante um "partido-movimento de tipo novo" - novo? assenta numa proposta de conciliação de classes, tipicamente social-democrata na esperança que esta se torne global por caridade dos ricos, omisso quanto ao imperialismo e ao seu braço armado, a Nato - resta saber se o capitalismo, no seu estado actual de decadência e degradação do processo de acumulação de capital, poderia sustentar de novo um regime social-democrata. (Visão)
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