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Na sua crítica de economia politica Marx demonstrou que a substituição da força de trabalho vivo (humano) pelo emprego da tecnologia diminuiu o “Valor” representado em cada objecto produzido (vulgo mercadorias, nas quais actualmente até o próprio homem é incluido, como p/e na venda de trabalho temporário) e é isso que leva o capitalismo a aumentar permanentemente a produção e a necessitar cada vez menos de mão de obra. É por aqui, e não por teorias revisionistas pós-modernas, pela teoria do Valor (pela dupla natureza dos bens consoante o seu Valor de Uso e o seu Valor de Troca) e pela “Lei da queda tendencial da taxa de lucro” que se pode estudar e entender a relação existente entre a produção económica e o desemprego. A contradição primordial no sistema capitalista é a que existe na fetichisação das mercadorias, produzida pelo lado abstracto do trabalho e pelo seu lado concreto. Estas duas facetas não coexistem pacificamente. “Marx toma o exemplo de um alfaiate de antes da Revolução Industrial. Para fazer uma camisa, e para a produção das matérias primas que utilizava, era talvez necessária uma hora. O “Valor” incorporado na sua camisa era por isso de uma hora. Uma vez introduzidas as máquinas para produzir o tecido e para o coser, será possível fazer dez camisas numa hora, em vez de uma. Aquele (o proprietário burguês) que possui essas máquinas (capital constante) – que simples operários de baixa qualificação fazem funcionar – vai pôr no mercado as camisas assim produzidas a um preço muito mais baixo do que aquele que o alfaiate podia praticar. Com efeito, no momento em que uma máquina permite confeccionar dez camisas numa hora, cada camisa não representa senão um décimo de uma hora de trabalho, ou seja, seis minutos. O seu valor, e finalmente a sua expressão monetária, baixam enormemente.
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O capitalismo não é uma sociedade organizada, baseia-se numa concorrência permanente em que cada agente económico actua apenas por conta própria. Cada proprietário de Capital que introduz uma nova máquina (obtida com capital morto, que mais não é que trabalho vivo acumulado), realiza um lucro maior do que os seus concorrentes, obtendo mais mercadorias dos seus trabalhadores. É por isso inevitável que qualquer nova invenção que economize Trabalho seja efectivamente aplicada. O proprietário que o faz realiza num primeiro momento um lucro extra. No entanto, em breve, os outros capitalistas imitam-no, e um novo nível de Produtividade, mais elevado, vai ser estabelecido. O lucro extra desaparece então até à próxima invenção. Isto quer dizer que, se uma camisa já não “contêm” uma hora de trabalho mas apenas seis minutos, o lucro conseguido por essa camisa vai também diminuir. Supunhamos uma taxa de trabalho excedente, e portanto de lucro, de 10%. Uma camisa cuja produção requer uma hora contém, portanto, seis minutos de trabalho excedente, e um lucro equivalente em termos monetários; mas se só são precisos seis minutos para produzir a camisa, esta não contém senão trinta e seis segundos de trabalho excedente, a fonte de Lucro. O capitalista que introduz uma tecnologia que substitui trabalho vivo realiza no imediato um lucro para si próprio, mas contribui involuntariamente para baixar a taxa de lucro geral. A mesma lógica capitalista que incita à utilização das tecnologias acaba, portanto, por serrar o ramo sobre o qual todo o sistema está assente”
(adaptado de Anselm Jappe, in “Sobre a Balsa de Medusa, Ensaios Acerca da Decomposição do Capitalismo”, pp 72/3)
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