Pesquisar neste blogue

segunda-feira, dezembro 26, 2011

nasceu o Menino... vai-lhe valer deus?

(Gustave Courbet, "L'Origin du monde")
... depois nasceram muitos meninos, aqui hoje nascem cada vez menos meninos - a actual proposta (imposta) de sociedade capitalista fez do simples acto de nascer uma aposta num investimento - espreitando para o Principio do Mundo está na hora de declarar a morte definitiva do pai da criança desprovida de capital social à nascença - essa entidade abstracta pulha que tem dado pelo nome de Deus.
Pensamento medieval

“Disse para comigo que o mundo era bom e admirável. Que a bondade de Deus se manifesta até nos animais mais horríveis, como explica Honório Augustoduniense. É verdade, há serpentes tão grandes que devoram os cercos e nadam através dos oceanos, há a besta cenocroca, de corpo de burro, cornos de cabra montesa, peito e fauces de leão, pé de cavalo mas fendido como o do boi, um corte na boca que chega até às orelhas, a voz quase humana e no lugar dos dentes um único sólido osso. E há a besta mantícora, de rosto de homem, uma tripla ordem de dentes, corpo de leão, cauda de escorpião, olhos glaucos, cor de sangue e voz semelhante ao sibilo das serpentes, ávida de carne humana.

E há monstros de oito dedos em cada pé, e focinhos de lobo, unhas aduncas, pele de ovelha e latido de cão, que se tornam negros em vez de brancos com a velhice, e excedem em muito a nossa idade. E há criaturas com olhos nos ombros e dois furos no peito em vez de narinas, porque lhes falta a cabeça, e outras ainda habitam ao longo do rio Ganges, que vivendo só do odor de um certo pomo, e morrem quando se afastam dele. Mas mesmo todas estas bestas imundas cantam na sua variedade os louvores do Criador e a sua sabedoria, como o cão, o boi, a ovelha, o cordeiro e o lince. Como é grande, disse então para comigo, repetindo as palavras de Vicente Belovacense, a mais humilde beleza deste mundo, e como é agradável aos olhos da razão considerar atentamente não só os modos e os números e as ordens das coisas, tão decorosamente estabelecidos por todo o universo, mas também o volver dos tempos que incessantemente se enovelam através de sucessões e quedas, marcados pela morte daquilo que nasceu. Confesso, como pecador que sou, com a alma ainda há pouco prisioneira da carne, que fui movido então por espiritual doçura para com o criador e a regra deste mundo, e admirei com jubilosa veneração a grandeza da criação (…) depois da frase em alfabeto zodiacal (secretum finis Africae manus supra idolum age septimum de quatuor) eis o que dizia o texto grego: …” (Umberto Eco, o Nome da Rosa)

Pensamento contemporâneo

"o termo "partícula de deus" foi cunhado, em 1993, num livro de divulgação popular de ciência escrito pelo físico Leon Lederman, o qual, com notável olho para o negócio editorial, compreendeu que o título dado ao livro:”A Partícula de Deus: se o universo é a resposta, então qual é a pergunta”, venderia muito mais exemplares que o título que respeitasse a verdade: "O bosão de Higgs: se o universo é a resposta, então qual é a pergunta”. O que é que o bosão de Higgs tem a ver com Deus? Absolutamente nada. Peter Higgs, quando se apercebeu que o bosão de que havia evidência matemática e andava à procura tinha recebido aquele cognome teísta de "a partícula de deus", não gostou nada da brincadeira e não deixou de protestar: “acho-o embaraçoso, porque embora eu não seja um crente, penso que se trata daquele tipo de uso de terminologia incorrecta que poderá ofender algumas pessoas" (...)nunca ocorreu aos papagaios da notícia a lógica conclusão de que, se uns quantos andavam de cócoras à cata da partícula de Deus, então todas as outras partículas, já encontradas, teriam de ser partículas de Satanás (...) No Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN), instalado na fronteira franco-suíça, perto de Genebra, decorrem duas séries de experiências no Grande Colisor de Partículas, denominadas ATLAS e CMS (...) Deixem Deus em paz, para os que são religiosos; expliquem-lhes, de passagem, a natureza e a beleza do bosão de Higgs, que está prestes a ser apanhado por notáveis homens e mulheres de ciência dentro de um túnel nas fraldas dos Alpes. (daqui)

... e aqui vamos nós de novo: algum empresário se lembra que nasceu o menino em Belém, tocam os anjos na terra, é Natal no Royal Albert Hall



enquanto em Belém está uma fila danada entre o muro e o arame farpado no controlo israelita para entrar e sair de casa para ir ou voltar do trabalho
.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ena pá.Ganda bigodaça!