Algures num país insignificante houve uma vez um homem importante que concorria a um cargo importante. Como a maioria dos seus concidadãos, por estranhos hábitos ancestrais, valia-se das pequenas espertezas para se safar na porca da vida. Desenrascava-se, vindo-lhe por inerência da importância adquirida a obrigação de desenrascar o núcleo duro dos seus amigos; uma mão lava a outra, todos deviam favores, quase nunca limpos, uns aos outros. Apanhado em falta, o fulano mais importante, porque concorria ao tal cargo importante, não apresentou provas da sua pública lisura, não valia a pena, pensou, vou adiante assim mesmo, quero testar o estado de bovinidade dos meus fiéis súbditos. Assim foi, a maioria cagou-se para o assunto, mas os indefectíveis admiradores de esfinges ocorreram pressurosos para evitar que o tal homem importante caísse da mais alta magistratura abaixo. Consumado o acto, nesse dia houve festa e discursos rancorosos sobre a honorabilidade das bestas que haviam duvidado de sua excelência. Assente a poeira por mais alguns dias, o candidato que concorria ao cargo mandou o recado pelo mesmíssimo fulano que já estava eleito no cargo: os papéis apareceram! Persistiam as dúvidas, mas apenas meia-dúzia de basbaques esquerdistas se lembrava: se o homem tinha os documentos porque não os havia mostrado logo? Uma gaivota que por ali voava (voava baixinho, passado décadas tinha-se transformado em drone) registou a marosca: o eleito chamou o chefe de serviços. Olha vais ali e pedes ao chefe fulano de tal isto assim assim. De caminho passas ali pela minha secretaria civil e levas um cheque de 8.133 euros – tarde demais, a bronca estava outra vez nos jornais: ao objecto da esperteza fora atribuído pelo compincha fiscal um imposto sobre 252 metros quadrados (fora a área das massas que não haviam sido medidas antes no off-shore). Mas, confrontado o objecto real com o projecto meio taxado, este afinal mede 464 m2, quase o dobro do imposto a pagar. Faltam novos papéis.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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quarta-feira, fevereiro 02, 2011
A história do homem que era sério mas não queria que se soubesse
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