Pesquisar neste blogue

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

a contra revolução em marcha na Venezuela

Muito se fala, a propósito das actuais possibilidades de revolução, na organização “das massas”. É verdade, não há libertadores, é cada povo por si, pela organização política que escolhe ou por que é submetido à exploração dos capitalistas, que se liberta, ou permanece subjugado. Antes do mais, é necessário definir o que se entende hoje em dia por “massas” (reunidas em classes como se fossem heterogéneas) e se a sua suposta “organização” é suficiente, ou sequer o principal imperativo para revolucionar o sistema.

Na Venezuela a chamada “Revolução Bolivariana”, aka o “socialismo do século XXI, leva 16 anos de existência. Desde 1999 Hugo Chávez implantou um programa de governo o combate à pobreza tendo como suporte financeiro as receitas da nacionalização do petróleo. Criou-se um mundo alegadamente independente do da grande burguesia. As “massas” organizaram-se nas “missiones” e cooperativas, nas mais diversas áreas, na reforma agrária tomando posse de milhões de hectares entregues aos trabalhadores, no Ensino, irradicando o analfabetismo, na Saúde pública e assistência social pelas redes comunitárias de participação popular dos “Barrios Adentro” beneficiando as camadas mais pobres da população, a desigualdade diminuiu, as reivindicações das comissões de trabalhadores conseguiram aumentos substanciais do salário mínimo. Houve um grande número de eleições e referendos populares, reiterando sempre o carácter democrático do regime. O governo promoveu relações bilaterais com os governos progressistas latino-americanos visando uma união (a Alca) capaz de enfrentar o imperialismo. (ler mais)

Mas basta a queda abrupta dos preços do petróleo para que tudo esteja a ser posto em causa. As receitas esperadas por via das exportações de petróleo este ano irão baixar para 28 biliões de dólares. Enquanto para o pagamento dos juros da dívida externa são exigidos 10 biliões de dólares. A impossibilidade de recorrer aos mercados de capitais internacionais, por via do boicote norte-americano, significa que haverá uma drástica restrição de importações e da actividade económica. Prevê-se uma queda de 7% do PIB da Venezuela em 2015.


Porque colapsa então esta possibilidade de instaurar este modelo de socialismo de cunho nacional assente na ideologia de libertação bolivariana? Primeiro que tudo, recordar que Karl Marx condenou Simon Bolivar como traidor, ao emancipar-se da sorte da classe operária do país colonizador para criar uma grande burguesia de negócios locais, “independentes”. Na Venezuela do século XXI esta classe dominante mantém a sua idiossincracia original. Em 16 anos o Chavismo não tocou com um dedo no regime de propriedade privada, que sustenta maioritariamente o emprego dependente dos investidores capitalistas aliados ao capital financeiro internacional. A imensa maioria dos grupos de comunicação é privada e portanto contrária ao regime. É quanto basta para que se lançasse a Venezuela numa séria crise de abastecimento decorrente do boicote internacional ao qual se aliam os grandes comerciantes das cadeias de distribuição do país. Para a classe possidente organizada em torno da direita, o principal objectivo é deitar mão às possibilidades de recuperação para os seus negócios de tudo o que foi entretanto criado no âmbito da propriedade dos bens comuns. Apesar das denúncias dos açambarcamentos ilegais, verificam-se grandes filas de horas de espera para adquirir bens essenciais. O descontentamento aumenta, a base social de apoio ao governo desmorona-se.
¿Repetir-se-á contra Nicolás Maduro o mesmo tipo de golpe que foi perpretado contra Salvador Allende nos anos 70? No Chile foi o boicote económico financeiro e a política monetária de emissão de dinheiro que conduziu o país a uma situação de hiperinflação e à subsequente crise de desabastecimento. A queda na obtenção de divisas aliada aos constrangimentos económicos sobre as importações, nunca substituidas por uma política de soberania alimentar, leva o executivo venezuelano a escudar-se na “conspiração nacional de internacional similar à que foi aplicada no Chile”. Há um golpe-de-estado em tempo real em marcha na Venezuela por via das sanções decretadas pelos EUA, encaixando todas as peças como é habitual nos filmes da CIA. As infiltrações aumentam, os rumores circulam, a mentalidade de pânico ameaça superar a lógica da “organização das massas”. Há uma quinta coluna infiltrada através das redes de cabo e internet a partir dos EUA/Canadá. A oposição acusava Chávez, e agora Maduro de querer implantar um regime comunista à semelhança de Cuba. Os títulos dos Media gritam “perigo”, jornais como o New York Times publicam editoriais desacreditando e ridicularizando o presidente Maduro, qualificando-o de errático e despótico. Noutro artigo o NYT ataca a indústria petrolífera predizendo a sua queda, sempre na mira de deitar mão à maior mina de ouro negro da região. No mesmo dia o porta-voz do departamento de Estado dos Estados Unidos condenou a suposta “criminalização da dissidência política na Venezuela”. Trata-se dos mesmos vergonhosos agentes que aplaudiram o violento golpe-de-estado de 2002, mas quando Chávez regressou ao poder dias depois lhe pediram para “governar responsavelmente”, uma vez que tinha sido ele com a sua politica o causador do golpe. (Eva Golinger)

4 comentários:

Anónimo disse...

É duro ler este artigo. Marx apelidou Bolívar de traidor? Marx tinha 12 anos quando o Bolívar morreu. Acho esta afirmação leviana mas vou procurar saber melhor mas se Bolívar foi assim invente-se outro o que é preciso são símbolos mobilizadores.
A Venezuela é acusada tal como Angola e outros de pactuarem com a Burguesia. O Partido Comunista Brasileiro vai ao ponto de acusar o PT e trair a classe operária. Seria bom haver Lenines por todo o lado, mas não há.
Na Venezuela milhões de hectares de terra foram socializados e os camponeses são os legítimos proprietários.
Querer tudo já de repente é próprio no anarquismo pequeno burguês.
O que me intriga é o preço do petróleo mas não sei se os americanos não estarão a cavar a sua própria sepultura.
Haja confiança nas massas.
O Salvador Allende já lá vai e o Chile, país de 60% de brancos com muitos es exilados volta na volta recompõe-se.
A grande preocupação é a Bolívia e os amigalhaços presidenciais.
VIU

xatoo disse...

quer dizer, lá na cuca do anónimo Bolivar morreu, mas Marx depois que cresceu não podia ter escrito sobre ele. É isso? já agora pesquisa também das razões porque Simon Bolivar tem uma enorme estátua numa importante esquina do Central Park em New York. Homenagem da burguesia imperialista?

Anónimo disse...

São estas coisas que nos arruinam.
A estátua representa o libertador das Américas. Vamos dinamitá-la por isso?
Há objectivos que é preciso cumprir e já agora onde foi que Marx acusou esse tal Simon Bolívar de como traidor, ao emancipar-se da sorte da classe operária do país colonizador para criar uma grande burguesia de negócios locais, “independentes”. ?
Conheço mal tal libertador mas já nada me estranha mas não creio que esta posição do Xatoo tenha alguma pedagogia com algum valor, antes pelo contrário. Coisas bombásticas para atrasar a Revolução. Foi sempre assim o MRPP. Pelos vistos, tudo na mesma. É o seu destino Histórico não obstante toda a minha boa vontade. É cada murro no estômago...

xatoo disse...

o partido no poder é o "Partido Socialista Unido da Venezuela" fundado por Chávez, que não é comunista, não mexeu na propriedade privada e advoga a conciliação de classes. O programa dos comunistas é substancialmente diferente, para quem se quiser dar ao trabalho de perceber