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segunda-feira, abril 17, 2006

Numa altura em que 6 generais pedem a cabeça do Secretário de Estado norte-americano como bode-expiatório dos fracassos meio-programados no Iraque, interessa rever a história, e concluir que a questão não se põe em substituir uma besta por outro animal qualquer. Embora seja de tal gravidade que se torne imperativo o julgamento deste facínora num tribunal internacional, a grande questão é mesmo a de que não é de julgar um assassino que se trata. É todo um sistema politico que está em causa e deve, de Nixon a Clinton, de Reagan a Bush, tambem ele ser julgado.

É conhecido o secretário para a Defesa, aquele que hoje tem de prestar contas pelas torturas no Iraque. Mas para compreender o personagem - e as actuais derivas do Pentágono -, é preciso mergulhar nos arquivos da Bolsa norte-americana. É aí que se descobre uma espantosa carreira de homem de negócios, feita de ligações perigosas entre o público e o privado.
Desta vez (em 2004), Donald Rumsfeld perdeu o seu sorrisinho de sacana. Ouvido a 7 de Maio pelo Senado norte-americano, o secretário para a Defesa da administração Bush teve de reconhecer a sua "responsabilidade" nas humilhações e torturas infligidas aos detidos na prisão de Abou Ghraib. Mas o chefe dos falcões que reina no Pentágono não se demitiu. Não hesitando em desculpar-se com o seu estado-maior, o inflexível "Rummie" escudou-se nas suas convicções. Não é para admirar, já que este diplomado por Princeton, que ciranda por Washington há 40 anos, é um dos pilares do campo ultraconservador. Ele é a encarnação, até à caricatura, desta doutrina: moralismo belicoso em política e ultraliberalismo na economia. Com os seus derivativos: a começar pela confusão entre a gestão dos assuntos do Estado e o negócio privado.

Desde os seus começos na esteira do presidente Nixon, no fim dos anos de 1960, Rumsfeld prossegue uma dupla carreira: o homem político esconde um homem de negócios. É o segredo de "Don" que os meios de comunicação americanos, ocupados em incensar o cabo-de-guerra que tomou o comando após os atentados de 11 de Setembro, evocam apenas por meias palavras. Um estranho tabu, visto que um exame minucioso à declaração de patrimônio entregue pelo secretário para a Defesa quando da sua tomada de posse em 2000 (um calhamaço de 50 páginas!) permite constatar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de fila de uma rede que navega, há 40 anos, entre os conselhos de administração da "corporate America" e os gabinetes governamentais. Os arquivos da SEC (a polícia da Bolsa americana) e o estudo dos documentos desclassificados da administração mostram, igualmente, que Rumsfeld e os seus são peritos no manejo das "revolving doors", essas portas giratórias que permitem efectuar frutuosas idas e voltas entre o privado e o público. Ao obter modificações às leis ou influenciando nas decisões da administração em nome de métodos e comportamentos próprios do mundo dos negócios, Rumsfeld e os republicanos de extrema direita o que fazem muitas vezes é satisfazer o seu apetite financeiro. Da limpeza das fardas à formação dos polícias iraquianos, da alimentação dos GI à recolha de informações, raras são as funções militares, com excepções da guerra propriamente dita, que não foram entregues a empresas subcontratadas. E raras são também as empresas que não contam no seu conselho de administração com algumas eminentes figuras ultraconservadoras. O último exemplo conhecido: segundo um inquérito interno conduzido pelo exército norte-americano, o Pentágono chegou ao ponto de contratar uma empresa privada - Caci International - para os interrogatórios dos presos de Abou Ghraib. Entre os administradores da Caci encontra-se o general Larry Welch, antigo comandante da US Air Force e velho conhecido de Donald Rumsfeld. Em Março de 2003, tinha-o designado para fazer a avaliação de um plano de armamento futurista, dotado de um orçamento de 15 biliões de dólares e de que a Caci International é hoje um dos principais beneficiários. O facto do general Welch, auditor "independente" de um programa governamental, ser também o administrador de uma companhia que lucra com este programa não parece chocar o Sr. Rumsfeld. O que sabemos menos é que estas ligações perigosas pontuaram toda a sua carreira.
Leia aqui o resto da história, desde os tempos em que Rumsfeld se iniciou como um dos Nixon`s Boys

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