O BES apoia Angola nos grandes negócios; o BPI/BFA, BTA, e a CGD, tiveram em 2005 lucros liquidos superiores a 138 milhões de euros; o BCP coligado com o Santander até 2010 assumem o controlo do BTA. Outras parcerias em formação são com os CTT, a CGD/Saúde e a Pharma Portugal
O principal colaborador na área da Defesa Nacional a ESCOM, do grupo Espirito Santo (BES) é o principal investidor “nacional” em Angola, com interesses relevantes na mineração (diamantes) Imobiliário, Saúde, Obras Públicas, Trading, Aviação, Pescas (uma frota de 7 barcos), Águas e Saneamento. A empresa, dita nacional, mas que tem a sede nas Ilhas Virgens para se escapar ao pagamento de impostos, tem em mãos investimentos superiores a 500 milhões de euros, 90% dos quais em Angola (2800 colaboradores). Em 2004 o volume de negócios cifrou-se em 51 milhões de euros, dez vezes mais do que no ano anterior. Em 2005 aliou-se às principais holdings de capitais angolanos: a Endiama e Hipergesta e à empresa russa Alrosa na exploração da 5ª maior mina diamantifera do mundo, o Luó com acordos de know-how com os australianos da BHP. A ESCOM e o Estado Chinês partilham a empresa CHINA BEIYA ESCOM por onde passam todos os vultuosos investimentos chineses em Angola e no Congo Brazaville. Os lucros para a Escom nesta parceria cifraram-se em 2005 em 170 milhões de euros.
Os grandes negócios em Angola estão ligados à nomenklatura do Estado, aos nomes relacionados com o poder politico e o regime. Em Portugal, recentemente tem-se destacado o nome da filha do Presidente do MPLA. Isabel dos Santos, licenciada como engenheira informática em Londres, que é parceira de empresas portuguesas como a PT e tem-se associado a empresas e empresários portugueses como parceira estratégica para negócios como a Banca, as Telecomunicações e o Mobiliário onde comparticipa na empresa bracarense Iduna que projecta construir a maior fábrica de aço em Angola.
A filha do Presidente prepara-se também para comprar a participação de 49% da Cimpor na maior empresa de cimentos angolana, a Cimangola, devendo a Cimpor depois de reaver o investimento de 52,6 milhões de euros que fez em Angola, preparar-se para sair do mercado angolano.
Isabel dos Santos iniciou-se nos negócios em 1997 à frente da empresa Urbana 2000 que monopoliza um negócio de limpeza e saneamento de Luanda, com contratos anuais de 10 milhões de dólares. É proprietária da Geni, sociedade fundada com o brigadeiro Leopoldino Fragosos do Nascimento, chefe se comunicações da Presidência, tendo como outros sócios António Van-Dúnem, ex-secretário do Conselho de Ministros, e Manuel Augusto da Fonseca, do Gabinete juridico da Sonangol; em conjunto com a Portugal Telecom detem 50% da Unitel a maior operadora de telefones móveis angolana.
Américo Amorim que é sócio da filha do presidente angolano, no Banco Internacional de Crédito (BIC), formou um Consórcio com a Sonangol para entrar numa primeira fase no capital da GALP com 15%, com a promessa de vir a ficar com mais de 30%. Os negócios de Isabel dos Santos passam tambem pelos diamantes, ramo onde é accionista da Ascorp, e pela Hotelaria. Nestes negócios de milhões nunca é referida a origem do dinheiro destes investimentos, facto a que óbviamente não será estranho o oligarca José Eduardo dos Santos ser um dos homens mais ricos do mundo.
“Quem pensa que não corre riscos (ao investir em Angola) está completamente enganado,,, aquilo que digo é que não devemos investir noutro país o que faz falta em Portugal” – disse Fernando Pinho Teixeira, presidente da empresa Ferpinta, o nosso maior fabricante de tubos metálicos e chapa perfilada, já com uma unidade fabril instalada em Luanda (79 milhões de euros) e em vias de instalar outra em conjunto com a Secil no Lobito (65 milhões de euros); a Unicer investe 150 milhões de euros para construir uma nova cervejeira com capacidade para 700 milhões de litros.
Perante toda esta azáfama, e com os sectores-chave todos postos com dono à ordem da Multinacionais, como é boa regra do neoliberalismo em todo o mundo - situação que neste caso resultou da concertação durante as três décadas de guerra entre os NEOCONS nacionais (começou com o então ministro dos Negócios Estrangeiros Durão Barroso e Cavaco Silva aos pulos nos comicios do Zedu) e os oligarcas angolanos do MPLA (acessorados pela Escom/BES/empresas militares Israelitas) que aniquilaram literalmente toda a oposição num autêntico genocidio étnico – que sentido faz o apelo de Sócrates aos investimentos portugueses em Angola? - o que eles querem lá é clientes (consumidores)!
Faça-se as contas à parte percentual por cada investidor/trabalhador emigrante que reverte para os bolsos da Corrupção instalada, de cada vez que se deslocar, dormir, comer, telefonar, etc. Outra situação curiosa que resulta da análise destes números é que para que se obtenham estas pseudos facilidades de acesso a (pequenos) negócios, a moeda de troca tenha sido a do Consórcio Politico/Empresarial do Estado português dar como contrapartida a entrada na economia portuguesa ao braço corrupto da Oligarquia angolana,,,
Esta é a Angola que os Portugueses não quiseram ver:
"Não basta descrever a beleza da marginal de Luanda. Era preciso dizer que 70% do nosso povo (sobre)vive na miséria. Os jornalistas portugueses, bem como os políticos e demais membros da comitiva que acompanhou o primeiro-ministro José Sócrates na visita a Angola não sujaram os sapatos para ver, in loco, os nossos descalços e famintos cidadãos. Ficaram, contudo, com a alma bem suja. Se é que a têm. Sócrates correu na marginal de Luanda, comeu e bebeu do melhor, conheceu a parte dos poucos que têm muitos milhões. E o povo? E os muitos milhões que têm pouco ou nada? Que os políticos e empresários portugueses assim se comportem, ainda vá que não vá. São todos iguais. Mas então os jornalistas? Desses, nós – o povo angolano, esperávamos muito, muito mais".
Jorge de Castro, jornalista do Noticias Lusófonas, para ler mais aqui.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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sexta-feira, abril 28, 2006
quarta-feira, abril 26, 2006
O dia + longo de Henrique Neto
Corria ano de 1969 e um jovem Henrique Neto apresentava-se como candidato da Oposição Democrática pelo distrito de Leiria, nas eleições legislativas. Um ano antes, o candidato saíra de uma reunião política do movimento na região com a responsabilidade de levar ideias de mudança de regime junto da população do concelho mais isolado e rural do distrito, Pedrógão Grande. Eu e outros jovens passámos a fazer disso uma missão, relembra. Durante os meses seguintes, até às eleições, o grupo passou quase todos os fins-de-semana naquele concelho. De freguesia em freguesia, falaram com as pessoas, organizaram colóquios, distribuíram folhetos no final da missa de Domingo, visitaram cafés, tentaram influenciar aqueles que poderiam estar mais abertos à mudança, como os professores e os médicos. O trabalho corria bem, mas os sinais iam aparecendo: um dia descobriam que os folhetos entregues no final da missa estavam a ser religiosamente queimados numa paragem de reparação de automóveis. “As pessoas recebiam os papéis e depois iam entregá-los ao senhor da garagem para mostra a sua fidelidade ao regime e ao cacique local, explica. Ainda assim, e apesar de na sombra sempre bem recebido por onde passou. Foi um ano intenso de promoção daquilo que pensávamos ser uma coisa óbvia, a ideia de liberdade e de mudança, afirma. Chegou o dia das eleições e o resultado no concelho foi claro: cerca de 930 votos para um lado e três para o outro, o da Oposição Democrática. Se pensar que um desses votos era meu e o outro da minha mulher, vê aí o resultado de um ano de trabalho, ironiza. Da desilusão saiu a lição. Aprendi que não é a partir do exterior das organizações humanas, sejam elas uma freguesia ou uma empresa, que se conseguem mudanças profundas. Para transformar é preciso contar com quem esta no terreno, fazer alianças e não implantes, sublinha o empresário. Tudo isto porque, afinal, ter razão, só por si, não chega.
publicado no suplemento DiaD do DN
publicado no suplemento DiaD do DN
terça-feira, abril 25, 2006
abril, Abril, Lutas Mil
fiem-se em revivalismos de pacotilha e não corram,,,
a única "conquista" que nos sobrou de Abril foi a capacidade de ocuparmos a Rua!, mas isso afinal foi coisa que sempre tivemos,,,
e, se estão à espera que os parlamentares resolvam os problemas dos outros - bem podem ir esperando mais outros 30 (ou 48? ou mais 96?!) anos,,, (óh pra ele!)
não esqueçam: está escrito em letra de forma:
um 25 de Abril GLOBAL em marcha: por toda a parte se preparam greves pelos direitos de Cidadania - contra o Militarismo
www.infoshop.org/inews/
a única "conquista" que nos sobrou de Abril foi a capacidade de ocuparmos a Rua!, mas isso afinal foi coisa que sempre tivemos,,,
e, se estão à espera que os parlamentares resolvam os problemas dos outros - bem podem ir esperando mais outros 30 (ou 48? ou mais 96?!) anos,,, (óh pra ele!)
não esqueçam: está escrito em letra de forma:
um 25 de Abril GLOBAL em marcha: por toda a parte se preparam greves pelos direitos de Cidadania - contra o Militarismo
www.infoshop.org/inews/
segunda-feira, abril 24, 2006
um prólogo,,, e 3 filmes sobre a condição da mulher - nos paises Nórdicos, transAmérica e o nosso Espelho Mágico
Não era Thomas Jefferson que dizia que um país só seria livre quando todos os seus cidadãos fossem suficientemente educados para poderem também ser livres?.
Vendo-se o tipo de "educação" que os portugueses regra geral frequentam, dá para perceber que o Comentador/CensorPacheco, como lider de audiências, anda em boa companhia,,, é um dos 10 blogues mais lidos em Portugal onde faz companhia p/e a estes: Aqui é só gatas/ Apanhadas na Net/ Megafone/ Filmes de sexo grátis/Abrupto/Gatas_hard/ 3ºAnel/ Bundalog/
Antigamente a Censura cortava artigos inteiros impedindo que os autores publicassem as suas opiniões. O censorPacheco, pago pelos media corporativos, vai mais longe - corta a pessoa que tenha algo a dizer como pessoa na sua totalidade. o CensorPacheco tem a importância que merece, adulado e frequentado pelo mesmo séquito de idiotas úteis que fazem da Politica um voyeurismo idêntico ao Sexo ou ao Futebol. Junte-se-lhe a Irmã Lúcia e os gestores apadralhados do fundamentalismo religioso e temos o sinistro retrato do Portugal de hoje por inteiro.
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Nomeados, de uma ou outra forma, para prémios diversos, 3 filmes recentes sobre a condição feminina impressionam particularmente, sobretudo quando se vêem tantas vozes masculinas, na política e seus comentadores na comunicação social, erguer-se contra uma lei que estabeleça uma discriminação positiva, impondo quotas mínimas para os vários cargos políticos.
A Suécia, a Noruega e a Finlândia, democracias avançadas, desde que a têm viram aumentar largamente a participação feminina na política, enquanto, na vizinha Espanha, Zapatero, com um governo pântano de mulheres e homens, quer estabelecer tal princípio também para os gestores das empresas públicas onde as mulheres, como quadros superiores, não têm praticamente expressão.
* "North Country/Terra Fria", da neo-zelandesa Niki Caro
* "Transamérica", de Duncan Tucker - a condição feminina na América do Norte
Crónica de Tito Livio, no N.A.
* Portugal e a casa vazia de Deus - as obcessões de uma mulher rica que quer ter uma aparição da Virgem Maria
O filme de Manoel de Oliveira é um deslumbramento de personagens e lugares, de gestos e objectos. Consegue situar-se num estranho resto em que rimos quase permanentemente. Poucos filmes portugueses têm um humor tão vivo e tão profundo, e ao mesmo tempo, como tantas vezes em Oliveira, tão desconcertante, se ver “Espelho mágico” é rir quase todo o tempo, é também ser levado a pensar através das situações, das palavras e dos gestos. Ao mesmo tempo, a interpretação é fabulosa. Já falei de Leonor Silveira, mas confesso que não esperava ter de procurar palavras certas para Ricardo Trepa, que encontra um resto extraordinário e se mantém nele sem uma única falha. Leonor Baldaque tem uma força e mobilidade que nos deixa cambaleantes e contracena com o espanto da inteligência como um magnifico Luís Miguel Cintra. Duarte de Almeida é também extraordinário. Nenhum argumento autoriza que se perca “Espelho Mágico”. É Manoel de Oliveira no seu melhor:
¿ entre a casa, a mulher e deus como poderíamos destrinçá-los?
(critica de Rodrigues da Silva, no JL)
domingo, abril 23, 2006
Desligue a Televisão,,, e vá Ler um Livro!
aviso: Não funciona com comando à distância!
TV be Gone
uma campanha da MTV(Brasil)
Fora do mercado, uma coluna de Jorge Silva Melo
Talvez seja verdade
O erro foi meu, entrei numa livraria. Parecia-me ter entrevisto na montra o novo livro de António Tabucchi, entrei. Para chegar ao fundo, ao lugar onde há vários livros (numa livraria, não devia ser o lugar principal?), atravessei várias bancas de bugigangas, revistas que oferecem chinelos e cafeteiras Bodum, agendas, os ominipresentes Moleskine. E as primeiras Bancas eram de “Best sellers e novidades com capas picantes, pernas de mulher por todo o lado, um rabo ou outro, siglas iniciáticas. Fiquei, parvo, a olhar para aqueles livros todos, quilos de papel. Aquilo não era para mim, fora um erro entrar ali, aquele negócio é para outras pessoas (sexodependentes? E compraram livros?), as editoras e os livreiros tentam desviar para dentro daquelas casas sombrias a senhora talvez licenciada que a essas mesmas horas há de mas é estar no cabeleireiro, talvez mesmo no café ao lado a comer uma sande de queijo fresco sem manteiga. Foi a primeira vez que me senti a mais numa livraria, tantas foram as que me foram familiares desde a adolescência.
Definitivamente: não sou público alvo. Com base 60 anos, boas notas na universidade, conhecimento de algumas línguas estrangeiras, não é para mim que agora se produzem livros, passei ao quadro dos excedentes da clientela. Aliás, não encontrei o Tabucchi que, sereia falaciosa, me atraíra lá para dentro, para onde só vi um mundo de conselhos práticos ou fantasias erótico medievais político iniciáticas que, de todo, não é para a minha idade e condição cardíaca. Já na rua, horrorizado, snob, e com a Primavera a trazer-me saudades de Saint-Germain des Prés (tantos livros a descobrir confiando na tenacidade dos editores a defender o seu bom nome), pus-me a fazer contas. E posso apostar em que não haveria, naquela loja moderna e central, mais de 8 por cento “de literatura”. Estranho que a literatura seja agora minoritária precisamente no negócio dos livros, ou não será? Aqueles produtos eram o que se chama entretenimento mas quem se entretem com aquilo tudo, ou livros de conselhos mas as pessoas lerão estes milhares de conselhos para emagrecer, fazer saladas, engordar, amar, falar com o chefe, arranjar emprego? Romances históricos desde o Monge de Cister de Herculano que não os quero ver à frente fábulas, livros de engane ou paródia. Está bem, nem há literatura nas livrarias nem eu sou o cliente pretendido, eis me reformado. E lá fui à tabacaria em frente onde aí sim, se encontram agora Bulgakov, Calvino, Pavese, Hamsun, Andric, Tolstoi, Migueis, Cervantes, e até Teixeira – Gomes, literatura, coisa para velhotes, imagino, entre dois registos para a Santa Casa.
E eu que queria tanto ser público alvo, que se me dedicassem edições, programações, que ainda se dirigissem a mim. É que ainda gastava algum dinheiro, juro…quando leio por todo o lado que o desígnio das políticas é a formação dos públicos para comprar livros com pernas abertas de rapariga elegante?, entro na melancolia, sinto-me folha morta. O que farão comigo, público já formado? Lixo comigo? Ou terei de passar por educando, iletrado, ignorante para poder entrar num teatro?
A pouco e pouco, o meio político, cultural, editorial, curatorial, programatorial… descobriu outro destinatário, senhoras ginasticadas, moçoilas aprendizas do amor e os jovens, esses jovens que lhes enxameiam os discursos. E que é deles, que não os vejo nas livrarias, a nenhum desses alvos?
E não é só com livros, não é filmes, é teatros, nada disso será doravante para mim. Lembrem-se das recentes declarações da ministra segundo a qual o Teatro Nacional terá como público alvo os jovens e eu, que nunca o quis ser? Não tenho direito a ir ver um teatrinho normalmente para adultos ou mesmo velhos? A ver mais ou menos sic se eles ficam mais tolerantes. E percebo que, para existirem, as artes ??? terão de se portar muito bem à mesa, não citar os intolerantes, serão bem comportadas, iogurtes de frutos vermelhos com bifidus, artes limpinhas, para poderem ser propagandeadas como calmantes sociais, gerando boas maneiras políticas.
Saudades ao Vítor Silva Tavares, casquinemos!; Ou também a mim me reciclam, laranja mecânica, a ver se fico “tolerante”?
Foi um erro entrar naquela livraria, vi-me dispensado da vida. Mas talvez seja essa a verdade.
TV be Gone
uma campanha da MTV(Brasil)
Fora do mercado, uma coluna de Jorge Silva Melo
Talvez seja verdade
O erro foi meu, entrei numa livraria. Parecia-me ter entrevisto na montra o novo livro de António Tabucchi, entrei. Para chegar ao fundo, ao lugar onde há vários livros (numa livraria, não devia ser o lugar principal?), atravessei várias bancas de bugigangas, revistas que oferecem chinelos e cafeteiras Bodum, agendas, os ominipresentes Moleskine. E as primeiras Bancas eram de “Best sellers e novidades com capas picantes, pernas de mulher por todo o lado, um rabo ou outro, siglas iniciáticas. Fiquei, parvo, a olhar para aqueles livros todos, quilos de papel. Aquilo não era para mim, fora um erro entrar ali, aquele negócio é para outras pessoas (sexodependentes? E compraram livros?), as editoras e os livreiros tentam desviar para dentro daquelas casas sombrias a senhora talvez licenciada que a essas mesmas horas há de mas é estar no cabeleireiro, talvez mesmo no café ao lado a comer uma sande de queijo fresco sem manteiga. Foi a primeira vez que me senti a mais numa livraria, tantas foram as que me foram familiares desde a adolescência.
Definitivamente: não sou público alvo. Com base 60 anos, boas notas na universidade, conhecimento de algumas línguas estrangeiras, não é para mim que agora se produzem livros, passei ao quadro dos excedentes da clientela. Aliás, não encontrei o Tabucchi que, sereia falaciosa, me atraíra lá para dentro, para onde só vi um mundo de conselhos práticos ou fantasias erótico medievais político iniciáticas que, de todo, não é para a minha idade e condição cardíaca. Já na rua, horrorizado, snob, e com a Primavera a trazer-me saudades de Saint-Germain des Prés (tantos livros a descobrir confiando na tenacidade dos editores a defender o seu bom nome), pus-me a fazer contas. E posso apostar em que não haveria, naquela loja moderna e central, mais de 8 por cento “de literatura”. Estranho que a literatura seja agora minoritária precisamente no negócio dos livros, ou não será? Aqueles produtos eram o que se chama entretenimento mas quem se entretem com aquilo tudo, ou livros de conselhos mas as pessoas lerão estes milhares de conselhos para emagrecer, fazer saladas, engordar, amar, falar com o chefe, arranjar emprego? Romances históricos desde o Monge de Cister de Herculano que não os quero ver à frente fábulas, livros de engane ou paródia. Está bem, nem há literatura nas livrarias nem eu sou o cliente pretendido, eis me reformado. E lá fui à tabacaria em frente onde aí sim, se encontram agora Bulgakov, Calvino, Pavese, Hamsun, Andric, Tolstoi, Migueis, Cervantes, e até Teixeira – Gomes, literatura, coisa para velhotes, imagino, entre dois registos para a Santa Casa.
E eu que queria tanto ser público alvo, que se me dedicassem edições, programações, que ainda se dirigissem a mim. É que ainda gastava algum dinheiro, juro…quando leio por todo o lado que o desígnio das políticas é a formação dos públicos para comprar livros com pernas abertas de rapariga elegante?, entro na melancolia, sinto-me folha morta. O que farão comigo, público já formado? Lixo comigo? Ou terei de passar por educando, iletrado, ignorante para poder entrar num teatro?
A pouco e pouco, o meio político, cultural, editorial, curatorial, programatorial… descobriu outro destinatário, senhoras ginasticadas, moçoilas aprendizas do amor e os jovens, esses jovens que lhes enxameiam os discursos. E que é deles, que não os vejo nas livrarias, a nenhum desses alvos?
E não é só com livros, não é filmes, é teatros, nada disso será doravante para mim. Lembrem-se das recentes declarações da ministra segundo a qual o Teatro Nacional terá como público alvo os jovens e eu, que nunca o quis ser? Não tenho direito a ir ver um teatrinho normalmente para adultos ou mesmo velhos? A ver mais ou menos sic se eles ficam mais tolerantes. E percebo que, para existirem, as artes ??? terão de se portar muito bem à mesa, não citar os intolerantes, serão bem comportadas, iogurtes de frutos vermelhos com bifidus, artes limpinhas, para poderem ser propagandeadas como calmantes sociais, gerando boas maneiras políticas.
Saudades ao Vítor Silva Tavares, casquinemos!; Ou também a mim me reciclam, laranja mecânica, a ver se fico “tolerante”?
Foi um erro entrar naquela livraria, vi-me dispensado da vida. Mas talvez seja essa a verdade.
sexta-feira, abril 21, 2006
Olhe para a figura abaixo. Os seus olhos naturalmente acompanham o movimento circular do ponto cor-de-rosa. Mas se você fixar os seus olhos no centro do círculo (no símbolo +) vai perceber que o ponto fica verde. E se você se concentrar unica e persistentemente no símbolo +, vai perceber que todos os pontos cor-de-rosa desaparecem e fica somente um ponto verde girando.
Tudo não passa evidentemente de ilusão de óptica. É o nosso cérebro que está sendo enganado e nos induz em erro. Como na politica é a prova de que as coisas nem por sombras são sempre o que parecem.
É esse o trabalho remunerado do Pacheco Pereira. Fazer-nos acreditar que só existe um ponto verde, enquanto toda a outra realidade permanece de fora. Querias.
Era bom (para ti) que as pessoas acreditassem nisso, não era JPP?
Óbviamente, as opiniões individuais são formadas pelas repetições exaustivas comandadas por quem tem acesso aos espaços de divulgação reconhecidos oficialmente pelo establishment,,, e as opiniões públicas são construídas pelos spin-doctors a quem o sistema generosamente reconhece, que aproveitam factores bem determinados e técnicas bem definidas:
"Cognitive dissonance is a psychological phenomenon which refers to the discomfort felt at a discrepancy between what you already know or believe, and new information or interpretation. It therefore occurs when there is a need to accommodate new ideas, and it may be necessary for it to develop so that we become 'open' to them."
Tudo não passa evidentemente de ilusão de óptica. É o nosso cérebro que está sendo enganado e nos induz em erro. Como na politica é a prova de que as coisas nem por sombras são sempre o que parecem.
É esse o trabalho remunerado do Pacheco Pereira. Fazer-nos acreditar que só existe um ponto verde, enquanto toda a outra realidade permanece de fora. Querias.
Era bom (para ti) que as pessoas acreditassem nisso, não era JPP?
Óbviamente, as opiniões individuais são formadas pelas repetições exaustivas comandadas por quem tem acesso aos espaços de divulgação reconhecidos oficialmente pelo establishment,,, e as opiniões públicas são construídas pelos spin-doctors a quem o sistema generosamente reconhece, que aproveitam factores bem determinados e técnicas bem definidas:
"Cognitive dissonance is a psychological phenomenon which refers to the discomfort felt at a discrepancy between what you already know or believe, and new information or interpretation. It therefore occurs when there is a need to accommodate new ideas, and it may be necessary for it to develop so that we become 'open' to them."
quinta-feira, abril 20, 2006
"Um casino num edifício transparente em Lisboa, que invade ilicitamente a cidade com publicidade, instalado no antigo Pavilhão do Futuro. Podia lá haver melhor metáfora do nosso tempo?"
Joana Amaral Dias, no BichosCarpinteiros
Fait vous jeeux monsieurs
Finalmente, ao fim de cinco anos (5) de gestação, aparece a primeira "obra" da dupla Durão-Santana Lopes,,, voilá! - um Casino. A primeira "obra" tinha sido o Audi da Câmara Municipal de Lisboa, para a qual veio agora a publico o vereador Pedro Feist, sem a minima vergonha na cara, assumir o negócio como sua culpa pessoal. Alguem que nos explique, ou assuma tambem as culpas, sobre as restantes obras destes famigerados gestores que viraram casos de Policia,,,
e a propósito: onde pára a Policia?
Joana Amaral Dias, no BichosCarpinteiros
Fait vous jeeux monsieurs
Finalmente, ao fim de cinco anos (5) de gestação, aparece a primeira "obra" da dupla Durão-Santana Lopes,,, voilá! - um Casino. A primeira "obra" tinha sido o Audi da Câmara Municipal de Lisboa, para a qual veio agora a publico o vereador Pedro Feist, sem a minima vergonha na cara, assumir o negócio como sua culpa pessoal. Alguem que nos explique, ou assuma tambem as culpas, sobre as restantes obras destes famigerados gestores que viraram casos de Policia,,,
e a propósito: onde pára a Policia?
quarta-feira, abril 19, 2006
Jovens arquitectos em Portugal, uma geração sem condição
"Não andará longe da verdade quem afirmar que os princípios que o Governo francês tentou impor através do Contrato Primeiro Emprego já fazem regra nos ateliers de arquitectura em Portugal – sob a forma de estágios sem remuneração, de jovens arquitectos com salários muito abaixo dos mínimos e sem qualquer vinculo contratual ou da institucionalização do recibo verde.
Actualmente, e em conformidade com o decreto de lei que é o Estatuto da Ordem dos arquitectos, metade dos cidadãos habilitados a exercer os actos próprios da profissão de arquitectura em Portugal tem menos de 35 anos. Esta geração, formada nas universidades dos anos 90, é responsável por ter destacado as licenciaturas de Arquitectura das demais, pelas exorbitantes medias de entrada (quase sempre superiores a Medicina, ate então crónica liderante. Nas universidades, os sucessivos governos incentivavam o florescer do negocio das novas licenciaturas de Arquitectura sem condições que, fundamentalmente, pareciam resolver o problema das universidades existentes estranguladas. Entretanto esta geração, que não ficou fora da Ordem como por vezes se pretende fazer crer, foi chegando à profissão, sofrendo, nos dias de hoje, um violento processo de exclusão social que importa analisar. A maioria procurou iniciar a sua actividade profissional a partir do trabalho assalariado. Perante um mercado sequioso por retirar o máximo oferecendo o mínimo e com o aumento exponencial da qualidade da procura, constitui-se um sistema de concorrência ultraliberalizada – desde o salário ocasional à total ausência de remuneração. Por outro lado, os mesmos governos que nos anos 90 justificavam a inevitabilidade da implementação de uma propina pelos elevados custos do ensino superior publico, no inicio desta década dirigiram o discurso para a inevitabilidade da contenção da despesa publica. Como consequência, muitos arquitectos desta geração, partiram para o estrangeiro, num processo idêntico à mala de cartão dos anos 60, mas desta vez com o certificado de habilitações debaixo do braço. Passo a passo, o Estado vai perdendo o mais importante proveito do investimento que dizia ter feito no ensino superior.
Por outro lado, os que os no nosso país foram iniciando a sua actividade profissional por conta própria, alguns como último recurso, confrontaram-se com um sistema vigente de cumplicidades e amizades, de promoções entre pares, que de tempos a tempos, resolve enfeitar o meio com uma ou outra jovem revelação. Nos últimos anos, até os concursos que, por tradição, eram a forma como os mais brilhante arquitectos portugueses contemporâneos tinham acesso à profissão como Siza Viera, Souto Moura, Carrilho da Graça ou Gonçalo Byrne, entre outros, deixaram de existir ou são vedados por previas qualificações.
Dentro em breve, em virtude de uma iniciativa de cidadãos da qual sou signatário, a Assembleia da Republica discutirá a revogação parcial do Decreto de lei 73/73 no que diz respeito à prática profissional da arquitectura. Este decreto de 1973, que no seu preâmbulo se identifica como provisório, procurava entre outras coisas colmatar a existência de poucos arquitectos, permitindo a não arquitectos a assinatura de projectos de arquitectura. A lei, que na altura se pretendia qualificadora num país com escassas centenas de arquitectos, transformou-se num absurdo, quando a respectiva ordem profissional ameaça hoje superar os catorze mil associados.
A aprovado deste diploma de revogação parcial e do reconhecimento de que a prática profissional da arquitectura tem uma especificidade para a qual é necessária uma formação específica, é o passo mais importante para a geração de que falo.
A geração que teve as mais altas classificações do ensino secundário, que entretanto concluiu a universidade, e que se confronta diariamente com este mercado negro de trabalho, já não pode esperar mais".
Tiago Mota Saraiva (Arquitecto)
Actualmente, e em conformidade com o decreto de lei que é o Estatuto da Ordem dos arquitectos, metade dos cidadãos habilitados a exercer os actos próprios da profissão de arquitectura em Portugal tem menos de 35 anos. Esta geração, formada nas universidades dos anos 90, é responsável por ter destacado as licenciaturas de Arquitectura das demais, pelas exorbitantes medias de entrada (quase sempre superiores a Medicina, ate então crónica liderante. Nas universidades, os sucessivos governos incentivavam o florescer do negocio das novas licenciaturas de Arquitectura sem condições que, fundamentalmente, pareciam resolver o problema das universidades existentes estranguladas. Entretanto esta geração, que não ficou fora da Ordem como por vezes se pretende fazer crer, foi chegando à profissão, sofrendo, nos dias de hoje, um violento processo de exclusão social que importa analisar. A maioria procurou iniciar a sua actividade profissional a partir do trabalho assalariado. Perante um mercado sequioso por retirar o máximo oferecendo o mínimo e com o aumento exponencial da qualidade da procura, constitui-se um sistema de concorrência ultraliberalizada – desde o salário ocasional à total ausência de remuneração. Por outro lado, os mesmos governos que nos anos 90 justificavam a inevitabilidade da implementação de uma propina pelos elevados custos do ensino superior publico, no inicio desta década dirigiram o discurso para a inevitabilidade da contenção da despesa publica. Como consequência, muitos arquitectos desta geração, partiram para o estrangeiro, num processo idêntico à mala de cartão dos anos 60, mas desta vez com o certificado de habilitações debaixo do braço. Passo a passo, o Estado vai perdendo o mais importante proveito do investimento que dizia ter feito no ensino superior.
Por outro lado, os que os no nosso país foram iniciando a sua actividade profissional por conta própria, alguns como último recurso, confrontaram-se com um sistema vigente de cumplicidades e amizades, de promoções entre pares, que de tempos a tempos, resolve enfeitar o meio com uma ou outra jovem revelação. Nos últimos anos, até os concursos que, por tradição, eram a forma como os mais brilhante arquitectos portugueses contemporâneos tinham acesso à profissão como Siza Viera, Souto Moura, Carrilho da Graça ou Gonçalo Byrne, entre outros, deixaram de existir ou são vedados por previas qualificações.
Dentro em breve, em virtude de uma iniciativa de cidadãos da qual sou signatário, a Assembleia da Republica discutirá a revogação parcial do Decreto de lei 73/73 no que diz respeito à prática profissional da arquitectura. Este decreto de 1973, que no seu preâmbulo se identifica como provisório, procurava entre outras coisas colmatar a existência de poucos arquitectos, permitindo a não arquitectos a assinatura de projectos de arquitectura. A lei, que na altura se pretendia qualificadora num país com escassas centenas de arquitectos, transformou-se num absurdo, quando a respectiva ordem profissional ameaça hoje superar os catorze mil associados.
A aprovado deste diploma de revogação parcial e do reconhecimento de que a prática profissional da arquitectura tem uma especificidade para a qual é necessária uma formação específica, é o passo mais importante para a geração de que falo.
A geração que teve as mais altas classificações do ensino secundário, que entretanto concluiu a universidade, e que se confronta diariamente com este mercado negro de trabalho, já não pode esperar mais".
Tiago Mota Saraiva (Arquitecto)
terça-feira, abril 18, 2006
Dia Nacional dos Monumentos
uma citação sobre um clássico:
“Os jovens não podem continuar a olhar para o posto de trabalho como uma referência de tranquilidade e segurança. Esse quadro já não existe”
Manuel Ferreira Leite (Expresso, 14/4)
Não existe para eles, mas existe para mim, que me soube montar nas oportunidades a tempo,,,
----
Por sugestão do n/ prezado "Agitador" aqui fica:
“The Century of the Self”
um documentário da BBC – os mecanismos do controlo psicológico de massas em prol da pretensa superioridade das opções individualistas – por forma a obter uma alienação passiva de cada um dos indivíduos, transformando cada um per si em “máquinas felizes” (e submissas) na “democracia” controlada.
Episódio 1 - Happiness Machines (11,32m)
Episódio 2 - Engineering Consent – (10:54 m) - link
Episódio 3 - There is Policeman Inside all our Heads: He Must Be Destroyed (11:44 m) - link
Episódio 4 - Eight People Sipping Wine (11:27 m) - link
* Adivinhe quem foi que disse isto, sobre a crise mundial desencadeada pelo neoliberalismo:
“Os arquitectos, especialistas e administradores da nova ordem económica internacional, economistas e políticos, à medida que sua fantasia se desfaz, somente podem compreender que perderam o controle dos acontecimentos”.
* leia mais, aqui
“Os jovens não podem continuar a olhar para o posto de trabalho como uma referência de tranquilidade e segurança. Esse quadro já não existe”
Manuel Ferreira Leite (Expresso, 14/4)
Não existe para eles, mas existe para mim, que me soube montar nas oportunidades a tempo,,,
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Por sugestão do n/ prezado "Agitador" aqui fica:
“The Century of the Self”
um documentário da BBC – os mecanismos do controlo psicológico de massas em prol da pretensa superioridade das opções individualistas – por forma a obter uma alienação passiva de cada um dos indivíduos, transformando cada um per si em “máquinas felizes” (e submissas) na “democracia” controlada.
Episódio 1 - Happiness Machines (11,32m)
Episódio 2 - Engineering Consent – (10:54 m) - link
Episódio 3 - There is Policeman Inside all our Heads: He Must Be Destroyed (11:44 m) - link
Episódio 4 - Eight People Sipping Wine (11:27 m) - link
* Adivinhe quem foi que disse isto, sobre a crise mundial desencadeada pelo neoliberalismo:
“Os arquitectos, especialistas e administradores da nova ordem económica internacional, economistas e políticos, à medida que sua fantasia se desfaz, somente podem compreender que perderam o controle dos acontecimentos”.
* leia mais, aqui
“o êxito da Walmart é o êxito da América”!
Quem disse a frase que serve de titulo a este post foi o “democrata” Bill Clinton em 1992.
A maior multinacional da distribuição mundial, a Walmart tornou-se agora a maior empresa do mundo em todos os sectores (em 2003 ultrapassou a Exxon-Valdez e é hoje o maior empregador privado nos EUA). A chave do seu sucesso é o dumping social que pratica e com que conseguiu contaminar toda a economia Ocidental. A Walmart acaba de sair de um processo judicial onde pagou 172 milhões de dólares de multa por ter recusado aos empregados uma pausa para almoçar; peanuts, quando comparado com os lucros obtidos com o monopólio global para que caminha. Baseados no seu exemplo, em nome da luta contra a Toyota, a General Motors, que anunciou já a supressão de 30 mil empregos, exigiu aos operários uma diminuição de salários e aos fornecedores uma redução de custos. A Wolkswagen faz o mesmo, inclusivé na fábrica de Palmela. A maior empresa de equipamentos americana, a Delphi, queria simplesmente pagar aos assalariados 9,50 dólares por hora em vez dos actuais 28 dólares. O modelo generalizou-se e tende a ser institucionalizado à força – se não for aceite pelos Governos, as empresas fazem as malas e deslocalizam-se. É a falência do sistema, em nome da manutenção (e aumento com lucros fabulosos) dos previlégios dos seus gestores.
¿Como foi que uma pequena empresa do Arkansas,no coração religioso e conservador dos EUA, se transformou na maior corporação do planeta?, ao rebaixar salários, reprimir sindicatos, chantagear governos e destruir pequenas empresas? – com a tentação do “preço baixo” veja-se então onde nasceu e quem esteve à frente deste aparentemente “trinfante” modelo de globalização neoliberal, que agora é seguido caninamente por toda a parte pelos governantes dependentes contra os interesses dos seus próprios povos.
(link para o livro de Amy Gooman)
A primeira loja Wal-Mart foi aberta em 1962, em Rogers, no Arkansas, numa zona rural abandonada. Nove anos depois, a empresa havia ampliado a sua esfera de influência, estabelecendo-se em cinco estados. As primeiras lojas que abriu, de fraca densidade, foram ignoradas pelos grandes distribuidores: a Wal-Mart estabeleceu solidamente o seu monopólio ali, antes de estendê-lo para outros lugares. Ela privilegiou a periferia dos centros urbanos para desfrutar ao mesmo tempo da clientela das cidades e dos preços mais baixos dos terrenos. Antecipando em 1991 o acordo de livre comércio norte-americano (Nafta, na sigla inglesa) que o presidente William Clinton, ex-governador do Arkansas, ratificou dois anos depois ,,,
,,, a Walmart chamada pelo diminuitivo de “o Pequeno Polegar de Bentonville”, onde Hillary Clinton pertenceu ao Conselho de Administração entre 1986 e 1992, internacionalizou-se e desembarcou no México. No Canadá em 1994. Em seguida no Brasil e na Argentina (1995), na China (1996), na Alemanha (1998), no Reino Unido (1999). Em 2001, as receitas da Wal-Mart ultrapassaram o PIB da maior parte dos países, entre eles a Suécia; a Carrefour, a segunda empresa do sector (72 biliões de euros em 2004), que a Wal-Mart pensou comprar em 2004, está mais presente internacionalmente. Mas a empresa fundada por Sam Walton orgulha-se de um trunfo soberano: os 100 milhões de norte-americanos que procuram toda semana os "everyday low prices" (preços baixos diariamente) que ela lhes propõe.
Lá mais baixos, são eles. Mas à custa de quê? – fazendo repercutir os custos sociais dos trabalhadores modelo Walmart pagos a ordenados minimos, nas despesas do Estado pagas pelos contribuintes,,, que pagam em impostos, com lingua de palmo, aquilo que ilusóriamente pensam que pouparam em preços baixos no consumismo desenfreado,,,
(Leia aqui o artigo completo de Serge Halimi, publicado em Janeiro/2006 no Le Monde Diplomatique)
Como fácilmente se adivinha, os patronos politicos das Corporações, são sempre repescados para o exercicio do Poder, por quem os pode pagar - que são aqueles a quem eles por sua vez tinham arranjado as situações - um circulo vicioso, repartido entre neocons "democratas" e neocons republicanos, e respectivos derivados nas periferias. Depois de Bush, espera-nos a paz - mas o que chamamos "paz" é pouco mais que a capitulação ao golpe corporativo. Até que seja preciso desencadear outras guerras e outras agressões,,,
www.billforfirstlady.com
A maior multinacional da distribuição mundial, a Walmart tornou-se agora a maior empresa do mundo em todos os sectores (em 2003 ultrapassou a Exxon-Valdez e é hoje o maior empregador privado nos EUA). A chave do seu sucesso é o dumping social que pratica e com que conseguiu contaminar toda a economia Ocidental. A Walmart acaba de sair de um processo judicial onde pagou 172 milhões de dólares de multa por ter recusado aos empregados uma pausa para almoçar; peanuts, quando comparado com os lucros obtidos com o monopólio global para que caminha. Baseados no seu exemplo, em nome da luta contra a Toyota, a General Motors, que anunciou já a supressão de 30 mil empregos, exigiu aos operários uma diminuição de salários e aos fornecedores uma redução de custos. A Wolkswagen faz o mesmo, inclusivé na fábrica de Palmela. A maior empresa de equipamentos americana, a Delphi, queria simplesmente pagar aos assalariados 9,50 dólares por hora em vez dos actuais 28 dólares. O modelo generalizou-se e tende a ser institucionalizado à força – se não for aceite pelos Governos, as empresas fazem as malas e deslocalizam-se. É a falência do sistema, em nome da manutenção (e aumento com lucros fabulosos) dos previlégios dos seus gestores.
¿Como foi que uma pequena empresa do Arkansas,no coração religioso e conservador dos EUA, se transformou na maior corporação do planeta?, ao rebaixar salários, reprimir sindicatos, chantagear governos e destruir pequenas empresas? – com a tentação do “preço baixo” veja-se então onde nasceu e quem esteve à frente deste aparentemente “trinfante” modelo de globalização neoliberal, que agora é seguido caninamente por toda a parte pelos governantes dependentes contra os interesses dos seus próprios povos.
(link para o livro de Amy Gooman)
A primeira loja Wal-Mart foi aberta em 1962, em Rogers, no Arkansas, numa zona rural abandonada. Nove anos depois, a empresa havia ampliado a sua esfera de influência, estabelecendo-se em cinco estados. As primeiras lojas que abriu, de fraca densidade, foram ignoradas pelos grandes distribuidores: a Wal-Mart estabeleceu solidamente o seu monopólio ali, antes de estendê-lo para outros lugares. Ela privilegiou a periferia dos centros urbanos para desfrutar ao mesmo tempo da clientela das cidades e dos preços mais baixos dos terrenos. Antecipando em 1991 o acordo de livre comércio norte-americano (Nafta, na sigla inglesa) que o presidente William Clinton, ex-governador do Arkansas, ratificou dois anos depois ,,,
,,, a Walmart chamada pelo diminuitivo de “o Pequeno Polegar de Bentonville”, onde Hillary Clinton pertenceu ao Conselho de Administração entre 1986 e 1992, internacionalizou-se e desembarcou no México. No Canadá em 1994. Em seguida no Brasil e na Argentina (1995), na China (1996), na Alemanha (1998), no Reino Unido (1999). Em 2001, as receitas da Wal-Mart ultrapassaram o PIB da maior parte dos países, entre eles a Suécia; a Carrefour, a segunda empresa do sector (72 biliões de euros em 2004), que a Wal-Mart pensou comprar em 2004, está mais presente internacionalmente. Mas a empresa fundada por Sam Walton orgulha-se de um trunfo soberano: os 100 milhões de norte-americanos que procuram toda semana os "everyday low prices" (preços baixos diariamente) que ela lhes propõe.
Lá mais baixos, são eles. Mas à custa de quê? – fazendo repercutir os custos sociais dos trabalhadores modelo Walmart pagos a ordenados minimos, nas despesas do Estado pagas pelos contribuintes,,, que pagam em impostos, com lingua de palmo, aquilo que ilusóriamente pensam que pouparam em preços baixos no consumismo desenfreado,,,
(Leia aqui o artigo completo de Serge Halimi, publicado em Janeiro/2006 no Le Monde Diplomatique)
Como fácilmente se adivinha, os patronos politicos das Corporações, são sempre repescados para o exercicio do Poder, por quem os pode pagar - que são aqueles a quem eles por sua vez tinham arranjado as situações - um circulo vicioso, repartido entre neocons "democratas" e neocons republicanos, e respectivos derivados nas periferias. Depois de Bush, espera-nos a paz - mas o que chamamos "paz" é pouco mais que a capitulação ao golpe corporativo. Até que seja preciso desencadear outras guerras e outras agressões,,,
www.billforfirstlady.com
segunda-feira, abril 17, 2006
Numa altura em que 6 generais pedem a cabeça do Secretário de Estado norte-americano como bode-expiatório dos fracassos meio-programados no Iraque, interessa rever a história, e concluir que a questão não se põe em substituir uma besta por outro animal qualquer. Embora seja de tal gravidade que se torne imperativo o julgamento deste facínora num tribunal internacional, a grande questão é mesmo a de que não é de julgar um assassino que se trata. É todo um sistema politico que está em causa e deve, de Nixon a Clinton, de Reagan a Bush, tambem ele ser julgado.
É conhecido o secretário para a Defesa, aquele que hoje tem de prestar contas pelas torturas no Iraque. Mas para compreender o personagem - e as actuais derivas do Pentágono -, é preciso mergulhar nos arquivos da Bolsa norte-americana. É aí que se descobre uma espantosa carreira de homem de negócios, feita de ligações perigosas entre o público e o privado.
Desta vez (em 2004), Donald Rumsfeld perdeu o seu sorrisinho de sacana. Ouvido a 7 de Maio pelo Senado norte-americano, o secretário para a Defesa da administração Bush teve de reconhecer a sua "responsabilidade" nas humilhações e torturas infligidas aos detidos na prisão de Abou Ghraib. Mas o chefe dos falcões que reina no Pentágono não se demitiu. Não hesitando em desculpar-se com o seu estado-maior, o inflexível "Rummie" escudou-se nas suas convicções. Não é para admirar, já que este diplomado por Princeton, que ciranda por Washington há 40 anos, é um dos pilares do campo ultraconservador. Ele é a encarnação, até à caricatura, desta doutrina: moralismo belicoso em política e ultraliberalismo na economia. Com os seus derivativos: a começar pela confusão entre a gestão dos assuntos do Estado e o negócio privado.
Desde os seus começos na esteira do presidente Nixon, no fim dos anos de 1960, Rumsfeld prossegue uma dupla carreira: o homem político esconde um homem de negócios. É o segredo de "Don" que os meios de comunicação americanos, ocupados em incensar o cabo-de-guerra que tomou o comando após os atentados de 11 de Setembro, evocam apenas por meias palavras. Um estranho tabu, visto que um exame minucioso à declaração de patrimônio entregue pelo secretário para a Defesa quando da sua tomada de posse em 2000 (um calhamaço de 50 páginas!) permite constatar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de fila de uma rede que navega, há 40 anos, entre os conselhos de administração da "corporate America" e os gabinetes governamentais. Os arquivos da SEC (a polícia da Bolsa americana) e o estudo dos documentos desclassificados da administração mostram, igualmente, que Rumsfeld e os seus são peritos no manejo das "revolving doors", essas portas giratórias que permitem efectuar frutuosas idas e voltas entre o privado e o público. Ao obter modificações às leis ou influenciando nas decisões da administração em nome de métodos e comportamentos próprios do mundo dos negócios, Rumsfeld e os republicanos de extrema direita o que fazem muitas vezes é satisfazer o seu apetite financeiro. Da limpeza das fardas à formação dos polícias iraquianos, da alimentação dos GI à recolha de informações, raras são as funções militares, com excepções da guerra propriamente dita, que não foram entregues a empresas subcontratadas. E raras são também as empresas que não contam no seu conselho de administração com algumas eminentes figuras ultraconservadoras. O último exemplo conhecido: segundo um inquérito interno conduzido pelo exército norte-americano, o Pentágono chegou ao ponto de contratar uma empresa privada - Caci International - para os interrogatórios dos presos de Abou Ghraib. Entre os administradores da Caci encontra-se o general Larry Welch, antigo comandante da US Air Force e velho conhecido de Donald Rumsfeld. Em Março de 2003, tinha-o designado para fazer a avaliação de um plano de armamento futurista, dotado de um orçamento de 15 biliões de dólares e de que a Caci International é hoje um dos principais beneficiários. O facto do general Welch, auditor "independente" de um programa governamental, ser também o administrador de uma companhia que lucra com este programa não parece chocar o Sr. Rumsfeld. O que sabemos menos é que estas ligações perigosas pontuaram toda a sua carreira.
Leia aqui o resto da história, desde os tempos em que Rumsfeld se iniciou como um dos Nixon`s Boys
É conhecido o secretário para a Defesa, aquele que hoje tem de prestar contas pelas torturas no Iraque. Mas para compreender o personagem - e as actuais derivas do Pentágono -, é preciso mergulhar nos arquivos da Bolsa norte-americana. É aí que se descobre uma espantosa carreira de homem de negócios, feita de ligações perigosas entre o público e o privado.
Desta vez (em 2004), Donald Rumsfeld perdeu o seu sorrisinho de sacana. Ouvido a 7 de Maio pelo Senado norte-americano, o secretário para a Defesa da administração Bush teve de reconhecer a sua "responsabilidade" nas humilhações e torturas infligidas aos detidos na prisão de Abou Ghraib. Mas o chefe dos falcões que reina no Pentágono não se demitiu. Não hesitando em desculpar-se com o seu estado-maior, o inflexível "Rummie" escudou-se nas suas convicções. Não é para admirar, já que este diplomado por Princeton, que ciranda por Washington há 40 anos, é um dos pilares do campo ultraconservador. Ele é a encarnação, até à caricatura, desta doutrina: moralismo belicoso em política e ultraliberalismo na economia. Com os seus derivativos: a começar pela confusão entre a gestão dos assuntos do Estado e o negócio privado.
Desde os seus começos na esteira do presidente Nixon, no fim dos anos de 1960, Rumsfeld prossegue uma dupla carreira: o homem político esconde um homem de negócios. É o segredo de "Don" que os meios de comunicação americanos, ocupados em incensar o cabo-de-guerra que tomou o comando após os atentados de 11 de Setembro, evocam apenas por meias palavras. Um estranho tabu, visto que um exame minucioso à declaração de patrimônio entregue pelo secretário para a Defesa quando da sua tomada de posse em 2000 (um calhamaço de 50 páginas!) permite constatar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de fila de uma rede que navega, há 40 anos, entre os conselhos de administração da "corporate America" e os gabinetes governamentais. Os arquivos da SEC (a polícia da Bolsa americana) e o estudo dos documentos desclassificados da administração mostram, igualmente, que Rumsfeld e os seus são peritos no manejo das "revolving doors", essas portas giratórias que permitem efectuar frutuosas idas e voltas entre o privado e o público. Ao obter modificações às leis ou influenciando nas decisões da administração em nome de métodos e comportamentos próprios do mundo dos negócios, Rumsfeld e os republicanos de extrema direita o que fazem muitas vezes é satisfazer o seu apetite financeiro. Da limpeza das fardas à formação dos polícias iraquianos, da alimentação dos GI à recolha de informações, raras são as funções militares, com excepções da guerra propriamente dita, que não foram entregues a empresas subcontratadas. E raras são também as empresas que não contam no seu conselho de administração com algumas eminentes figuras ultraconservadoras. O último exemplo conhecido: segundo um inquérito interno conduzido pelo exército norte-americano, o Pentágono chegou ao ponto de contratar uma empresa privada - Caci International - para os interrogatórios dos presos de Abou Ghraib. Entre os administradores da Caci encontra-se o general Larry Welch, antigo comandante da US Air Force e velho conhecido de Donald Rumsfeld. Em Março de 2003, tinha-o designado para fazer a avaliação de um plano de armamento futurista, dotado de um orçamento de 15 biliões de dólares e de que a Caci International é hoje um dos principais beneficiários. O facto do general Welch, auditor "independente" de um programa governamental, ser também o administrador de uma companhia que lucra com este programa não parece chocar o Sr. Rumsfeld. O que sabemos menos é que estas ligações perigosas pontuaram toda a sua carreira.
Leia aqui o resto da história, desde os tempos em que Rumsfeld se iniciou como um dos Nixon`s Boys
quinta-feira, abril 13, 2006
o Evangelho segundo Pasolini
a Alienação Católica, como qualquer outra “mercadoria” tenta-se expandir pela globalização
Numa época em que a continuidade entre o fascismo fascista e o fascismo democrata –cristão era completa e absoluta – a continuidade dos códigos, a violência policial, o desprezo pela Constituição – o voto que garantia a maioria assentava na classe média e nas enormes massas camponesas geridas pelo Vaticano. Mas de repente, no pós guerra, os valores particulares, como a igreja, pátria, familia, obediência, ordem, poupança e moralidade, são postos em causa e deixam de contar, sendo práticamente destruidos pela violenta homologação da industrialização. Tudo se virou. A luta progressista pela democratização expressiva e pela liberalização sexual foi brutalmente ultrapassada e anulada pela decisão do poder consumista de conceder uma tão vasta (como falsa) tolerância. A violência sobre os corpos tornou-se o dado mais macroscópico da nova época humana. Quando em 1961 Pier Paolo Pasolini filma “Accattone” nos borgate (bairros pobres) onde morava, nenhum burguês pariolini (literalmente traduzido por filhos dos papás dos bairros ricos) sabia concretamente como era segregado o subproletariado suburbano, marginalizado e alvo de racismo e da impiedosa, criminosa e indiscutivel violência da policia. Hoje as coisas pioraram. Seria impossivel seleccionar um bando de “accattones” (literalmente traduzido por vadios) genuinos, que conseguissem ser actores não profissionais e representar e dizer os textos assim com aquela genuidade. Na cena final, Accattone morre perseguido pelos carabinieri e quando sussura as últimas palavras – “agora estou finalmente em paz” – a posição em que caiu é a mesma do clássico “Cristo Morto” de Mantegna.
Cena final de Accatone
"Cristo Morto"
de Andrea Mantegna - Pinacoteca de Brera, Milão
Numa época em que a continuidade entre o fascismo fascista e o fascismo democrata –cristão era completa e absoluta – a continuidade dos códigos, a violência policial, o desprezo pela Constituição – o voto que garantia a maioria assentava na classe média e nas enormes massas camponesas geridas pelo Vaticano. Mas de repente, no pós guerra, os valores particulares, como a igreja, pátria, familia, obediência, ordem, poupança e moralidade, são postos em causa e deixam de contar, sendo práticamente destruidos pela violenta homologação da industrialização. Tudo se virou. A luta progressista pela democratização expressiva e pela liberalização sexual foi brutalmente ultrapassada e anulada pela decisão do poder consumista de conceder uma tão vasta (como falsa) tolerância. A violência sobre os corpos tornou-se o dado mais macroscópico da nova época humana. Quando em 1961 Pier Paolo Pasolini filma “Accattone” nos borgate (bairros pobres) onde morava, nenhum burguês pariolini (literalmente traduzido por filhos dos papás dos bairros ricos) sabia concretamente como era segregado o subproletariado suburbano, marginalizado e alvo de racismo e da impiedosa, criminosa e indiscutivel violência da policia. Hoje as coisas pioraram. Seria impossivel seleccionar um bando de “accattones” (literalmente traduzido por vadios) genuinos, que conseguissem ser actores não profissionais e representar e dizer os textos assim com aquela genuidade. Na cena final, Accattone morre perseguido pelos carabinieri e quando sussura as últimas palavras – “agora estou finalmente em paz” – a posição em que caiu é a mesma do clássico “Cristo Morto” de Mantegna.
Cena final de Accatone
"Cristo Morto"
de Andrea Mantegna - Pinacoteca de Brera, Milão
“Áh, aquilo que queres saber, meu rapaz, acabará não perguntado, perder-se-á sem ser dito”
in “Shane” de George Stevens
Os mesmos actores que Pasolini transformou em marginais, pequenos delinquentes, bandidos, putas e proletários, fazendo deles personagens nobres saidos como que da mitologia de uma narrativa religiosa como nos quadros de Caravaggio, representaram depois os apóstolos no “Evangelho Segundo Mateus” salazarentemente traduzido entre nós para “O Evangelho Segundo SÃO Mateus”. Diria o realizador em entrevista:
“ Encontro muita semelhança entre a fuga de José e a Virgem e os milhões de refugiados que existem no mundo actual” – o que lhe valeu fortes ataques do Vaticano e da classe politica conservadora. Por essa época Pasolini tinha-se tornado famoso, tendo já trinta processos judiciais contra ele por diversos crimes e ofensas contra a moral e a religião – inclusivamente tinha sido expulso do Partido Comunista por defender o Marxismo e o Cristianismo como as grandes forças- motriz da Civilização Ocidental – “A ideia religiosa nunca foi contrária à classe operária” dizia, citando Gramsci.
“Il Vangelo Secondo Matteo” marcou a plena consagração de Pasolini como cineasta, sendo unânimemente aclamado e entre os muitos prémios como em Veneza (1964) nem faltou o do Office Catholique Internacionale. Muito se receara quando se soube do projecto. Mas eis que, paradoxalmente, o marxista Pasolini, com a reputação que o rodeava de “provocador” assinou uma fidelissima adaptação do Evangelho, literalmente seguido sem qualquer omissão ou acrescentamento. Vale a pena acrescentar duas declarações suas: “É uma obra de poesia o que quis fazer. Não uma obra religiosa, no sentido vulgar da palavra, nem, de algum modo, uma obra ideológica. Em palavras simples, eu não acredito que Cristo seja filho de Deus, porque não sou crente (pelo menos conscientemente).
Mas acredito que Cristo é divino, ou seja, acredito que nele a humanidade é algo de tão elevado, rigoroso e ideal que ultrapassa os termos comuns da humanidade. Por isso, falo em poesia: instrumento irracional para exprimir este meu sentimento irracional em relação a Cristo (...) uma violenta chamada de atenção a uma burguesia estupidamente lançada na destruição dos elementos antropológicamente humanos, clássicos e religiosos do homem”. Na verdade a figura de Cristo é aqui representada com a mesma violência de um resistente: como algo que contradiga radicalmente a vida como esta é vivida pelo homem moderno.
“Não vim trazer a paz, mas a guerra” – nas próprias palavras de Jesus é a chave para a compreensão da ideia de Cristo, sempre à frente dos apóstolos como um lider revolucionário que prega continuadamente na sua marcha até Jerusalem. Na sua sacralidade laica Cristo é reduzido no seu humanismo, a um género de cristianismo socialista, rompendo-se assim com o cliché da iconografia Cristã. Esta é a reconstrução mais realista da história de Cristo, um porta voz intemporal dos danados da Terra – que nada tem a ver com a hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) – sabemos como acabou Cristo, e como acabou Pasolini, ambos vitimas do poder descriccionário.
A perda e o declinio da Civilização deve-se ao Poder que está sentado sobre montanhas de despojos de vítimas.
Os mesmos actores que Pasolini transformou em marginais, pequenos delinquentes, bandidos, putas e proletários, fazendo deles personagens nobres saidos como que da mitologia de uma narrativa religiosa como nos quadros de Caravaggio, representaram depois os apóstolos no “Evangelho Segundo Mateus” salazarentemente traduzido entre nós para “O Evangelho Segundo SÃO Mateus”. Diria o realizador em entrevista:
“ Encontro muita semelhança entre a fuga de José e a Virgem e os milhões de refugiados que existem no mundo actual” – o que lhe valeu fortes ataques do Vaticano e da classe politica conservadora. Por essa época Pasolini tinha-se tornado famoso, tendo já trinta processos judiciais contra ele por diversos crimes e ofensas contra a moral e a religião – inclusivamente tinha sido expulso do Partido Comunista por defender o Marxismo e o Cristianismo como as grandes forças- motriz da Civilização Ocidental – “A ideia religiosa nunca foi contrária à classe operária” dizia, citando Gramsci.
“Il Vangelo Secondo Matteo” marcou a plena consagração de Pasolini como cineasta, sendo unânimemente aclamado e entre os muitos prémios como em Veneza (1964) nem faltou o do Office Catholique Internacionale. Muito se receara quando se soube do projecto. Mas eis que, paradoxalmente, o marxista Pasolini, com a reputação que o rodeava de “provocador” assinou uma fidelissima adaptação do Evangelho, literalmente seguido sem qualquer omissão ou acrescentamento. Vale a pena acrescentar duas declarações suas: “É uma obra de poesia o que quis fazer. Não uma obra religiosa, no sentido vulgar da palavra, nem, de algum modo, uma obra ideológica. Em palavras simples, eu não acredito que Cristo seja filho de Deus, porque não sou crente (pelo menos conscientemente).
Mas acredito que Cristo é divino, ou seja, acredito que nele a humanidade é algo de tão elevado, rigoroso e ideal que ultrapassa os termos comuns da humanidade. Por isso, falo em poesia: instrumento irracional para exprimir este meu sentimento irracional em relação a Cristo (...) uma violenta chamada de atenção a uma burguesia estupidamente lançada na destruição dos elementos antropológicamente humanos, clássicos e religiosos do homem”. Na verdade a figura de Cristo é aqui representada com a mesma violência de um resistente: como algo que contradiga radicalmente a vida como esta é vivida pelo homem moderno.
“Não vim trazer a paz, mas a guerra” – nas próprias palavras de Jesus é a chave para a compreensão da ideia de Cristo, sempre à frente dos apóstolos como um lider revolucionário que prega continuadamente na sua marcha até Jerusalem. Na sua sacralidade laica Cristo é reduzido no seu humanismo, a um género de cristianismo socialista, rompendo-se assim com o cliché da iconografia Cristã. Esta é a reconstrução mais realista da história de Cristo, um porta voz intemporal dos danados da Terra – que nada tem a ver com a hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) – sabemos como acabou Cristo, e como acabou Pasolini, ambos vitimas do poder descriccionário.
A perda e o declinio da Civilização deve-se ao Poder que está sentado sobre montanhas de despojos de vítimas.
terça-feira, abril 11, 2006
um sujeito politico novo,,,
,,,a possibilidade de um voto desalinhado do grupo popularucho e dos autodenominados socialistas europeus - ambos ferrenhos adeptos do Neoliberalismo - vindo directamente da experiência italiana
,,, a Esquerda Europeia
www.bellaciao.org/
Mãos à Obra:
"O Banco de Desenvolvimento Asiático" avisa para a preparação de medidas prevendo o possivel crash do Dólar
,,, a Esquerda Europeia
www.bellaciao.org/
Mãos à Obra:
"O Banco de Desenvolvimento Asiático" avisa para a preparação de medidas prevendo o possivel crash do Dólar
segunda-feira, abril 10, 2006
À porta do Mundo Novo
“Atenção aos novos protagonistas: juventude nas ruas, senadores nos blogues!”
Medeiros Ferreira (no Bichos Carpinteiros)
sobre Multidão – Guerra e Democracia na Era do Império,
de Michael Hardt e Antonio Negri
“O Império é uma bio-estrutura que impõe a sua ordem pelo uso do poder militar mas também pelo dominio das consciências e da moral. A sua expansão à escala global virá a ser contrariada pela Multidão, (ou Multidões convocadas conforme os propósitos daquilo a que se opõem, e desconvocadas consoante vençam os objectivos a que se propuseram) “colmeias de abelhas” capazes, pela sua natureza, de impor a “democracia absoluta” do Mundo Novo”
notas a partir do ensaio critico de Riccardo Marchi, doutorando/ISCTE, publicado no nº83 da revista “História”
A última obra conjunta de António Negri e Michael Hardt volta a atacar o Império, desta vez apresentando aos leitores o seu directo antagonista: a Multidão. Para descrever a natureza e o carácter da Multidão, a análise dos autores parte de algumas características macroscópias do Império e do meu Poder que tende a incluir todos os sujeitos e a controlar as suas existências enquanto fontes de produção e de consumo económico, cultural, mas também relacional, afectivo e social.
O Império, neste sentido, é um corpo vivo, bio-político, que se expande continuamente em escala global e continuamente gera hierarquias que lhe são funcionais. O Império não cancela os Estados nacionais, mas transforma-os em seus membros, pois no interior destes é possível reencontrar as mesmas estruturas hierárquicas presentes a nível global.
Para autores, esta bio-estrutura imperial organiza a sua acção de exploração em três níveis. No primeiro nível, através da regulamentação interna entre capitalistas privados, à escala global, que ultrapassa os Estados nacionais e gera um direito consuetudinário dependente só do Capital. Num segundo nível, através da regulamentação entre Soberanias Nacionais, cujos interesses regionais se organizam em função do Capital (ex. WTO). O terceiro nível, finalmente, é constituído pelas regulamentações determinadas pelos organismos supra-nacionais que não dependem dos Estados Nacionais ou dos privados, mas constituem um poder global económico-político (Agencias da ONU, FMI, BancoMundial). A substancial cooperação destes três níveis garante o desenvolvimento da ordem económica vigente e a manutenção das hierarquias sociais globais.
IMPÉRIO E PODER MILITAR
O Império delega a defesa desta ordem ao poder militar, que assume as funções de polícia planetária. A Guerra já não é uma excepção – continuação da política com outros meios – mas a regra para o controlo da “Ordem Imperial”. Os termos clássicos da guerra são agora absolutizados: o inimigo é omnipresente (o terrorismo), as armas destroem em massa, o tempo da guerra é infinito e permanente, o espaço é ampliado a todo o planeta, os fins são a Justiça contra todo o Mal.
As guerras locais e regionais acabam, assim, por ser só batalhas da Guerra Civil Global. As mais mediáticas são aquelas que mais põem em discussão, na contingência histórica, a Ordem Imperial. A este bio-domínio militar, com o seu corolário jurídico de Tribunais e organismos internacionais ad hoc, o Império acrescenta a conquista das consciências civis em campo político, económico, até moral ( a defesa dos Direitos Humanos universais coincide cada vez mais como os interesses económicos imperiais)
Um controlo total deste género requer um trabalho contínuo de reprodução da obediência, através do constante diálogo entre a “mono-arquia” (USA) e as aristocracias globais locais ( poderes nacionais políticos, económicos, financeiros).
Na ordem imperial, todavia, podem surgir mal estares regionais, como por exemplo , as reacções de alguns concorrentes directos (Europa, China, Rússia) e de certas oligarquias capitalistas globais, cuja expansão planetária pode ter sido prejudicada pelo unilateralismo, bélico norte-americano. Daí a ideia que algumas oligarquias capitalistas encarariam com favor a globalização alternativa (pacífica e democrática) proposta pelos movimentos ditos no-global, mas na verdade “new-global” e pelos Governos progressistas do Sul do Mundo. Embora mantenham uma atitude de fundo absolutamente antagonista em relação a estas oligarquias, os dois autores não excluem a possibilidade que o movimento “new-global” possa encontrar um entendimento com elas, em oposição ao unilateralismo norte-americano (inimigo imediato), sendo que a Democracia Global pode existir só na ausência da Guerra Global Permanente, sinónimo de hierarquia e obediência. Esta estratégia seria uma nova versão da histórica aliança setecentista entre a burguesia e a nobreza iluminada contra o absolutismo monárquico.
MULTIDÃO SUJEITO ANTAGONISTA
Traçadas as caracteristicas salientes do Império, Negri e Hardt apresentam o novo sujeito antagonista. Para fazer isso percorrem toda a tradição insurreccional da esquerda, desde o exército popular leninista e maoísta, à guerrilha guevarista, desde a centralidade revolucionária do proletário fordista até àquela do camponês sul-americano imputando a derrota da Revolução à escolha de práticas incompatíveis, a priori, com a democracia: a unidade, o centralismo, a hierarquia, a obediência.
Na pós-modernidade toda esta herança histórica deve ser repensada e superada. A multidão não é Povo (onde o elemento unitário prevalece sobre as diferenças e as singularidades), não é Massa (conglomerado uniforme e indistinto), não é Classe determinada (conceito que tende à exclusão).
A Multidão nasce da globalização e das possibilidades oferecidas por esta em termos de inter-relações comunicativas, cooperativas e de colaboração constante numa estrutura de rede, aberta, expansiva, acéfala, composta de nós interligados. A Multidão é organismo vivo no qual os sujeitos individuais interagem, não se homogeneizando, mas antes mantendo as suas diferenças e gerando, assim, o Comum, ao mesmo tempo fonte e produto de uma nova subjectividade política.
Salvaguardar as diferenças, ou melhor as multiplicidades, (culturais, étnicas, de género) significa para a Multidão libertá-las das suas funções tradicionais de reprodutoras da hierarquia do poder. A Multidão refuta esta estrutura, comportando-se, pelo contrário, como uma “colmeia de abelhas”, que não tem nenhuma cabeça, mas infinitas cabeças.
O comportamento em rede, ou em colmeia, permite gerar bio-politicamente práticas comuns, base para a reprodução contínua do ser social. Estas práticas podem-se encontrar não somente nas trocas informais quotidianas, mas também nas tradições de luta e de ataque: desde as reivindicações sexuais (gay, lésbicas, trans), à Intifada palestiniana, desde a luta ANTI-APARTHEID até à experiência zapatista. É principalmente no “Movimento dos Movimentos” que os dois autores focalizam as suas atenções, sendo este a melhor e mais recente demonstração das reais potencialidades da Multidão. Embora, desde o seu nascimento em Seattle em 1999,este movimento esteja substancialmente limitado a um papel de contestação na América do Norte e na Europa, demonstrou, todavia, saber aproveitar as oportunidades, adaptando a sua organização político/militante às características da produção económico-social contemporânea, fazendo da democracia da liberdade as suas linhas mestras. A luta conseguiu assim manter-se viva em patamares diferentes : uns internos ao Sistema (das reivindicações político-sindicais aos actos de desobediência civil), outros externos ao mesmo (formas de residência e guerrilha armada).
continue a ler:
PARA UM NOVO PARADIGMA MARXIANO e COISA COMUM E “DEMOCRACIA ABSOLUTA” que conclui:
A política revolucionária pós-moderna, em definitivo, deve ter plena consciência da essência e da potencialidade da Multidão, para poder reconhecer o momento histórico de ruptura insurreccional contra o Poder imperial, abrindo, assim, o caminho à edificação do “Mundo Novo”.
Medeiros Ferreira (no Bichos Carpinteiros)
sobre Multidão – Guerra e Democracia na Era do Império,
de Michael Hardt e Antonio Negri
“O Império é uma bio-estrutura que impõe a sua ordem pelo uso do poder militar mas também pelo dominio das consciências e da moral. A sua expansão à escala global virá a ser contrariada pela Multidão, (ou Multidões convocadas conforme os propósitos daquilo a que se opõem, e desconvocadas consoante vençam os objectivos a que se propuseram) “colmeias de abelhas” capazes, pela sua natureza, de impor a “democracia absoluta” do Mundo Novo”
notas a partir do ensaio critico de Riccardo Marchi, doutorando/ISCTE, publicado no nº83 da revista “História”
A última obra conjunta de António Negri e Michael Hardt volta a atacar o Império, desta vez apresentando aos leitores o seu directo antagonista: a Multidão. Para descrever a natureza e o carácter da Multidão, a análise dos autores parte de algumas características macroscópias do Império e do meu Poder que tende a incluir todos os sujeitos e a controlar as suas existências enquanto fontes de produção e de consumo económico, cultural, mas também relacional, afectivo e social.
O Império, neste sentido, é um corpo vivo, bio-político, que se expande continuamente em escala global e continuamente gera hierarquias que lhe são funcionais. O Império não cancela os Estados nacionais, mas transforma-os em seus membros, pois no interior destes é possível reencontrar as mesmas estruturas hierárquicas presentes a nível global.
Para autores, esta bio-estrutura imperial organiza a sua acção de exploração em três níveis. No primeiro nível, através da regulamentação interna entre capitalistas privados, à escala global, que ultrapassa os Estados nacionais e gera um direito consuetudinário dependente só do Capital. Num segundo nível, através da regulamentação entre Soberanias Nacionais, cujos interesses regionais se organizam em função do Capital (ex. WTO). O terceiro nível, finalmente, é constituído pelas regulamentações determinadas pelos organismos supra-nacionais que não dependem dos Estados Nacionais ou dos privados, mas constituem um poder global económico-político (Agencias da ONU, FMI, BancoMundial). A substancial cooperação destes três níveis garante o desenvolvimento da ordem económica vigente e a manutenção das hierarquias sociais globais.
IMPÉRIO E PODER MILITAR
O Império delega a defesa desta ordem ao poder militar, que assume as funções de polícia planetária. A Guerra já não é uma excepção – continuação da política com outros meios – mas a regra para o controlo da “Ordem Imperial”. Os termos clássicos da guerra são agora absolutizados: o inimigo é omnipresente (o terrorismo), as armas destroem em massa, o tempo da guerra é infinito e permanente, o espaço é ampliado a todo o planeta, os fins são a Justiça contra todo o Mal.
As guerras locais e regionais acabam, assim, por ser só batalhas da Guerra Civil Global. As mais mediáticas são aquelas que mais põem em discussão, na contingência histórica, a Ordem Imperial. A este bio-domínio militar, com o seu corolário jurídico de Tribunais e organismos internacionais ad hoc, o Império acrescenta a conquista das consciências civis em campo político, económico, até moral ( a defesa dos Direitos Humanos universais coincide cada vez mais como os interesses económicos imperiais)
Um controlo total deste género requer um trabalho contínuo de reprodução da obediência, através do constante diálogo entre a “mono-arquia” (USA) e as aristocracias globais locais ( poderes nacionais políticos, económicos, financeiros).
Na ordem imperial, todavia, podem surgir mal estares regionais, como por exemplo , as reacções de alguns concorrentes directos (Europa, China, Rússia) e de certas oligarquias capitalistas globais, cuja expansão planetária pode ter sido prejudicada pelo unilateralismo, bélico norte-americano. Daí a ideia que algumas oligarquias capitalistas encarariam com favor a globalização alternativa (pacífica e democrática) proposta pelos movimentos ditos no-global, mas na verdade “new-global” e pelos Governos progressistas do Sul do Mundo. Embora mantenham uma atitude de fundo absolutamente antagonista em relação a estas oligarquias, os dois autores não excluem a possibilidade que o movimento “new-global” possa encontrar um entendimento com elas, em oposição ao unilateralismo norte-americano (inimigo imediato), sendo que a Democracia Global pode existir só na ausência da Guerra Global Permanente, sinónimo de hierarquia e obediência. Esta estratégia seria uma nova versão da histórica aliança setecentista entre a burguesia e a nobreza iluminada contra o absolutismo monárquico.
MULTIDÃO SUJEITO ANTAGONISTA
Traçadas as caracteristicas salientes do Império, Negri e Hardt apresentam o novo sujeito antagonista. Para fazer isso percorrem toda a tradição insurreccional da esquerda, desde o exército popular leninista e maoísta, à guerrilha guevarista, desde a centralidade revolucionária do proletário fordista até àquela do camponês sul-americano imputando a derrota da Revolução à escolha de práticas incompatíveis, a priori, com a democracia: a unidade, o centralismo, a hierarquia, a obediência.
Na pós-modernidade toda esta herança histórica deve ser repensada e superada. A multidão não é Povo (onde o elemento unitário prevalece sobre as diferenças e as singularidades), não é Massa (conglomerado uniforme e indistinto), não é Classe determinada (conceito que tende à exclusão).
A Multidão nasce da globalização e das possibilidades oferecidas por esta em termos de inter-relações comunicativas, cooperativas e de colaboração constante numa estrutura de rede, aberta, expansiva, acéfala, composta de nós interligados. A Multidão é organismo vivo no qual os sujeitos individuais interagem, não se homogeneizando, mas antes mantendo as suas diferenças e gerando, assim, o Comum, ao mesmo tempo fonte e produto de uma nova subjectividade política.
Salvaguardar as diferenças, ou melhor as multiplicidades, (culturais, étnicas, de género) significa para a Multidão libertá-las das suas funções tradicionais de reprodutoras da hierarquia do poder. A Multidão refuta esta estrutura, comportando-se, pelo contrário, como uma “colmeia de abelhas”, que não tem nenhuma cabeça, mas infinitas cabeças.
O comportamento em rede, ou em colmeia, permite gerar bio-politicamente práticas comuns, base para a reprodução contínua do ser social. Estas práticas podem-se encontrar não somente nas trocas informais quotidianas, mas também nas tradições de luta e de ataque: desde as reivindicações sexuais (gay, lésbicas, trans), à Intifada palestiniana, desde a luta ANTI-APARTHEID até à experiência zapatista. É principalmente no “Movimento dos Movimentos” que os dois autores focalizam as suas atenções, sendo este a melhor e mais recente demonstração das reais potencialidades da Multidão. Embora, desde o seu nascimento em Seattle em 1999,este movimento esteja substancialmente limitado a um papel de contestação na América do Norte e na Europa, demonstrou, todavia, saber aproveitar as oportunidades, adaptando a sua organização político/militante às características da produção económico-social contemporânea, fazendo da democracia da liberdade as suas linhas mestras. A luta conseguiu assim manter-se viva em patamares diferentes : uns internos ao Sistema (das reivindicações político-sindicais aos actos de desobediência civil), outros externos ao mesmo (formas de residência e guerrilha armada).
continue a ler:
PARA UM NOVO PARADIGMA MARXIANO e COISA COMUM E “DEMOCRACIA ABSOLUTA” que conclui:
A política revolucionária pós-moderna, em definitivo, deve ter plena consciência da essência e da potencialidade da Multidão, para poder reconhecer o momento histórico de ruptura insurreccional contra o Poder imperial, abrindo, assim, o caminho à edificação do “Mundo Novo”.
sábado, abril 08, 2006
O Aquecimento Global é cada vez maior,,,Os gelos polares derretem-se mais depressa que nunca,,, Cada vez mais Territórios são devastados pelas secas,,, a subida das Águas desaloja muitas Comunidades em zonas ribeirinhas,,, As condições climatéricas alteram-se gravemente,,, Como se já não bastassem as condições degradantes em que vive 80 por cento da Humanidade, com novas ameaças de aumento da miséria provocada pelas degradação das condições sociais em largas camadas das classes médias,,, sejam quais forem os parâmetros por onde se avaliem as consequências, o planeta Terra está num ponto de Ruptura! – ¿servirá este estado de catrastofismo latente tambem para o Mercado engendrar novas oportunidades de negócio?
BE WORRED
A revista Time usa na capa aquela frase emblemática dos filmes de terror “Tenha Medo, Tenha Muito Medo”
Para impelir os leitores a estarem mais atentos ao problema do aquecimento global (como se de nós cidadãos comuns dependessem as iniciativas, e não aos Governos, para modificar o que quer que seja). Nesta edição dedicada ao tema, os editores da revista sublinham que o planeta ficou doente mais cedo do que se previa. As consequências do aquecimento global são já hoje visíveis em sintomas irrefutáveis, tais como as calamidades naturais cada vez mais frequentes e generalizadas e o desaparecimento de várias espécies animais e vegetais. Escreve-se ainda que, “se isto já é um pesadelo o pior ainda está para vir”, nomeadamente devido ao crescimento económico na Ásia. A revista aponta os malefícios deste problema para a nossa saúde e faz um tributo aos “heróis” do ambientalismo que tentam lutar contra a indiferença dos lideres políticos.
Apanhados
Decerto tendo em atenção o recente desastre ecológico provocado no Alaska, em Prudhoe Bay pela petrolifera BP, que derramou 760 mil litros de crude que cobriram vários hectares de tundra, o nosso ministro da Economia Manuel Pinho (esse mesmo proprietário que botou abaixo a Casa Garrett) apressou-se a anunciar novos investimentos em prospecções no Algarve e no Alentejo, em simultâneo com a betonagem anunciada da única costa ainda meio-selvagem da Europa.
O valor estimado das 11 maiores fortunas dos individuos mais ricos do mundo (217,2 biliões de dólares) é superior ao do valor combinado do Produto Interno Bruto da lista dos 49 paises menos desenvolvidos do planeta (194,6 biliões)
As coisas não tinham de ser desta maneira,,,
,,,mas como são,,, o crescimento é canalizado para criar ilhas de lazer para esta gente, filhos e enteados se divertirem, enquanto em redor destes paraisos a degradação alastra.
Bulimia Imobiliária – na mesma linha a nivel mundial, o investimento directo em imobiliário terciário, subiu em 2005 mais 21 por cento em relação ao ano anterior.
Promotores imobiliários e autarquias pretendem instalar mais 70 mil camas no litoral alentejano. Esperava-se que o governo de Sócrates mostrasse que um país não é uma camarata. Em vão - os empreendimentos cujos precedentes foram abertos pela Sonae, Banco BES, e outros tubarões menores foram rápidamente aprovados.
“Pagam-me para mexer com a cultura do país” disse (na Visão) António Mega Ferreira - enquanto na primeira entrevista que tinha dado logo após ser nomeado para gestor do CCB, tinha manifestado, no mais puro alinhamento com a filosofia do Cavaquismo que seria um crime não se construir já o ultimo Módulo que prevê a implantação de 1 Hotel e de 1 Centro Comercial nos anexos do Centro Cultural de Belem. (enquanto manda às urtigas o Museu de Design aí existente)
De cultura desta, comandada pelo pato-bravismo do lobie do Betão& Consumismo irresponsável, Lda, pensávamos nós que já estávamos fartos. Afinal, apesar da falência técnica das autarquias às mãos da Corrupção, parece-nos que o modelo continua a ter pernas para se afundar.
O projecto OPL da Mata de Sesimbra, um empreendimento turístico que prevê 30 mil camas, numa zona onde é proibido construir, mascarado de grande acontecimento eco-tecnológico, por troca decidida em tribunal com os investidores alemães na famigerada Urbanização da Praia do Meco, é o primeiro empreendimento sustentável turístico do mundo, de acordo com o que dizem os promotores – que conseguiram envolver a WWF (agit-prop s/a harmonia entre os povos e a natureza,blá,blá,blá) como fiador ecológico no processo. O maior empreendimento turístico-ecológico do mundo (tínhamos de ser nós os maiores) para já é apenas um acordo para a emissão da licença de construção – sendo a execução do restante projecto diluído nos tempos que o futuro trará – para já o que se vai licenciar são as 30 mil camas,,, Como diria Fernando Pessoa na hora da morte: “We know not what tomorrow will bring”
A nível mundial, a diferença entre o “Living Planet Index” – uma medida da biodiversidade e recursos naturais existentes – e a “pegada ecológica” – o impacto das actividades dos humanos tem vindo a crescer. Entre 1970 e 2000, o “Índex” diminuiu em 40 por cento, enquanto a pegada aumentou em 70 por cento.
Portugueses gastam três planetas no consumo dos recursos naturais
Entre nós, a área de terra necessária para produzir tudo aquilo que consumimos é equivalente a 1,8 hectares por pessoa por ano – mas os portugueses consomem o equivalente a 5,2 hectares – um padrão que tem vindo a crescer, visto que há três anos este valor era 4,5 hectares. Já não basta o que basta, senão a Wild World Fundation vir agora tambem apadrinhar a festa,,,
BE WORRED
A revista Time usa na capa aquela frase emblemática dos filmes de terror “Tenha Medo, Tenha Muito Medo”
Para impelir os leitores a estarem mais atentos ao problema do aquecimento global (como se de nós cidadãos comuns dependessem as iniciativas, e não aos Governos, para modificar o que quer que seja). Nesta edição dedicada ao tema, os editores da revista sublinham que o planeta ficou doente mais cedo do que se previa. As consequências do aquecimento global são já hoje visíveis em sintomas irrefutáveis, tais como as calamidades naturais cada vez mais frequentes e generalizadas e o desaparecimento de várias espécies animais e vegetais. Escreve-se ainda que, “se isto já é um pesadelo o pior ainda está para vir”, nomeadamente devido ao crescimento económico na Ásia. A revista aponta os malefícios deste problema para a nossa saúde e faz um tributo aos “heróis” do ambientalismo que tentam lutar contra a indiferença dos lideres políticos.
Apanhados
Decerto tendo em atenção o recente desastre ecológico provocado no Alaska, em Prudhoe Bay pela petrolifera BP, que derramou 760 mil litros de crude que cobriram vários hectares de tundra, o nosso ministro da Economia Manuel Pinho (esse mesmo proprietário que botou abaixo a Casa Garrett) apressou-se a anunciar novos investimentos em prospecções no Algarve e no Alentejo, em simultâneo com a betonagem anunciada da única costa ainda meio-selvagem da Europa.
O valor estimado das 11 maiores fortunas dos individuos mais ricos do mundo (217,2 biliões de dólares) é superior ao do valor combinado do Produto Interno Bruto da lista dos 49 paises menos desenvolvidos do planeta (194,6 biliões)
As coisas não tinham de ser desta maneira,,,
,,,mas como são,,, o crescimento é canalizado para criar ilhas de lazer para esta gente, filhos e enteados se divertirem, enquanto em redor destes paraisos a degradação alastra.
Bulimia Imobiliária – na mesma linha a nivel mundial, o investimento directo em imobiliário terciário, subiu em 2005 mais 21 por cento em relação ao ano anterior.
Promotores imobiliários e autarquias pretendem instalar mais 70 mil camas no litoral alentejano. Esperava-se que o governo de Sócrates mostrasse que um país não é uma camarata. Em vão - os empreendimentos cujos precedentes foram abertos pela Sonae, Banco BES, e outros tubarões menores foram rápidamente aprovados.
“Pagam-me para mexer com a cultura do país” disse (na Visão) António Mega Ferreira - enquanto na primeira entrevista que tinha dado logo após ser nomeado para gestor do CCB, tinha manifestado, no mais puro alinhamento com a filosofia do Cavaquismo que seria um crime não se construir já o ultimo Módulo que prevê a implantação de 1 Hotel e de 1 Centro Comercial nos anexos do Centro Cultural de Belem. (enquanto manda às urtigas o Museu de Design aí existente)
De cultura desta, comandada pelo pato-bravismo do lobie do Betão& Consumismo irresponsável, Lda, pensávamos nós que já estávamos fartos. Afinal, apesar da falência técnica das autarquias às mãos da Corrupção, parece-nos que o modelo continua a ter pernas para se afundar.
O projecto OPL da Mata de Sesimbra, um empreendimento turístico que prevê 30 mil camas, numa zona onde é proibido construir, mascarado de grande acontecimento eco-tecnológico, por troca decidida em tribunal com os investidores alemães na famigerada Urbanização da Praia do Meco, é o primeiro empreendimento sustentável turístico do mundo, de acordo com o que dizem os promotores – que conseguiram envolver a WWF (agit-prop s/a harmonia entre os povos e a natureza,blá,blá,blá) como fiador ecológico no processo. O maior empreendimento turístico-ecológico do mundo (tínhamos de ser nós os maiores) para já é apenas um acordo para a emissão da licença de construção – sendo a execução do restante projecto diluído nos tempos que o futuro trará – para já o que se vai licenciar são as 30 mil camas,,, Como diria Fernando Pessoa na hora da morte: “We know not what tomorrow will bring”
A nível mundial, a diferença entre o “Living Planet Index” – uma medida da biodiversidade e recursos naturais existentes – e a “pegada ecológica” – o impacto das actividades dos humanos tem vindo a crescer. Entre 1970 e 2000, o “Índex” diminuiu em 40 por cento, enquanto a pegada aumentou em 70 por cento.
Portugueses gastam três planetas no consumo dos recursos naturais
Entre nós, a área de terra necessária para produzir tudo aquilo que consumimos é equivalente a 1,8 hectares por pessoa por ano – mas os portugueses consomem o equivalente a 5,2 hectares – um padrão que tem vindo a crescer, visto que há três anos este valor era 4,5 hectares. Já não basta o que basta, senão a Wild World Fundation vir agora tambem apadrinhar a festa,,,
sexta-feira, abril 07, 2006
Bush é o diabo que corresponde às necessidades intrinsecas do capitalismo actual, cujos objectivos neste estádio de exploração só se conseguem levar por diante pela fria declaração de guerra pelos recursos naturais tentando tomar posições geo-estratégicas determinantes. Quando a situação estiver à beira do esgotamento e se tornar insustentável perante as opiniões publicas, o Império mudará de gerência politica, as ânimos serão apaziguados e as boas consciências descansarão na pax americana.Sem que se abra mão do que foi entretanto consquistado, muito menos que algeum seja responsabilizado pelos crimes cometidos. ¿Não será isto mesmo assim? – seja quem for que aí venha a natureza do Imperialismo não mudará por Bush se remeter à condição de bêbado marginal de onde, se Deus existisse, nunca deveria ter saido. Porque a estrutura de dominação tem vindo a ser construida ao longo de todo o ultimo século e tanto antes como depois de Bush a sua natureza não mudou nem vai mudar em nada de essencial. Porque os presidentes são figuras-títeres compradas pelos poderes convenientemente ocultados às opiniões públicas. No sentido de explicitar isto, dá-se aqui inicio à publicação de um pequeno livro disponivel na Editora Frenesi (pedidos p/ frenesi@netc.pt), traduzido da obra original de Thierry Meyssan. No total são 8 páginas A4 que se devem dividir por 8 posts.
Numa altura em que se reabre o debate sobre a concepção do mundo que resultou da chegada à Europa da colonização americana no pós-Guerra, mormente pela divulgação das imagens do campo de concentração britânico (iguais às dos campos Nazis) que foram publicadas no Guardian - é muito útil para os desenvolvimentos futuros que se repense que o III Reich não foi, seria, ou é assim tão diferente do IV Reich, para onde, realce-se, uma parte considerável da ciência e da nomenklatura foi aliás transferida. Façam o favor de reler a história.
Os Senhores da Guerra – o CSP, um grupo militarista na sombra do poderio norte-americano
“Caso existisse a menor dúvida sobre o poder das vossas ideias, bastaria ver o número de associados do Centro (Center for Security Policy – CSP) actualmente colocados nesta administração – e em particular no Departamento de Defesa – para o dissipar”
Donald Rumsfeld, secretário da Defesa
5 de Setembro, 2002
Nos meios diplomáticos murmura-se que, em Washington, o verdadeiro poder ter-se-ia deslocado da Casa Branca para o Centro de Política de Segurança (Center for Security Policy – CSP). Desde o 11 de Setembro que este think-tank procura fixar a polícia externa dos EUA; uma pretensão que alguns julgam exagerada, mas que não parece desprovida de fundamento. Com efeito, os homens que impõemos seus pontos de vista no seio da actual administração norte -americana formam um grupo coeso, que se constituiu durante a Guerra Fria e que se identifica com o CSP. Para se poderem compreender os jogos internos do poder em Washington e os verdadeiros móbiles dos “falcões”, impõe-se uma resenha histórica.
Acto 1 – A Comissão Sobre o Perigo Presente
No final da Segunda Guerra Mundial, a rede “stay-behind” recuperou mais de um milhar de cientistas nazis e transferiu-os para os Estados Unidos durante a Operação Paperclip. Alguns deles eram especialistas em armas químicas que haviam efectuado experiências em cobaias humanas no campo de Dachau. Outros, cerca de uma centena, eram peritos e engenheiros do centro de foguetões de Penemünde. Sob o comando de Wernher von Braun, essa equipa havia inventando e contruído os V2 que bombardearam Londres a partir do continente. Todos eles foram transferidos para Fort Bliss (no Texas) e integrados no Comando Aéreo do Exército (Army Air Defense Command – ARADCOM). Esta transferência de tecnologia encorajou os industriais norte-americanos de armamento a imaginarem a fabricação de um novo arsenal, que tanto incluia misseis intercontinentais como naves espaciais, uns e outras aptos a transportarem armas de destruição macissa (quimicas, biológicas ou nucleares). Mas, paradoxalmente, após a vitória sobre a Alemanha este gigantesco projecto deixara de ter razão para existir. A menos que, bem entendido, os Estados Unidos tivessem de fazer face a um novo inimigo. O general George F. Kennan, embaixador dos EUA em Moscovo, descreveu o perigo soviético num “longo telegrama” enviado para Washington em 1946. Quando regressou à capital, publicou as suas análises sob anonimato na revista do Conselho para as Relações Externas (Council for Foreign Relations – CFR). Rápidamente, toda a classe dirigente norte-americana ficou persuadida de que o perigo vermelho em germinação seria ainda mais perigoso do que o III Reich. Seguiram-se dois anos e meio de debates internos nos altos circulos da administração para avaliar a ameaça, elaborar uma resposta e torná-la popular. Tirando as devidas lições da impreparação do seu país para a Segunda Guerra Mundial, o presidente Harry Truman criou o Conselho de Segurança Nacional (National Security Council – NSC) para coordenar a diplomacia e o conjunto das forças militares norte-americanas, não apenas em tempo de guerra, mas tambem em tempo de paz. Na mesma ocasião, instituiu um serviço secreto permanente, a Agência Central de Informações (Central Intelligence Agency – CIA).
A evolução da situação na Europa, nomeadamente a retirada britânica da Grécia e da Turquia, levou Truman a decidir manter uma presença americana permanente no velho continente, a fim de contrariar a influência comunista. O general George C. Marshall, secretário de Estado, concebeu um amplo plano que combinava o auxilio económico e as acções secretas por forma a estabelecer democracias e garantir que estas fariam a “boa escolha”. A directiva NSC 10/2 do Coselho de Segurança Nacional, redigida principalmente por Kennan, oficializou a criação de uma rede de ingerência, a “stay-behind”. Os vivos debates internos da administração Truman acerca da gravidade e da eminência da ameaça soviética tornaram-se ainda mais duros quando estalou a guerra da Coreia. O General George F. Kennan e o secretário da Defesa viram-se definitivamente ultrapassados à sua direita por outros, muito mais belicistas do que eles. Truman reorganizou a sua equipa. O general George C. Marshall tornou-se secretário da Defesa, sendo assistido pelo seu amigo Robert Lovett. Dean Acheson aceitou a secretaria de Estado, sendo coadjuvado por Paul H. Nitze, na qualidade de director da planificação politica. Foi este último que redigiu a versão definitiva da directiva NSC 68, a qual definiu a doutrina da Guerra Fria. Segundo este documento, actualmente desclassificado, dada a sua natureza a URSS visava estender o comunismo ao mundo inteiro. Ora, ela conseguiria provavelmente dotar-se da arma nuclear dentro de quatro anos e não de coibiria, portanto, de a utilizar para destruir o seu adversário principal: a terra da liberdade, ou seja os Estados Unidos da América. As duas superpotências estavam condenadas a prosseguirem um duelo de titãs, que terminaria com o triunfo do capitalismo e o reino da prosperidade sobre a terra, ou então com a queda do género humano nas trevas do comunismo.
A NSC 68 vinha acompanhada de uma dezena de anexos distintos, nos quais se declinavam todos os programas de resposta, a nivel militar, civil,económico, etc. Infelizmente, o povo americano, entregue às alegrias da paz reencontrada, não tinha consciência do perigo crescente, não estando pronto a embrenhar-se numa nova guerra para salvar o mundo. Truman tinha de convencer os seus concidadãos da urgência do perigo para os levar a admitir os sacrifícios, designadamente em termos de orçamento e de reforma administrativa. Obteve-se a colaboração de um dos patrões da stay-behind, Edward W. Barrett, então director do Gabinete de Estratégia Psicológica (Interdepartmental Psychological Strategy Board – IPSB) e editor de secção na Newsweek. Ele organizou uma operação de manipulação para inverter a opinião pública interna. Uma associação, que se apresentava como sendo um grupo apolitico de cidadãos atentos da Costa Leste, o Comité sobre o Perigo Presente (Committee on the Present Danger – CPD), lançou nos meios de comunicação americanos uma campanha em prol do reforço urgente da defesa nacional. Entre os animadores do comité encontravam-se Frank Altschul (director do Conselho para as Relações Externas), William Donovan (ex-patrão dos serviços secretos durante a Guerra Mundial) e o general Dwight D. Eisenhower. O impacto do comité foi tal que um consenso nacional permitiu a Truman triplicar subitamente o orçamento militar e tornar publica a politica do “containment”, ou seja, de um cordão sanitário para conter a URSS.
Truman ordenou a realização dos projectos de arsenal espacial (Orbiter e Jupiter). Foi criada em Redstone (Alabama) uma Agência do Exército para os Misseis Balisticos (Army Ballistic Missile Agency – ABMA), confiada ao ex-SS Wernher von Braun. Em Cape Canaveral (Florida) foi construida uma base de lançamento, colocada sob a direcção do ex-SS Kurt Debus. A Marinha e a Força Aérea foram igualmente solicitadas, tendo sido postos à sua disposição outros cientistas nazis. O projecto futurista de um exército do espaço transformou-se na obscessão dos ideólogos da Guerra-Fria. O seu fito explicito consistia em assegurar o dominio militar dos Estados Unidos sobre todo o planeta para salvar a humanidade do comunismo.
(continua)
Numa altura em que se reabre o debate sobre a concepção do mundo que resultou da chegada à Europa da colonização americana no pós-Guerra, mormente pela divulgação das imagens do campo de concentração britânico (iguais às dos campos Nazis) que foram publicadas no Guardian - é muito útil para os desenvolvimentos futuros que se repense que o III Reich não foi, seria, ou é assim tão diferente do IV Reich, para onde, realce-se, uma parte considerável da ciência e da nomenklatura foi aliás transferida. Façam o favor de reler a história.
Os Senhores da Guerra – o CSP, um grupo militarista na sombra do poderio norte-americano
“Caso existisse a menor dúvida sobre o poder das vossas ideias, bastaria ver o número de associados do Centro (Center for Security Policy – CSP) actualmente colocados nesta administração – e em particular no Departamento de Defesa – para o dissipar”
Donald Rumsfeld, secretário da Defesa
5 de Setembro, 2002
Nos meios diplomáticos murmura-se que, em Washington, o verdadeiro poder ter-se-ia deslocado da Casa Branca para o Centro de Política de Segurança (Center for Security Policy – CSP). Desde o 11 de Setembro que este think-tank procura fixar a polícia externa dos EUA; uma pretensão que alguns julgam exagerada, mas que não parece desprovida de fundamento. Com efeito, os homens que impõemos seus pontos de vista no seio da actual administração norte -americana formam um grupo coeso, que se constituiu durante a Guerra Fria e que se identifica com o CSP. Para se poderem compreender os jogos internos do poder em Washington e os verdadeiros móbiles dos “falcões”, impõe-se uma resenha histórica.
Acto 1 – A Comissão Sobre o Perigo Presente
No final da Segunda Guerra Mundial, a rede “stay-behind” recuperou mais de um milhar de cientistas nazis e transferiu-os para os Estados Unidos durante a Operação Paperclip. Alguns deles eram especialistas em armas químicas que haviam efectuado experiências em cobaias humanas no campo de Dachau. Outros, cerca de uma centena, eram peritos e engenheiros do centro de foguetões de Penemünde. Sob o comando de Wernher von Braun, essa equipa havia inventando e contruído os V2 que bombardearam Londres a partir do continente. Todos eles foram transferidos para Fort Bliss (no Texas) e integrados no Comando Aéreo do Exército (Army Air Defense Command – ARADCOM). Esta transferência de tecnologia encorajou os industriais norte-americanos de armamento a imaginarem a fabricação de um novo arsenal, que tanto incluia misseis intercontinentais como naves espaciais, uns e outras aptos a transportarem armas de destruição macissa (quimicas, biológicas ou nucleares). Mas, paradoxalmente, após a vitória sobre a Alemanha este gigantesco projecto deixara de ter razão para existir. A menos que, bem entendido, os Estados Unidos tivessem de fazer face a um novo inimigo. O general George F. Kennan, embaixador dos EUA em Moscovo, descreveu o perigo soviético num “longo telegrama” enviado para Washington em 1946. Quando regressou à capital, publicou as suas análises sob anonimato na revista do Conselho para as Relações Externas (Council for Foreign Relations – CFR). Rápidamente, toda a classe dirigente norte-americana ficou persuadida de que o perigo vermelho em germinação seria ainda mais perigoso do que o III Reich. Seguiram-se dois anos e meio de debates internos nos altos circulos da administração para avaliar a ameaça, elaborar uma resposta e torná-la popular. Tirando as devidas lições da impreparação do seu país para a Segunda Guerra Mundial, o presidente Harry Truman criou o Conselho de Segurança Nacional (National Security Council – NSC) para coordenar a diplomacia e o conjunto das forças militares norte-americanas, não apenas em tempo de guerra, mas tambem em tempo de paz. Na mesma ocasião, instituiu um serviço secreto permanente, a Agência Central de Informações (Central Intelligence Agency – CIA).
A evolução da situação na Europa, nomeadamente a retirada britânica da Grécia e da Turquia, levou Truman a decidir manter uma presença americana permanente no velho continente, a fim de contrariar a influência comunista. O general George C. Marshall, secretário de Estado, concebeu um amplo plano que combinava o auxilio económico e as acções secretas por forma a estabelecer democracias e garantir que estas fariam a “boa escolha”. A directiva NSC 10/2 do Coselho de Segurança Nacional, redigida principalmente por Kennan, oficializou a criação de uma rede de ingerência, a “stay-behind”. Os vivos debates internos da administração Truman acerca da gravidade e da eminência da ameaça soviética tornaram-se ainda mais duros quando estalou a guerra da Coreia. O General George F. Kennan e o secretário da Defesa viram-se definitivamente ultrapassados à sua direita por outros, muito mais belicistas do que eles. Truman reorganizou a sua equipa. O general George C. Marshall tornou-se secretário da Defesa, sendo assistido pelo seu amigo Robert Lovett. Dean Acheson aceitou a secretaria de Estado, sendo coadjuvado por Paul H. Nitze, na qualidade de director da planificação politica. Foi este último que redigiu a versão definitiva da directiva NSC 68, a qual definiu a doutrina da Guerra Fria. Segundo este documento, actualmente desclassificado, dada a sua natureza a URSS visava estender o comunismo ao mundo inteiro. Ora, ela conseguiria provavelmente dotar-se da arma nuclear dentro de quatro anos e não de coibiria, portanto, de a utilizar para destruir o seu adversário principal: a terra da liberdade, ou seja os Estados Unidos da América. As duas superpotências estavam condenadas a prosseguirem um duelo de titãs, que terminaria com o triunfo do capitalismo e o reino da prosperidade sobre a terra, ou então com a queda do género humano nas trevas do comunismo.
A NSC 68 vinha acompanhada de uma dezena de anexos distintos, nos quais se declinavam todos os programas de resposta, a nivel militar, civil,económico, etc. Infelizmente, o povo americano, entregue às alegrias da paz reencontrada, não tinha consciência do perigo crescente, não estando pronto a embrenhar-se numa nova guerra para salvar o mundo. Truman tinha de convencer os seus concidadãos da urgência do perigo para os levar a admitir os sacrifícios, designadamente em termos de orçamento e de reforma administrativa. Obteve-se a colaboração de um dos patrões da stay-behind, Edward W. Barrett, então director do Gabinete de Estratégia Psicológica (Interdepartmental Psychological Strategy Board – IPSB) e editor de secção na Newsweek. Ele organizou uma operação de manipulação para inverter a opinião pública interna. Uma associação, que se apresentava como sendo um grupo apolitico de cidadãos atentos da Costa Leste, o Comité sobre o Perigo Presente (Committee on the Present Danger – CPD), lançou nos meios de comunicação americanos uma campanha em prol do reforço urgente da defesa nacional. Entre os animadores do comité encontravam-se Frank Altschul (director do Conselho para as Relações Externas), William Donovan (ex-patrão dos serviços secretos durante a Guerra Mundial) e o general Dwight D. Eisenhower. O impacto do comité foi tal que um consenso nacional permitiu a Truman triplicar subitamente o orçamento militar e tornar publica a politica do “containment”, ou seja, de um cordão sanitário para conter a URSS.
Truman ordenou a realização dos projectos de arsenal espacial (Orbiter e Jupiter). Foi criada em Redstone (Alabama) uma Agência do Exército para os Misseis Balisticos (Army Ballistic Missile Agency – ABMA), confiada ao ex-SS Wernher von Braun. Em Cape Canaveral (Florida) foi construida uma base de lançamento, colocada sob a direcção do ex-SS Kurt Debus. A Marinha e a Força Aérea foram igualmente solicitadas, tendo sido postos à sua disposição outros cientistas nazis. O projecto futurista de um exército do espaço transformou-se na obscessão dos ideólogos da Guerra-Fria. O seu fito explicito consistia em assegurar o dominio militar dos Estados Unidos sobre todo o planeta para salvar a humanidade do comunismo.
(continua)
quinta-feira, abril 06, 2006
para Angola, rápidamente e em força (outra vez)
1/3 dos empresários que perfazem o PIB português rumaram a Angola com a previsivel intenção de implementarem os negócios decididos por quem manda na nossa parceria atlântica de que fomos aliados indefectiveis aquando da celebração do Acordo das Lages e da “Operação Liberdade Duradoira”. Ao envolvimento nas politicas internas de outro país, antigamente chamava-se neocolonialismo. Agora chama-se ingerência, roubo e usurpação – ou seja, não há aqui nada de novo, usam-se os mesmos processos de colonização utilizados no século XVI aquando da nossa chegada como conquistadores - comerciamos com os Sobas locais do litoral onde acostavam as caravelas e esses negros já então ricos, os mais espertos, se encarregam de escravizar os seus irmãos entregando-os por gerações nas mãos dos novos negreiros. Assim é, no essencial, embora esta segunda vaga colonial traga algumas novidades, não no conteúdo, mas na forma.
As ligações nos negócios é impossivel sem dialogar (leia-se: combinar as percentagens de luvas) com os nomes relacionados com o Poder Politico e o Regime que vão até ao mais alto nivel da hierarquia desde familiares do presidente José Eduardo dos Santos, a Generais, Ministros, ex-Ministros, e toda uma arraia menor de funcionários Superiores que orbita o Poder, a malta dos “esquemas e da Gasosa”, diz-se em dialecto local – nomeando os figurões que pululam nos seus carros de luxo topo-de-gama numa Luanda ainda devastada, pelo meio das latas apodrecidas da população e dos enxames de crianças andrajosas de barrigas inchadas por não comerem. Excepto nas marcas dos bólides, guiados por pretos (bastantes) em vez de brancos (poucos), o panorama não mudou nada, desde que quatro décadas atrás os nossos soldados que rumavam para se perder na guerra Colonial percorriam a via sacra desde o desembarque no porto de Luanda onde eram carregados em vagões de mercadorias a caminho do campo militar do Grafanil, antes de serem expedidos para as matas do interior. Os mais velhos lembram-se desse percurso dramático através da linha férrea que passava pelos enormes e compactos musseques dos subúrbios, e da estupefacção ao ver o comboio ser perseguido por centenas de crianças negras seminuas implorando esmolas e comida das rações de combate; “tostão, tostão, Senhor!” - jamais os jovens soldados rápidamente transformados em combatentes à força esquecerão esses gritos da tragédia humana que, desde que empreendemos a “ajuda” aos nativos, se desenrola em África.
Óbviamente que as lógicas dos negócios e das guerras não se compadecem com práticas nem com revivalismos bondosos. Por (co)reincidência uma das figuras de proa da presente comitiva é Luis Amado, o ministro da Defesa que assim nos passa novamente para o ataque, (“Treino para a Paz”, diz ele) não já orgulhosamente sós como antigamente, mas apadrinhados por quem na altura via na nossa presença empecilhos à exploração das riquezas petrolíferas (e outras) da então Colónia. É conhecido que os Estados Unidos financiaram os movimentos de Libertação pró-ocidentais em Angola numa remake africana da guerra-fria contra o Comunismo. Depois da panelinha combinada com as autoridades militares de Luanda, Amado seguiu para Kinshasa como enviado especial da “NATO Response Force” preparando o terreno para interferir no resultado das primeiras eleições que se vão efectuar no Congo desde 1961. O principio da aventura militar portuguesa em Angola que asssenta que nem uma luva na estratégia militar de Dos Santos. Não há-de faltar muito para vermos uma intervenção de Angola no Congo com apoio da Nato e da UE. (Programa de Apoio às Missões de Paz em África (PAMPA) à revelia da verdadeira força de Paz estacionada naquele país sob a égide da ONU. Luís Amado na tarde do dia antes de partir teve o seu primeiro encontro de trabalho com o Presidente da República, Cavaco Silva, no Palácio de Belém. O Presidente é o Comandante Supremo das Forças Armadas; mais uma vez o Petróleo continua a ser um bem essencial cuja defesa não se compadece com os interesses dos povos. Quantos sacrificios, miséria e vidas custa cada tonelada de carbono queimada para a atmosfera pela nossa brilhante civilização do homus automobilis?
(recorte do jornal Público de hoje, sem link)
O que é que se dizia das Forças Armadas nos tempos do salazarismo? - que eram um Estado dentro de outro Estado! - que agora, depois de convenientemente mercenarizadas embarcam em novas aventuras, extravasando para fora do Estado,,, mais uma vez com consequências imprevisiveis.
Oficialmente Luís Amado defendeu "que Angola, pela sua experiência, tem muito a dar a nível mundial em questões de segurança e defesa neste momento de globalização. Angola resolveu o seu conflito militar interno de forma exemplar e tem sido bastante útil na resolução de forma pacífica de vários problemas militares no continente africano e as suas experiências são bastantes importantes para o mundo, reconheceu o ministro português"; mas esqueceu-se muito convenientemente de referir que esse know-how militar foi inteiramente fornecido por Israel, incluindo os próprios pilotos da Força Aérea dotados da mesma tecnologia GPS com que estes abatem com misseis os alvos palestinianos - de forma igual à usada para eliminar a oposição democrática que concorreu às eleições em Angola em 1992. Exemplar, como disse o "nosso" ministro.
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(Continua)
Não perca o próximo capitulo, dedicado às parcerias de negócios - branco no preto e preto no branco - a sorte protegerá a audácia das transparências!?
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