“
Não sendo o direito de conquista um direito, não pode fundamentar nenhum outro, ficando o conquistador e os povos conquistados em permanente estado de guerra entre si,
a menos que a nação, reposta em plena liberdade, escolhesse voluntariamente o seu vencedor como chefe. Até então (…) não pode haver nessa hipótese nem verdadeira sociedade, nem corpo politico,
nem outra lei senão a do mais forte”
(Jean Jacques Rousseau, “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens)
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Testemunhas da época, dizem que ao pé do que passou no 27 de Maio de 1977 em Luanda, os torcionários do Chile de Pinochet foram uns meninos de coro; dezenas de bairros inteiros suspeitos de albergarem simpatizantes do movimento de Nito Alves e José Van Dunen foram arrasados a blindados e buldozer de madrugada com pessoas que dormiam lá dentro - entulho e cadáveres foram espalhados por valas; os sobreviventes perseguidos e abatidos a tiro; alguns mais importantes foram presos e torturados pela policia politica do MPLA (a DISA então tutelada por
Artur Carlos Pestana, vulgo "Pepetela"). Não perderemos tempo com julgamentos, teria dito Agostinho Neto. Estima-se que nesse dia foram assassinadas mais de 60 mil pessoas. E no entanto, a "comunidade internacional ocidental" não é lá muito lesta a pôr no index crimes contra a humanidade quando se trata de regimes subservientes e amigos...
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O historiador Carlos Pacheco desmonta o processo inquinado da descolonização,,, de como Agostinho Neto nunca poderia ser considerado Marxista (foi libertado da prisão em Lisboa por obra e graça dos serviços secretos norte americanos para assumir a liderança da revolta em Angola contra o decrépito regime colonialista de Salazar), das
contradições insanáveis entre os três movimentos guerrilheiros angolanos (embrião da futura guerra civil),,, da estreita colaboração entre a direita portuguesa e os Estados Unidos na ajuda ao MPLA para aniquilar os outros dois partidos,,, da herança do pior de dois mundos, o modelo da decadente e pouco democrática URSS (pós XXCongresso) conjugado com o capitalismo selvagem norte-americano. Enfim, dos
implacáveis pogroms sobre os adversários politicos na conquista do poder do qual emerge
o sempiterno camarada Zedu e a sua clique“
A dor, como recorda o escritor argentino Ernesto Sabato,
é também um património dos povos [...], um valioso e sagrado património a que cabe ser fiel”. Seguir, portanto, na esteira dos que entoam hinos ao esquecimento é negar a dor e a história dos desaparecidos e sobreviventes, é contribuir para que o 27 de Maio se venha a deformar totalmente e o seu herói acabe por ser, exactamente como n`O Processo de Kafka,
o olvido “[...]
cujo principal atributo é esquecer-se a si mesmo”. Não me parece que esta última fórmula auspicie a tranquilidade do país. O que chamam de paz, embrulhada no manto do perdão, não é mais do que o rosto granítico do silêncio e da cobardia, junto com a incapacidade de assumir a memória desse passado traumático produzido por poderes públicos deliquentes. Só abrindo o livro da verdade e da justiça se apagarão as nódoas do horror e da vergonha que cobrem o Estado angolano”
(
Carlos Pacheco, “
Angola, um gigante com pés de barro e outras reflexões sobre África e o mundo”, Edições Vega, 2010)
.
4 comentários:
O sensível Pepetela,escritor que vi em Benguela e,q era tabu falar do 27 de Maio.Estive várias vezes a dormir no prédio do 27 de Maio e apesar de serem do contra jamais ouvi dizer de prédios esmagados.Houve muita repressão,Zita Vale,Van Dunen,Nito Alves eram pró-soviéticos e o MPLA deveria ser uma excrecência da cIA já q os seus dirigentes eram/são uma cambada de corruptos.Do Lúcio Lara e sua mulher,ouvi respeito,um ser limpo na turbulência das hienas.Ele é mulato e,sua mulher judia alemã.Conheço pessoas q conviveram com eles...
Nunca percebi a posição do PCP.Não há silêncios,há a frontalidade e dizer os bois pelos nomes-aquele partido,é um poço de ladrões da pior espécie,tal e qual como o do racista savimbi e apoiado pelo traficante de armas mário soares,senhor repulsivo como se pode ver agora pelas eleiçõe s e do palhaço fascista salsichas nobre(vai para a puta q te pariu,cabrão de merda,a mim não me enganas!A espuma brotada pelos cantos do teu focinho não enganam,assim como pela deferência pelo cavaco,o do BPN,BPP e toadas as ignomínias).
Acredito,q ue só uma vanguarda esclarecida pode levar a mole a tomar o Poder,esmagar os criminosos sem dó nem piedade, e construir um novo paradigma em que não haja joguinhos duplos pela participação na 'coisa pública'.Mas,antes há q tratar dos bandidos à velha maneira de Djugashvili q mesmo assim,como vemos hoje,foi um anjinho...
eu agora na minha ronda de amizades, travei-me de conhecimentos com um dos generais da elite do Santos, um dos principais na caça e abate do jonas, (não me deu a certeza, mas...). está a viver aqui no seixal, num belo empreendimento, com um fantástico BMW 750 na garagem, de Março a Setembro todos os anos, é vê-lo a passear o seu belo chapéu de palha imitando um velho colonialista, carteira desafogada, f.d.s. sim, f.d.s. não, aí vai ele de malas aviadas até à cidade das luzes.
ahh... se eu pudesse contar aqui as histórias que ele me conta.
e o povinho angolano, tanta fomeca vai passando.
Anónimo da 1.53
não foram prédios, foram musseques inteiros que foram limpos como castelos de cartas
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