Corria ano de 1969 e um jovem Henrique Neto apresentava-se como candidato da Oposição Democrática pelo distrito de Leiria, nas eleições legislativas. Um ano antes, o candidato saíra de uma reunião política do movimento na região com a responsabilidade de levar ideias de mudança de regime junto da população do concelho mais isolado e rural do distrito, Pedrógão Grande. Eu e outros jovens passámos a fazer disso uma missão, relembra. Durante os meses seguintes, até às eleições, o grupo passou quase todos os fins-de-semana naquele concelho. De freguesia em freguesia, falaram com as pessoas, organizaram colóquios, distribuíram folhetos no final da missa de Domingo, visitaram cafés, tentaram influenciar aqueles que poderiam estar mais abertos à mudança, como os professores e os médicos. O trabalho corria bem, mas os sinais iam aparecendo: um dia descobriam que os folhetos entregues no final da missa estavam a ser religiosamente queimados numa paragem de reparação de automóveis. “As pessoas recebiam os papéis e depois iam entregá-los ao senhor da garagem para mostra a sua fidelidade ao regime e ao cacique local, explica. Ainda assim, e apesar de na sombra sempre bem recebido por onde passou. Foi um ano intenso de promoção daquilo que pensávamos ser uma coisa óbvia, a ideia de liberdade e de mudança, afirma. Chegou o dia das eleições e o resultado no concelho foi claro: cerca de 930 votos para um lado e três para o outro, o da Oposição Democrática. Se pensar que um desses votos era meu e o outro da minha mulher, vê aí o resultado de um ano de trabalho, ironiza. Da desilusão saiu a lição. Aprendi que não é a partir do exterior das organizações humanas, sejam elas uma freguesia ou uma empresa, que se conseguem mudanças profundas. Para transformar é preciso contar com quem esta no terreno, fazer alianças e não implantes, sublinha o empresário. Tudo isto porque, afinal, ter razão, só por si, não chega.
publicado no suplemento DiaD do DN
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