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sexta-feira, fevereiro 04, 2011

4 de Fevereiro, a génese da perpétua ditadura

Não sendo o direito de conquista um direito, não pode fundamentar nenhum outro, ficando o conquistador e os povos conquistados em permanente estado de guerra entre si, a menos que a nação, reposta em plena liberdade, escolhesse voluntariamente o seu vencedor como chefe. Até então (…) não pode haver nessa hipótese nem verdadeira sociedade, nem corpo politico, nem outra lei senão a do mais forte
(Jean Jacques Rousseau, “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens)

Testemunhas da época, dizem que ao pé do que passou no 27 de Maio de 1977 em Luanda, os torcionários do Chile de Pinochet foram uns meninos de coro; dezenas de bairros inteiros suspeitos de albergarem simpatizantes do movimento de Nito Alves e José Van Dunen foram arrasados a blindados e buldozer de madrugada com pessoas que dormiam lá dentro - entulho e cadáveres foram espalhados por valas; os sobreviventes perseguidos e abatidos a tiro; alguns mais importantes foram presos e torturados pela policia politica do MPLA (a DISA então tutelada por Artur Carlos Pestana, vulgo "Pepetela"). Não perderemos tempo com julgamentos, teria dito Agostinho Neto. Estima-se que nesse dia foram assassinadas mais de 60 mil pessoas. E no entanto, a "comunidade internacional ocidental" não é lá muito lesta a pôr no index crimes contra a humanidade quando se trata de regimes subservientes e amigos...

O historiador Carlos Pacheco desmonta o processo inquinado da descolonização,,, de como Agostinho Neto nunca poderia ser considerado Marxista (foi libertado da prisão em Lisboa por obra e graça dos serviços secretos norte americanos para assumir a liderança da revolta em Angola contra o decrépito regime colonialista de Salazar), das contradições insanáveis entre os três movimentos guerrilheiros angolanos (embrião da futura guerra civil),,, da estreita colaboração entre a direita portuguesa e os Estados Unidos na ajuda ao MPLA para aniquilar os outros dois partidos,,, da herança do pior de dois mundos, o modelo da decadente e pouco democrática URSS (pós XXCongresso) conjugado com o capitalismo selvagem norte-americano. Enfim, dos implacáveis pogroms sobre os adversários politicos na conquista do poder do qual emerge o sempiterno camarada Zedu e a sua clique

A dor, como recorda o escritor argentino Ernesto Sabato, é também um património dos povos [...], um valioso e sagrado património a que cabe ser fiel”. Seguir, portanto, na esteira dos que entoam hinos ao esquecimento é negar a dor e a história dos desaparecidos e sobreviventes, é contribuir para que o 27 de Maio se venha a deformar totalmente e o seu herói acabe por ser, exactamente como n`O Processo de Kafka, o olvido “[...] cujo principal atributo é esquecer-se a si mesmo”. Não me parece que esta última fórmula auspicie a tranquilidade do país. O que chamam de paz, embrulhada no manto do perdão, não é mais do que o rosto granítico do silêncio e da cobardia, junto com a incapacidade de assumir a memória desse passado traumático produzido por poderes públicos deliquentes. Só abrindo o livro da verdade e da justiça se apagarão as nódoas do horror e da vergonha que cobrem o Estado angolano”
(Carlos Pacheco, “Angola, um gigante com pés de barro e outras reflexões sobre África e o mundo”, Edições Vega, 2010)
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4 comentários:

Anónimo disse...

O sensível Pepetela,escritor que vi em Benguela e,q era tabu falar do 27 de Maio.Estive várias vezes a dormir no prédio do 27 de Maio e apesar de serem do contra jamais ouvi dizer de prédios esmagados.Houve muita repressão,Zita Vale,Van Dunen,Nito Alves eram pró-soviéticos e o MPLA deveria ser uma excrecência da cIA já q os seus dirigentes eram/são uma cambada de corruptos.Do Lúcio Lara e sua mulher,ouvi respeito,um ser limpo na turbulência das hienas.Ele é mulato e,sua mulher judia alemã.Conheço pessoas q conviveram com eles...

Anónimo disse...

Nunca percebi a posição do PCP.Não há silêncios,há a frontalidade e dizer os bois pelos nomes-aquele partido,é um poço de ladrões da pior espécie,tal e qual como o do racista savimbi e apoiado pelo traficante de armas mário soares,senhor repulsivo como se pode ver agora pelas eleiçõe s e do palhaço fascista salsichas nobre(vai para a puta q te pariu,cabrão de merda,a mim não me enganas!A espuma brotada pelos cantos do teu focinho não enganam,assim como pela deferência pelo cavaco,o do BPN,BPP e toadas as ignomínias).
Acredito,q ue só uma vanguarda esclarecida pode levar a mole a tomar o Poder,esmagar os criminosos sem dó nem piedade, e construir um novo paradigma em que não haja joguinhos duplos pela participação na 'coisa pública'.Mas,antes há q tratar dos bandidos à velha maneira de Djugashvili q mesmo assim,como vemos hoje,foi um anjinho...

Anónimo disse...

eu agora na minha ronda de amizades, travei-me de conhecimentos com um dos generais da elite do Santos, um dos principais na caça e abate do jonas, (não me deu a certeza, mas...). está a viver aqui no seixal, num belo empreendimento, com um fantástico BMW 750 na garagem, de Março a Setembro todos os anos, é vê-lo a passear o seu belo chapéu de palha imitando um velho colonialista, carteira desafogada, f.d.s. sim, f.d.s. não, aí vai ele de malas aviadas até à cidade das luzes.
ahh... se eu pudesse contar aqui as histórias que ele me conta.
e o povinho angolano, tanta fomeca vai passando.

xatoo disse...

Anónimo da 1.53
não foram prédios, foram musseques inteiros que foram limpos como castelos de cartas