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A democracia está refém de muitos medos quando pouco mais faltam do que uma vintena de dias para as comemorações do 32º aniversário do 25 de Abril. É o medo de falar e exprimir em público uma opinião que seja dissonante dos poderes e interesses estabelecidos. É o medo de que alguém pressinta afinidades públicas indesejadas com alguém ou alguma instituição estigmatizada como proscrita. É o medo do desemprego e da exclusão. É, enfim, o medo de existir na vida de forma diferenciada da que é declarada como socialmente correcta. Os portugueses têm medo da mudança e do futuro. Têm medo do conflito. É um medo interiorizado e não assumido. Um medo com que convivem na sua esfera privada, na sua intimidade. Um medo que acaba por ser mais efectivo e redutor da liberdade de determinação individual do que o
medo experimentado nos tempos da ditadura, em que apesar de tudo as solidariedades identitárias conferiam força ao ser, ao estar e ao agir.
É a incivilidade que ganha campo aos direitos de cidadania. Os diferentes poderes — dos políticos e económicos aos das corporações de toda a sorte de matizes —
determinam a quem é concedida carta de alforria. Implantou-se um clientelismo tutelar que distribui benesses e mordomias a quem presta vassalagem. Não há mérito em muitas das escolhas que promovem à administração da coisa pública as clientelas que se enfileiram nas hostes fiéis. Falam com uma soberba inversamente proporcional à sua escassa competência humana, técnica, cultural e política. Estão no lugar como correia de transmissão das ordens de que os incumbem. Sem tugir. Daí que tudo o que seja cultura lhes cause náuseas e dores de cabeça”.
(Orlando César, em editorial no Noticias da Amadora)
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Estados Fracassados: O Abuso de Poder e a Agressão à Democracia:
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