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Ensaio sobre Socialismo, Gavetas e Dinheiro

Mário Soares anda por aí por tudo que é canto a afirmar "eu não estou gá-gá". Quer dizer, não lhe parece que esteja. Mas nota-se que está e os resultados estão à vista. No ensaio em que se assume como o misto de velhaco, fanfarrão e meretriz ideológica que sempre foi, diz (pp220) : "desde o principio que achei que a revolução dos cravos devia ser uma uma revolução democrática de tipo ocidental" (na gaveta)..."percebi o cenário onde Cunhal estava entre um soldado e um marinheiro, em cima de um tanque, algo que lembrava Lenine no seu regresso a Moscovo" - a cena não mudou de sitio, a estátua de Lenine lá permanece no mesmo local onde ele chegou à Rússia a 3 de Abril de 1917: na estação ferroviária de Finlyandsky Vokzal em Petrogrado, actual São Petersburgo, e não em Moscovo (pp183). Contudo a boutade mais pândega de Soares é sobre a solução da crise de falência que paira sobre o Euro, citando: "Se o dinheiro não chega tem de se pôr as rotativas a funcionar e fazê-lo... se a Reserva Federal na América o faz, o Banco Central do Japão o faz... porque se há-de recusar o Banco Central Europeu a fazê-lo?" - bem que Soares podia perguntar ao seu correlegionário Vitor Constâncio o porquê do BCE não ter autonomia para tal. Acredite Doutor que seria a primeira vez, se por uma vez resolvesse ser honesto, que não lhe iam publicar uma opinação.

Breve explicação do porquê da personagem ser velhaca: Mário Soares andou e anda uma vida inteira a tentar insinuar que o que acontece aqui ou acolá é obra desta ou daquela pessoa, sem nunca mencionar que tudo depende de uma estrutura de instituições em rede que desde há décadas está organizada. Em beneficio de quê?

Que quer dizer Merkel quando a traduzem para o mundo inteiro (1) citando que “o BCE deve manter-se independente”? (“European Central Bank must remain independent to maintain trust”); é que a lingua inglesa é simples, prática e meta iptata, traiçoeira: a palavra Trust significa “Confiança” mas quer dizer igualmente “Monopólio”. Confiança no capitalismo já foi chão que deu uvas, mas devemos reconhecer que os Monopólios (do grego monos, sozinho + polein vender) existem, quando uma pessoa ou um grupo organizado empresarialmente se converte no único fornecedor de determinada mercadoria. No caso do BCE a mercadoria que vende é dinheiro. Mas se não o produz, ou produz em quantidades insuficientes para medir o parasitismo burguês (como se queixa Mário Soares), a quem “compra” o BCE o dinheiro já feito?

A Crise na Europa foi provocada (com a cumplicidade do BCE) para tentar resolver a Crise nos Estados Unidos

São conhecidas as relações entre as Corporações financeiras, Wall Street e os Governos como “reguladores” dessa actividade, que coloca milhões na pobreza enquanto engorda uma família restrita de banqueiros (2) – quaisquer um destes 3 monopólios são constituídos por bandos de corruptos – e milhares de pessoas estão a ser presas diariamente por o afirmarem bem alto nas ruas. Desde que Barack Obama tomou posse como presidente, a dívida dos Estados Unidos cresceu em 41,5% (mais 4,4 Triliões), ou seja, passou de 10,626,877,048,913 dólares para 15,033,607,255,920 dólares em 20 de Janeiro de 2011 (actualizado neste relógio, neste momento ultrapassa já os 15,194 Triliões). É perturbante dizê-lo, mas a emissão dos títulos tóxicos tristemente célebres desde 2008, não diminiu (3), apesar desse lixo ter estado a ser limpo (conjugando-o com emissões gigantescas de tarp-money desde W. Bush) exportando-o e indexando-o como dívida dos Estados-vassalos a pagar pelos contribuintes. Antes pelo contrário, nos primeiros 6 meses de 2011 a emissão fraudulenta de derivados somava em Junho um valor estimado de 708 Triliões (quando em Dezembro de 2010 era de 601 Triliões), quer dizer, com o agravamento da crise, os Banksters incrementaram o fabrico de derivados financeiros em 107 Triliões!

As garantias bancárias dos Estados Unidos sobre a Europa cifram-se entre 80,7 biliões e os 518 biliões de dólares, de acordo com o BIS (How US Banks Are Lying About Their European Exposure) – o que significa que cada empréstimo da FED à Europa via FMI, BM, FEEF, BCE (4) ou anteriormente a qualquer outra entidade em qualquer outro lugar) funciona na prática como uma transferência de dinheiro para ajudar a capitalizar os bancos privados que emitem lixo financeiro (5). A recente “ajuda” de salvação ao Euro agora anunciada (mais uma) pela FED e o Banco de Inglaterra junto com outros Bancos centrais menores (para disfarçar) é apenas mais uma porta aberta para a entrada de lucros no sistema bancário norte-americano. Uma ajuda como tantas outras de que os quatro maiores bancos têm beneficiado, a saber, o Goldman Sachs, o J.P.Morgan Chase, Citibank e Bank of America, que em conjunto detêm 95% do mercado mundial de emissão de títulos. O novo plano de “bailout” à Europa consta da emissão de mais 7,7 Triliões de dólares até 2013. (6)

E melhor que ninguém que a ex-lider do bordel noticioso da Sonae para explicar o que isso significa: vem no Público de hoje, pp38: “quem defende a emissão generosa de moeda deveria acrescentar que isso comporta o risco de inflação, e que foi graças à inflação que, em 1983/84, num consulado de Mário Soares e num acordo com o FMI, os portugueses perderam abruptamente mais de 10 por cento do poder de compra”. O que não se diz é que as tenebrosas medidas que estão a ser consentidas e até apoiadas actualmente pelos "nossos representantes" do PS-PSD-CDS conduzirão à maior miséria que alguma vez foi decretada para Portugal (7).

(1) Aceitando controlar o esquema imperialista da Divida europeia, a Alemanha financia-se a custo zero (Cinco Dias)
(2) "Crise nos Estados Unidos é obra de terroristas financeiros" (Mark Keiser)
(3) The United States Covered Bond Act of 2011 is designed to allow bundling of any kind of debt including derivatives, into marketable securities guaranteed at full face value by the FDIC (fonte)
(4) Alemanha ganha 9.000 milhões de euros em dois anos com a crise da dívida (Esquerda.net)
(5) (...) montantes tóxicos que os bancos deverão mais cedo ou mais tarde registar como perdas (…) são a causa desta mesma inflação que faz com que tenhamos de trabalhar sempre mais. Cada vez que mais "dinheiro" chega à circulação temos de tentar ganhar mais, se não quisermos empobrecer… Naturalmente, isso será acompanhado de enormes perturbações sociais… cobram Juros sobre o ar. Deste modo os banqueiros podem colocar sempre mais empréstimos em circulação” (Resistir)
(6) Nomi Prins: “The FED’s European “Rescue”: Another back-door US Bank / Goldman bailout?”
(7) É com este pano de fundo que o comissário Durão Barroso foi a Washington receber ordens (Expresso)

concluindo: Obama tem um cão de água português; a Merkel tem um Coelho e a Europa tem uma ninhada de Ratos "socialistas"
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